quarta-feira, março 29, 2006

BENFICA!

Este é dedicado ao meu pai, que seguiu as oito finais europeias e que fervorosamente se senta em frente ao ecrã e sofre pelo Glorioso em todos os embates europeus.

Longe estão os tempos em que eu e o meu pai nos orgulhávamos de ir ao velho estádio da Luz, agora remodelado, ver os grandes jogos das quartas-feiras europeias. Ainda sou do tempo de ter visto em campo o Carlos Manuel, o Chalana, Filipovic e o Veloso (nos tempos em que este ainda era novo e até marcava golos de vez em quando). Mais tarde, lembro-me de ver a grande equipa do final da década de ´80 com a defesa Brasileira - ai, que saudades do Moser e do Ricardo - e com o trio sueco a impulsionar o ataque - Jonas Thern, Stefan Schwarz e o inesquecível Matts Magnusson - mais os inolvidáveis Rui Águas, Valdo, Vitor Paneira, Pacheco, e tantos outros nomes que me ficam na memória desses tempos. Esse era o Benfica do Toni e do Sven-Göran Eriksson, o Benfica que ia longe na extinta Taca dos Campeões Europeus e que os adversários temiam encontrar nos sorteios da competicão. Lembro-me que nessa altura os únicos clubes que eu e o meu pai temíamos que o Benfica pudesse encontrar na prova eram os clubes italianos, especialmente o Milão, que se tornou o primeiro clube intocável no ínicio da década de ´90. O resto era trigo limpo para passar em frente. Lembro-me da final táctica de 1988 contra o imbatível PSV-Eindhoven que nessa época lograram levar a Taca da Holanda, o Campeonato Holandês e a Taca dos Clubes Campeões Europeus. O jogo foi extremamente táctico com muito poucas oportunidades de golo e o Benfica acabou por perder a Taca nos penalties com uma oportunidade perdida do Veloso - que infelicidade, depois de um dos seus melhores jogos na sua carreira. Curiosamente, Ronald Koeman era parte desta equipa. Mais tarde lembro-me da final impossível contra o AC Milão, na qual o favoritismo da equipa adversária era tão avassalador (tinha ganho 4-0 contra o Steua de Bucareste no ano anterior), com Frank Rijkaard, Ruud Gullit e Marco Van Basten, Paollo Maldini, Franco Baresi e tantas outras estrelas, que eu e o meu pai apenas esperancávamos por uma derrota honrosa, que veio a acontecer pela diferenca mínima, com um golo de Rijkaard na segunda parte.

Mais tarde foi o grande Benfica que se estreou na nova Liga dos Campeões com o Rui Águas em pico de carreira (jogo funesto aquele contra o Dínamo de Kiev em Kiev na qual ele se lesionou e nunca mais foi o mesmo), Isaías (que grandes jogos que vi gracas a este touro brasileiro - nunca houve uma baliza segura enquanto Isaías estava em campo; os seus remates de meio-campo, muitos para a bancada, é certo, nunca me hão-de sair da memória), e toda a nova geracão que se estreava, Rui Costa, Paulo Sousa, César Brito (dois tiros inesquecíeis nas Antas em 1991 que deram o título mais disputado da história do campeonato português de sempre), e tantos outros. Nesse ano tombarem um gigante, o favorito Arsenal, com uma vitória por 3-1 em Inglaterra (inesquecível golo apertado de Isaías no prolongamento, pressionado por dois defesas ingleses à entrada da área - Nick Hornby imortalizou esse golo na literatura britânica ao referi-lo no seu famoso romance "Fever Pitch"), acabaram por perder a chance de ir à final ao tombarem em Camp Nou com o poderoso FC Barcelona, que rumava esse ano em direccão do seu único título europeu (curiosamente, com um golo isolado contra o Sampdoria por... Ronald Koeman!).

Aparte de uns brilharetes quando tinham 80 % da futura seleccão de ouro portuguesa (Rui Costa, Paulo Sousa, João Pinto, Abel Xavier, entre outros), no início da década de ´90 - inesquecível o jogo contra o Bayer Leverkusson en ´94, já mencionado neste blog, mais o jogo da minha vida, o famoso 6-3 contra o rival nacional Sporting no estádio de Alvalade em 93/94 - o Benfica eclipsou-se durante uma década. O fervor de um adepto esmoreceu-se ao longo de uma década de mediocridade, e o grande Benfica europeu desaparece da memória do resto da Europa. O Benfica deixa de ser ameaca, ninguém o teme. O Benfica é eliminado na taca EUFA por uma equipa semi-profissional sueca, o Halmstad, em que metade dos jogadores são carpinteiros ou canalizadores e jogam à bola nos tempos livres. Mais tarde vem a humilhacão de Vigo, os negros 7-0 que forcaram a um pedido de desculpas oficial por parte do capitão João Pinto dois dias depois, acontecimento nunca antes visto na história do futebol português. Houve até anos em que o Benfica nem sequer se qualificou para a taca UEFA, coisa nunca antes vista experienciada na longa história do clube. O Benfica foi esquecido. Uma geracão inteira de adeptos de futebol na Europa forjou-se sem nunca sequer ter ouvido falar do Benfica.

Este ano estou orgulhoso. Pela primeira vez depois de uma década inteira de desilusões, vê-se o Benfica ao nível que os adeptos mais velhos estavam habituados a ver. Um Benfica com uma defesa sólida e louvada pelos comentadores europeus e um contra-ataque temido pelas maiores equipas europeias. Um abate-gigantes que já expulsou da competicão tanto o Manchester United como o campeão em título Liverpool no seu próprio estádio, com dois golos fantásticos. E agora enfrentam o Barcelona e recebem louvores de respeito por parte do adversário, talvez o favorito na edicão deste ano da competicão. Não acredito que o Benfica siga em frente, embora bem gostasse que acontecesse, mas gostei da exibicão deste ano. Aconteca o que acontecer no jogo da segunda-mão dos quartos de final, já valeu a pena. Novamente, o Benfica aparece em destaque nos diários desportivos europeus. Como a surpresa da prova. Uma década inteira de fracassos muito danificaram o prestígio do clube. Ontem reparei na transmissão televisiva do Sky Sports que as bolsas de apostas britânicas colocam o Benfica na última posicão como possível vencedor do título (odds 28/1). Aqui na Noruega ninguém conhece o Benfica e frequentemente me irrito com os comentários dos estudantes noruegueses ou com os comentários nos jornais sobre o "lille Benfica som med en del flaks tok fordel av de svekket Man U og Liverpool i år" ("pequeno Benfica que com muita sorte se aproveitou dos maus momentos de forma do Manchester United e do Liverpool") . Ou de ouvir comentários na televisão como "de spiller bra, disse kortvokste portugisere" ("jogam bem, estes anões portugueses") ou "0-0 så lenge er ren mirakel for Benfica del" ("0-0 até agora neste jogo é puro milagre, por parte doBenfica"). Acredito que no resto da Europa os comentários são os mesmos. Os aficionados comparam as prestacões do Juventus, do Arsenal, do Barcelona, a campanha incrível do Lyon este ano. Ninguém se preocupa com o Benfica. O Benfica foi esquecido. O futebol europeu precisa de um empurrão para refrescar a memória. Talvez uma vitória em Camp Nou?

terça-feira, março 28, 2006

Partidas

Um dia saímos do nosso país e as despedidas são sempre emotivas e difíceis. Claro que é sempre um "Até já" mas custa. Passámos anos e anos a partilhar dias e dias com as mesmas pessoas e de um momento para o outro, o vazio!
E lá vamos nós para um país que não conhecemos e de repente fazemos amigos.
Recordo as várias vezes que ouvi: "Na tropa é que se faziam amigos!"
Bem, os tempos mudam e se calhar esta é a nossa tropa. Vamos, como os nossos pais, para países que não conhecemos, e com sorte encontramos alguns portugueses que estão a passar pelo mesmo que nós, e o espírito de entre-ajuda surge, e a amizade não tarda. Partilhamos dificuldades com a língua, com os costumes, com o tempo, com o ritmo de trabalho... Partilhamos lágrimas e alegrias, frustrações e conquistas.Os laços criados são tão fortes e tão naturais que quando chega a hora da partida, um turbilhão de sentimentos contraditórios invade-nos. Se por um lado o desejo de abraçar os amigos e os amores que deixámos em Portugal é sufocante, por outro lado parece que deixamos uma parte de nós por cá.
E então custa sempre ver um amigo partir, sabendo que algum tempo irá passar até que o voltemos a ver, sabendo que não será mais aqui, neste tempo e espaço que voltaremos a partilhar tantas coisas boas e más. A noção de que o presente acelera para se tornar passado, deixando no ar a incerteza do futuro.
Parece então que a primeira partida, aquela dolorosa em que sabíamos estar a dar um gigantesco passo em frente, mas ao mesmo tempo um passo no escuro, foi apenas o princípio de muitas.
Desde que aqui estou já me despedi de demasiadas pessoas, mas o futuro reserva-me muitas mais... Por isso hoje não digo adeus, mas Até Já!

Abraço do gelo que derrete,
Virgilio

segunda-feira, março 27, 2006

Indignado!!!

Hoje era para escrever sobre outro assunto, mas tal ficará para uma outra oportunidade! Acabei de saber que a incompetência de alguém, ou de alguns, resultou na destruição das esplanadas do parque verde do Mondego em Coimbra, talvez a única obra realizada nos últimos anos naquela cidade, cujo destinatário eram todos os cidadãos da região!

A chuva copiosa que se fez sentir nos últimos dias obrigou a descargas na barragem da Aguieira. Em Coimbra está em construção uma ponte pedonal que irá ligar as duas margens do Mondego, que se irá chamar Pedro e Inês (a tragédia de facto parece perseguir estes dois...) e que deveria estar concluida em Maio. Para construir a ponte foi necessário colocar barreiras de terra no rio, deixando apenas no centro do rio, uma nesga para a água passar. Agora que o mal está feito, perceberam que era necessário abrir mais passagens para a água!

A minha indignação advém do facto, de não ser a primeira vez a incompetência de uns resulta em atrasos/erros/derrapagens financeiras/acidentes naquela cidade! A ponte Rainha Santa Isabel (anteriormente denominada ponte Europa), teve uma derrapagem financeira e temporal de vários anos, porque veio-se a perceber que os dois tabuleiros não se iriam encontrar! Há poucos anos foram os prédios da Elísio de Moura que esiveram em risco de derrocada.

É inconcebível numa cidade Universitária, onde se formam dezenas de engenheiros civis todos os anos, não haver um planeamento que permita prever situações destas. Ou estavam a prever mais um ano de seca!!!??? Podem argumentar que a culpa é da empresa construtora, mas mesmo o trabalho destas empresas, por norma, é supervisionado por engenheiros! Mas as supervisões muitas vezes são feitas mas é à mesa de almoço...

Deixo-vos uma foto retirada do Diário de Coimbra. Para quem conhece o local, é de facto triste olhar para esta foto! E, sabendo a velocidade como se arranjam coisas em Portugal e, particularmente, em Coimbra, só posso estar desanimado e triste.

Sem mais,

RC

domingo, março 26, 2006

Violência Revisitada


A violência emerge com uma força tremenda na produção contemporânea de imagens. Nessa reprodução e saturação da violência, em outros dos seus desdobramentos, pode ainda ser associada ao prazer, ao consumo, à criação de identidade [construindo uma busca individual] e à utilização de símbolos de vitória e projecção.
Neste sentido, a televisão e o cinema tem o desconforme poder de fazer com que o espectador se depare com a dura realidade e ao mesmo tempo, paradoxalmente, provocar uma sensação de ficcionalização dos factos reais, uma espécie de estado de alienação [em escala maior chega a coerção social]. O telejornalismo e o Cinema documental percorrem esse caminho através de uma desajustada forma de autismo crítico que amortece uma expansão emocional imediata, sobretudo quando os factos reais aparecem na tela sob a forma de catástrofe. Se as imagens-choque e as imagens dos filmes de índole documental estão numa percepção imediata é natural que as aceitemos desta mesma forma, mas se nos debruçarmos sobre um aforismo sociológico retiraremos outras conclusões: este tipo de conjunturas ocorre sempre em situações dramáticas extremas [violência, medo, morte…].
Contextualização: Brasil. Se o “documentário brasileiro” é hoje bem sucedido, é antes de tudo um fenómeno de carácter económico-social: retratando, não só as seduções de consumo que contribuem para fomentar a crescente frustração dos jovens urbanos no Brasil imersos por necessidades económicas que impedem dramaticamente as suas expectativas sociais e possibilidades de invenção de um futuro fascinado pelo reconhecimento social, mas também esses mesmos habitantes das grandes cidades brasileiras que são atormentados pela violência urbana ostentada quotidianamente nos meios de comunicação. Pelos Mídia surge uma agonia intensificada, inclusive, porque ela possui base narrativa, enfatiza a dramatização da morte e do medo, aguça a tensão, o pânico repercute-se e há uma suspensão da ficcionalidade. A violência é aqui compreendida tanto como manifestação de uma realidade ignóbil, sórdida, violenta, manifesta e ostensiva na vida quotidiana [implicando constrangimentos físicos e morais no uso da força, na coerção, na violação da integridade física e psíquica], quanto na sua dimensão subjectiva, indirecta e, inclusive, no que diz respeito à sua mediatização. Na intersecção entre o concreto e o simbólico, a violência manifesta-se como produção e linguagem estética, como forma de ser, de se comunicar, de vivenciar, de apreender e interpretar o mundo. A linguagem da violência, por esta via poética, não elimina o impacto com o real, muito pelo contrário, vai funcionar como paradigma reprodutivo impulsionador da própria violência real.
Mas como representar a violência e a pobreza sem reproduzi-las na construção e reprodução de imagens? Como criar outros mecanismos para o Cinema e televisão? Como fugir desses registros?
Nessa neblina de referentes e na cultura do medo gerada pela violência e sua repercussão mediática, o realismo ganha legitimidade estética. Em filmes e ficções que retratam as novas realidades urbanas, algumas expressões do realismo estético tornam visível e legível a fragmentação caótica da cidade e a violência urbana. A violência, por sua vez, impõe-se sobre o fluxo familiarizado do realismo do dia a dia e dialoga com a espectacularização do real mediático apresentado nos reality shows, nos noticiários televisivos, nos programas sensacionalistas e na telenovela diária. Os diversos códigos do realismo narrativo ganham legitimidade na medida em que buscam dar conta de modernidades urbanas desordenadas enquanto que alguns produzem a violência através de recursos dramáticos próprios da ficção que, entretanto, intensificam uma sensação do real. A valorização do realismo contemporâneo e a utilização de pessoas pobres, de bairros periféricas e anónimas no cinema documental faz parte da modernidade global que, entretanto, na saturação de imagens e narrativas, exploram o real como um recurso de impacto estético e particularmente no Cinema Brasileiro destaca-se unidades temáticas como a violência, a pobreza, a favela e o tráfico de drogas. A favela já está presente no cinema Brasileiro há muito tempo, não é de agora, mas assim como o neo-realismo italiano tem na cidade o seu personagem, o cinema documental Brasileiro tem a favela e o subúrbio. Mas o morro não é mais o mesmo. Redes ligadas a tráfico de armas e drogas tomaram conta do espaço. Assim o lugar das representações da violência e pobreza urbana no Cinema é outro.
Contudo, esta valorização de novos registros realistas está longe de ser um fenómeno Brasileiro. Nanook, [acusado de ilusionismo e idealização da realidade, a obra-prima de Robert Flaherty aparece na década de 20 como um desafio marcante aos territórios demarcados pelo cinema]; o Neo-realismo italiano [nova estética que buscou retratar aspectos mais objectivos ou reais da sociedade, pondo em cena os dramas quotidianos das camadas pobres ou das classes proletárias, urbanas e rurais, assumindo também uma crítica ideológica anti-fascista]; Jean Rouch [ultrapassou os conceitos da ilusão e do real na construção do espaço cénico/narrativo, entrecruzando, como nunca antes, as noções de objecto e de observador] e Dogma 95 [movimento de cineastas fundado em Copenhaga e que tem o compromisso formal de levantar-se contra "une certe tendance" do cinema atual], todos estes autores e movimentos já abordaram esta conjuntura teórica da estética realista.
No caso da recente produção brasileira, os registros realistas [na televisão e Cinema] oferecem retratos do contemporâneo que tematizam a favela, os subúrbios pobres, as prisões e a saga de personagens marginais abrangidos pela violência, pela exclusão e pela pobreza.
Mas será que a disputa pelo controle das representações, que existe no mundo inteiro, assume significados específicos no Brasil [?], uma vez que o controle social sobre o que será representado, como e onde, está ombricado com os mecanismos de reprodução da desigualdade social [?].

Se temos uma ficcionalização e espectacularização do real nos jornais, televisões, cinema e Internet, também temos uma crescente demanda por um "real" que pareça fruto de uma vivência palpável. Mais do que isso, trata-se de entender a sociedade enquanto valor-de-informação, ou seja, no que ela faz, produz e comunica, já que todo o processo de trabalho é simultaneamente um processo de comunicação.
Há uma apropriação de mecanismos de construção da representação como dimensão intrínseca do documentário e que, por vezes, recorre a convenções da ficção. Essa ambivalêcia é consequência do desencantamento do sujeito em relação ao mundo que forjou a separação entre fantasia e verdade, entre mito e razão, entre o objetivo e o subjetivo, entre a realidade e a ficção. É precisamente entre a fadiga [produzida pela própria Mídia] e a excitação [individual ou colectiva] que consumimos o quotidiano dos meios de comunicação.
Por isso, é possível que o público se tenha direccionado um pouco mais para o registro realista na busca de ver representado o que lhe possa parecer, por paradoxal que seja, mais real e ficcionalmente elaborado.
Vasco Lopes
Rio de Janeiro

sábado, março 25, 2006

A Loja do Cidadão, a lavandaria e o meu trabalho!

Hoje fui à Loja do Cidadão!
Não quero falar mal daquilo, até porque a ideia é boa e eu fui lá na manhã de Sábado - que deve ser o período com mais afuência de "clientela"...
O facto é que cheguei lá perto das 13h e tirei a senha nº 209 (o mostrador indicava que o próximo a ser antendido seria o número 150)... Contente da vida - será rápido, pensei - fui petiscar ao café da esquina por breves minutos e regressei, confiante que deveria já estar perto da senha nº 200... Vinte minutos tinham passado e ainda ia no número 159... "Vou dar mais uma volta", pensei... Saí e fui experimentar os ares do Rossio, fui ao Banco, fui ver umas montras, ler o "A Bola", fui à TV Cabo... mais meia hora passara! De volta aos Restauradores: 168! Em grande! 18 números em sensivelmente 60 minutos! Eram já perto das 14h e ainda faltavam 31 pessoas ser atendidas antes de mim e a hora de encerrar o serviço eram as 15h... À medida que se aproximavam as 15h, notei o ritmo do "bip" a aumentar... Seguramente teriam havido alguns desistentes, mas não justificavam tal mudança de ritmo! Certo é que eram 14h50 e eu estava a sair de lá! Curiosa a relação directa entre a mudança de ritmo e o aproximar da hora de encerramento do expediente...

Hoje também fui à lavandaria!
Tinha um fato para lá deixar, já que precisa há uns dias de uma limpeza! Fui lá antes de ir à Loja do Cidadão, por isso era pouco antes das 13h. Mal entrei nas instalações da lavandaria, perguntei se trabalhavam o horário completo ao Sábado - tal como vi afixado na porta do estabelecimento - estava surpreendido e queria confirmar se não tinha visto mal. Prontamente me disseram num tom misto de indignação e brincadeira: "Ai, era o que faltava!..." Eu fiquei contente por lá ter chegado a horas e provei que tinha consciência daquele horário limitado com o pedaço de sandes de chouriço e manteiga que vinha ainda a mastigar por temer chegar atrasado. :)
Deixei o fato fielmente depositado nas mãos da senhora, paguei e guardei o meu talão - que a senhora me recomendou a trazer no dia em que fosse buscar o fatinho! Já com a sandes de chouriço deglutida, rumei à estação do metro e fiz-me ao caminho.

Ontem fui trabalhar!
Entrei à hora prevista, o dia passou relativamente rápido, para sexta-feira, e acabei pouco depois da hora definida no nosso horário "indicativo"... Trabalhei sempre ao mesmo ritmo, mesmo com o aproximar da hora de saída, e nunca torci o nariz quando nos começámos a aproximar (e até depois de ultrapassar) a dita hora... Saí de lá ainda de dia - pela primeira vez desde que lá trabalho - e vinha com um sorriso na cara! Como qualquer pessoa normal, gosto de folgas e fins-de-semana! Mas também gosto de trabalhar - nunca pensei dizer isto! Se calhar tenho a sorte de ter um bom ambiente de trabalho e de fazer algo que gosto! Mantém-me atento e agradam-me os desafios que vou ultrapassando ao longo do dia!

Nos três sítios se podem encontrar pessoas bem dispostas. Diria até competentes. Mas com diferentes níveis de motivação - porquê?

quarta-feira, março 22, 2006

Lost in Translation III

Caminho no corredor do meu escritório e encontro uma colega do laboratório.
- Hei, Hill-Aina! Hvordan går det med deg? [Olá, Hill-Aina! Como é que estás?]
- Bra! Hvordan var reisen din til København? [Bem! Como é que correu a viagem a Copenhaga?]
- Fint! [Maravilhosa!]
- Har du planer til flere reiser nå? [Tens planos para outras viagens?]
- Nei. Det er ikke mer reisning for meg inntil jul! [Não. Não tenho planos para mais ereccões antes do Natal!]

('reising' = viagens / 'reisning '= ereccão).

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A direccão de uma empresa norueguesa viaja para algures no Reino Unido em viagem de negócios. Durante o dia discutem burocracia, e á noite jantam num ambiente mais descontraído com os seus colegas britânicos. A certa altura, ouve-se um sonoro arrôto vindo da falange inglesa da mesa. Imediatamente, ergue-se a voz do culpado, muito corado:
- Oh, pardon me! Where are my manners?
Responde um norueguês:
- Don´t worry! In Norway we also rape, but we never say we´re sorry after!

('rape' significa 'arrotar' em norueguês; as semelhancas entre as duas línguas levam a que muitos noruegueses experimentem palavras em norueguês com sotaque inglês quando não estão seguros da palavra certa a utilizar; geralmente funciona, mas às vezes tem resultados catastróficos, como neste exemplo!)

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Uma amiga portuguesa residente em Bergen entra numa loja de roupa e arrisca-se a usar o seu parco norueguês para comunicar com a empregada. A empregada traz-lhe umas calcas e a minha amiga experimenta-as no gabinete de provas. Para sua felicidade, as calcas servem-lhe como uma luva. Ouve ela então a voz da empregada:
- Hvordan ble det? [Servem-lhe?]
- Ja, det fitter meg perfekt! [Sim, invaginam-se perfeitamente!]

('to fit' em inglês = 'servir, passar; 'em norueguês utiliza-se o verbo 'passe'; 'fitte' [norueguês] = 'vagina', mas em calão forte; neste caso, foi uma tentativa - obviamente falhada - de utilizar a lei inversa do exemplo anterior)

terça-feira, março 21, 2006

Quando neva!

Faltavam dois dias para o início da Primavera e de repente, durante a noite, tudo ficou coberto de neve. E quando digo neve não digo apenas um bonito manto branco, mas meio metro de neve em todo o lado: passeios, estradas, casas, carros.
Segundo a lei da província os passeios em frente às nossas casas são da nossa responsabilidade oque implica que temos 24 horas para os limpar ou somos multados. Ora claro está que de vez em quando lá ponho as minhas botas e calças de neve, luvas e leitor de mp3 e lá vai disto de pá na mão e vamos ao trabalho.
Para quem me conhece está claro que acordar cedo é mentira e chegar a casa depois de um dia de trabalho e ir varrer passeios também não me agrada muito. Mas felizmente que tenho uns vizinhos porreiros na rua quase toda e só mesmo quando neva bastante se preocupam em limpar qualquer coisita deixando sempre um tapete branco que não destoa muito, o que significa que também não tenho de limpar muito.
Ora portanto onde estava eu? Ah! Neve no Sábado!
E é claro que há bom português, nem meio metro de neve me faz ficar em casa até porque nem está frio, e caminhar na neve é quase o mesmo que tentar molhar os pés no mar na Figueira!
E havia neve por tudo quanto era lado. E ele era autocarros atolados, jipes a perderem a tracção, paredes de neve no meio das estradas depois de alguns limpa neves terem tentado limpar qualquer coisita.
Os factos mais marcantes passam por ter empurrado uma carrinha, um carro e um monovolume num total de 4 sessões de exercício intenso e divertido.
E como era sábado, dia de festa, é claro que todos queriam sair de casa para uns copos, mas ninguém queria conduzir, nem os taxistas queriam conduzir e é claro que esperei mais de uma hora e meia por um táxi que nunca chegou... e não vi o concerto que queria ver e não bebi as cervejas que queria beber!
É que quando neva apenas as artérias mais importantes (leia-se: onde passam os autocarros) é que são limpas e é claro que ninguém quer conduzir nas outras!!!
Pois é, por aqui quando neva o mundo quase que pára!

Abraços com meio metro de neve,
Virgilio

PS - a vantagem é que as cervejas podem ficar lá fora que estão sempre frescas!

segunda-feira, março 20, 2006

Nação Europeia ou miscelânea de países!?

Sonho: uma Europa unida, capaz de falar a uma só voz, influenciando, da melhor forma o desenvolvimento Mundial, capaz de garantir os direitos sociais de que hoje desfrutam os cidadãos Europeus, mantendo no entanto, as características culturais da miscelânea de povos que a formam!

Factos: a Europa é um conjunto de países, que historicamente se degladiam. Não fala a uma só voz, mas a 20 ou mais vozes diferentes. Os líderes desses países nuns locais falam da necessidade da uniformidade das políticas, noutros fazem tudo por competir com o vizinho do lado!

Há umas semanas ouvi num programa qualquer, muito provavelmente na Antena 1, a minha companhia diária, a questão de "Será que na Europa, da mesma forma que os Estadounidenses, também já existe um sentimento de Europeísmo!?". A resposta foi/é obviamente um rotundo não!

A inveja e as quesílias históricas dominam a Europa. Isto da União Europeia para uns países não passa de um empecilho ao qual se fosse hoje não aderiam, ou então ao qual aderiram porque os outros aderiram! De um lado apelidam as sucessivas Comissões Europeias de apáticas e amorfas, mas sempre que esta tenta impor as leis comunitárias falam de intromissão na política interna e começam logo com um discurso bacoco, capaz de colocar do seu lado o mais distraído dos cidadãos!

Analisando o mapa da Europa, parece-me que os países onde o sentimento Europeista está mais enraizado são os mais periféricos. Portugal, Espanha, Finlândia e Irlanda. A juntar a este temos os pequenos países do centro da Europa: Luxemburgo e Holanda. O Luxemburgo é sem dúvida aquele que mais tem feito por manter a união da União! Do outro lado da barricada temos a França, Reino Unido e Alemanha, única e simplesmente os maiores, as maiores economias e ao mesmo tempo, aqueles com o maior ego e com os maiores umbigos! Quanto aos novos países, ainda não é possível retirar conclusões: a adesão destes países, foi, na minha opinião, mal planeada, pois não estavam reunidas as condições para que estes podessem beneficiar das ajudas comunitárias da mesma forma que os que os antecederam beneficiaram, principalmente tendo em linha de conta que toda a Europa se encontra debaixo de uma prolongada crise económica.

Qual a importância de um sentimento Europeista? Antes de mais permitirá trabalhar para o bem colectivo. Em vez das estúpidas discussões como a do cheque Britânico ou a PAC Francesa, talvez se começasse a perder tempo com problemas verdadeiramente importantes. Uma Europa forte, também é necessária num contexto internacional, visto que neste momento há basicamente 4 esferas de influencia: EUA, China, Rússia e alguns países Europeus (de vez quando apelidados de UE). Olhando para o tipo de influência que estes países podem exercer sobre outros países, parece lógico a necessidade de uma Europa, que não imponha os seus valores pela força e pressão, mas pela negociação e pela conversação! Tal só será possível se esta for forte, o que não é actualmente!

Vivemos actualmente numa Europa sem fronteiras físicas, mas com imensas barreiras psicológicas. Só quando for possível a qualquer cidadão desta Europa ir de um país para outro sem se sentir estrangeiro, é que se poderá falar de uma Europa como nação. Até lá continuaremos a ser emigrantes ou turistas dentro de uma Europa que se diz União, mas que no fundo continua a ser aquilo que sempre foi: um pequeno pedaço de terra que sucessivas guerras ao longo dos séculos dividiram naquilo que foi depois denominado de país/reino/região autónoma, etc...

Cumprimentos,

RC

sábado, março 18, 2006

Recordar um momento mítico

Há muitas coisas na nossa vida das quais, por uma razão ou por outra, sabemos que nunca nos iremos esquecer.
Esta semana, numa das poucas sessões de zapping actualmente possíveis, calhou parar no RTP Memória e não fiz mais nada. Estava a dar um jogo de futebol que já remontava à década de 90. Mais precisamente a 1994. Um célebre jogo da Taça das Taças, em Leverkusen: Bayer 4 Benfica 4. Provavelmente o melhor jogo de futebol que alguma vez vivi. Podem falar da final da Champions League em Barcelona, do 6-3 do Benfica em Alvalade, do 1-1 do Porto em Manchester... De vários jogos podem falar!
Este foi efectivamente um jogo mítico! O Benfica tinha empatado 1-1 na Luz e esteve a perder por 2-0 o jogo da segunda mão. Praticamente eliminado, o Benfica desse ano tinha a estrelinha para dar a volta em jogos complicados: virou o resultado de 2-0 para 3-2, permitiu o 4-3 (que colocava novamente o Bayer nas meias finais) mas acabaria por marcar o 4-4 a 5 minutos do final. Foram 90 minutos cheios de emoção!
Por curiosidade:

The Quarter-Finals - The First Leg:
1.3.1994, Lisboa (POR) - Estádio da Luz.
Sport Lisboa e Benfica (POR) - TSV Bayer 04 Leverkusen (GER) 1:1 (0:0).
Goals: 0:1 Markus Happe (66.) and 1:1 ISAIAS Soares (90.).
Referee: Pierluigi Pairetto (ITA). Attendance: 80.000.

The Quarter-Finals - The Second Leg:
15.3.1994, Leverkusen (GER) - Ulrich-Haberland-Stadion.
TSV Bayer 04 Leverkusen (GER) - Sport Lisboa e Benfica (POR) 4:4 (1:0).
Goals: 1:0 Ulf Kirsten (24.), 2:0 Bernd Schuster (58.), 2:1 ABEL Luis da Costa Silva XAVIER (59.), 2:2 JOÃO Manuel Vieira PINTO (60.), 2:3 Vasily Kulkov (78.), 3:3 Ulf Kirsten (80.), 4:3 Pavel Hapal (82.) and 4:4 Vasily Kulkov (85.).
Referee: James McCluskey (SCO). Attendance: 21.000.
(5:5; Sport Lisboa e Benfica on away goals)

A memória deste jogo fez quarta feira 12 anos! É nestas alturas que me sinto... experiente :)

quarta-feira, março 15, 2006

Supermulheres

A história que se segue é verdadeira, embora pequenos detalhes tenham sido alterados ou acrescentados por razões puramente artísticas. Os nomes foram alterados de forma a proteger a anonimidade dos intervenientes. Os diálogos em língua estrangeira foram transcritos em inglês de forma a tornar possível a sua compreensão pela maioria dos leitores, embora tenham ocorrido originalmente em norueguês. O uso do inglês nos diálogos é uma opcão (arriscada) do autor, de forma a transmitir parcialmente a ideia da dificuldade de traducão de algumas das expressões de uma língua para a outra. Histórias como esta (e há muitas!) converteram-me ao feminismo e ao conceito de 'likestilling' nórdico [likestilling = igualdade de oportunidades].

Domingo de manhã em meados de marco, céu azul imenso sobre Trondheim. Ligo o computador e dou uma vista de olhos na caixa de correio electrónico.
A Gunnhild escreveu-me, como prometido.
- Enjoy! ;-)
Abro o ficheiro de texto que ela me mandou, um relatório de 65 páginas. Para ler até hoje à noite, visto que o prazo de entrega finda amanhã. Apertado, mas possível.
Depois de uma sessão de treino de 2 horas de esqui no parque natural da cidade, ponho os meus olhos no trabalho. Escrevo pequenos comentários nas margens da cópia que imprimi. O estilo de escrita é correcto e exacto, embora por vezes se note uma tendência para usar a primeira pessoa, em transgressão de um dos dogmas mais enraizados do estilo de escrita científico: a impersonalidade. Mas considerando que as autoras não tinham qualquer tipo de experiência anterior em investigacão, fico estupefacto com o resultado. O relatório é coerente, bem escrito, informativo e cativante. O método utilizado é válido. Telefono novamente à Gunnhild.
- Hi!
- How is it going?
- I´m only 10 pages away from the finish. The report is good, but there is a couple of issues I would like to to discuss. Can I phone you again later?
- Even better. Go to Ingrids house and discuss with her directly. I´ll put you in touch with her.
Continuo a ler e meia hora depois recebo um telefonema da Ingrid. Combinamos encontrar-nos às 10 da noite em casa dela, que por forca do acaso fica apenas a uma rua de distância.
À entrada do apartamento, sinto-me desarmado perante o sorriso afável da atraente figura que me recebe. Oferece-me algo para beber e rumamos directamente para o quarto dela. Discutimos o relatório durante um par de horas, entre dezenas de artigos de psicologia espalhados pelo chão e volumes perdidos de Fernando Pessoa (para meu grande espanto), Jostein Gaarder e Günter Grass. Ingrid é teimosa e defende-se cerradamente das minhas críticas. Ingrid é uma perfeccionista.
- I don´t know if we have a report that is good enough to pass this subject.
Sorrio.

Gunnhild e Ingrid são duas amigas de 28 anos que estudam no quarto ano de medicina. Já conheco a Gunnhild à três anos e hoje é uma das minhas melhores amigas. Vim a conhecer a Ingrid atravès da Gunnhild, num fim-de-semana nas montanhas numa paisagem comparável aquela que nos é apresentada nos ecrãs no filme "Brokeback Mountain". Ambas são globetrotters, cidadãs do mundo. Ambas falam inglês e espanhol fluentemente, Gunnhild gracas a uma estadia de um ano na Argentina quando tinha 17 anos, Ingrid por forca da necessidade como estudante ERASMUS em Bilbao o ano passado. Gunnhild também conhece bem a Índia e parte do sudeste asiático e médio oriente. Gunnhild é inteligente, culta, alguns centímetros mais alta do que eu, de longos cabelos louros que a tornaram atraccão instantânea para criancas enquanto viajava no sul da China. A Ingrid é um pouco mais baixa, atlética, de olhos de um azul oceânico e uma candura quase infantil, amante da natureza, literatura e de arte. Ingrid costuma passar férias de verão sozinha algures na tundra polar em Finnmark ou Troms, no extremo norte da Noruega, equipada apenas com uma cana de pesca e uma tenda de campanha.
No outono passado decidiram juntar-se para realizar um projecto de investigacão, como parte de uma cadeira semestral do curso de medicina. Resolveram estudar um fenómeno de adaptacão psicológico chamado "resilience". "Resilience" é a capacidade que certos indivíduos possuem de passar por experiências traumáticas sem desenvolverem sintomas de PTSD (Post-Traumatic Stress Disorder). O sentimento de pânico sem razão aparente, neofobia, ansiedade, dificuldades de concentracão, urinarem na cama à noite, entre outros, são sintomas típicos de PTSD em criancas. Gunnhild e Ingrid necessitavam de um grupo relativamente grande de criancas expostas recentemente a uma situacão de stress traumático e posteriormente classificadas como "resilient". Um factor que contribuiria para fortificar as conclusões do estudo seria se o fenómeno traumatizante fosse, na medida do possível, homogéneo para a populacão do estudo. A solucão surgiu-lhes durante uma discussão de café numa temperada noite de outono. Fizeram as malas com um destino na cabeca. Faixa de Gaza, Palestina.

Gunnhild e Ingrid viajam na faixa de Gaza durante três semanas em Novembro, depois de pagarem do seu próprio bolso, aparte dos habituais custos de viagem, 1000 euros por um seguro de vida que o governo norueguês impõe a deslocacões de alto risco. Para pagar possíveis evacuacões de emergência, cuidados hospitalares em países estrangeiros, ou custos de habitacão permanente debaixo de seis palmos de terra com acabamentos interiores em pinho ou mogno, consoante o gosto dos familiares. São duramente interrogadas e revistadas pela polícia israelita nos checkpoints e no aeroporto. Arranjam um contacto na universidade local, uma estudante palestiniana de mestrado em psicologia, que as ajuda como intérprete. Juntas visitam cinco agregados familiares e interrogam quase duas dezenas de criancas. Criancas cujos pais foram levados ou executados a meio da noite em rusgas realizadas pelo exército israelita. Criancas que vivem orfãs, mas que continuam a sorrir e a sonhar com uma vida melhor, apesar de tudo. O resultado são as 65 páginas que recebi esta manhã na caixa de correio.

Segunda de manhã, o termómetro faz greve nos -10, mas o sol continua a sorrir. Ligo o computador. Vejo o nick da Gunnhild no messenger.
- So, have you delivered the report?
- Yes, free at last!! Finaly, no more stress. I think I´ll start planing my next year now.
- What´s the plans then?
- Well, I passed through the office of "Leger Uten Grenser" [Médicos Sem Fronteiras] an hour ago. It seems they need some people who can speak spanish to go to Colômbia next year, for some vaccination campaign. What do you think?

terça-feira, março 14, 2006

Tributo Merecido

Este ia ser o tema da semana passada, mas acabei por não encontrar na minha cabeça as palavras certas nem a inspiração para um texto que, longe de ser perfeito, terá de me deixar satisfeito.
Fujo então às notícias do nosso país onde temos novo Presidente e decido-me prestar um tributo a quem nos pôs no mundo!
Fomos todos fruto do mais antigo impulso da natureza (a par do instinto de sobrevivência, sendo ao mesmo tempo parte dele), com mais ou menos sentimento, com mais premeditação ou menos cuidado, mas a verdade é que por estre as unhas roídas dos nossos pais e os momentos de dor e tormento das nossas mães, lá vimos a luz do dia e a primeira coisa que fizemos, qual foi? Claro, chorar!
Depois voltámos a fazer a cabeça em água aos nossos pais, chorando sempre que queríamos alguma coisa: comida, fralda mudada, dentes a doer...
Fomos, sem sombra de dúvida, uns reais chatos anos e anos a fio, e ainda assim eles amaram-nos.
Depois entramos no armário e não queremos ninguém por perto. Percebemos que os nossos ídolos, os nossos heróis - os nossos pais - não são perfeitos e ficamos realmente aborrecidos a cada descoberta. Mas como se esta nossa birra absurda não chegasse, ainda refilamos contra tudo o que eles fazem em relação a nós, e colocamos em cause que eles realmente nos amem.
Uns mais, outros menos, lá todos tivemos as nossas discussões com os nossos pais, duvidámos dos seus sentimentos e das suas intenções, desejámos sair de casa quanto mais depressa melhor!
E de repente as nossas vontades são feitas, mas damos por nós num país estranho, com mais ou menos amigos à nossa volta, e quantas vezes não pensámos como seria bom chegar a casa e ter a sopa da mamã a fumegar na mesa, ter a roupa passada em cima da cama, e o nosso pai com a lareira acesa à nossa espera?
Falo agora de mim, e de como sempre fui contra os meus pais por nunca me deixarem trabalhar: "A tua profissão é o estudo! Vais ter muito tempo para trabalhar!" E isso era uma real chatice para mim, e nunca os consegui compreender. E de repente caio num país em que aos 16 lá vão os miudos trabalhar no tempo livre que têm para começarem a juntar dinheiro para a universidade. E quando chegam à universidade continuam a trabalhar pois há que pagar as despesas e continuar a juntar o dinheiro para o resto das propinas. E acabam o curso e continuam a trabalhar para mais um grau, se não tiverem a sorte de ter bolsa. Mas a maioria começa a trabalhar com 16 e só param quando se reformarem.
Então só tenho de agradecer aos meus pais, porque nos verdes anos, não nascendo num berço de ouro, tive a oportunidade de aproveitar.
Mas agora o que mais me custa depois destas palavras é que nunca me lembro de lhes dizer o quanto os amo, porque no fundo os pais amam-nos também, se bem que nem sempre são capazes de o mostrar da melhor maneira.
Peguem no telefone e liguem aos vossos pais para lhes dizerem o quanto gostam deles e o quanto apreciam os esforços feitos desde que nasceram. Pelo menos digam-hes isso uma vez na vida e estou certo que esse será o dia mais feliz da vida deles desde que vocês nasceram!
Um dia seremos pais e sentiremos exactamente o mesmo!
Abraço do gelo e já agora aproveito para dizer aos meus pais (se lerem isto) que os amo muito e estou muito agradecido por tudo o que fizeram e ainda fazem por mim!
Virgilio

segunda-feira, março 13, 2006

Fraudes científicas!

Nunca como neste último ano, as fraudes científicas estiveram tanto na actualidade! Para o cidadão comum tal facto é indesculpável e incompreensível. Para aqueles que escolheram a ciência como profissão, tais actos são contra toda a ética profissional, indesculpáveis, mas, por vezes, compreensiveis!

O que leva então alguém a descer tão baixo?

Comecemos pelos factores de impacto. Quantidade não é sinónimo de qualidade. Pode-se analisar o curriculo de um cientista e ver que este publica 20 artigos por ano em revistas de baixo factor de impacto, enquanto o vizinho do lado publica 4 em revistas com elevado factor de impacto e concluir erradamente que o que publica 20 artigos por ano tem mais sucesso profissional do que o que só publica 4. Errado!!! O factor de impacto é, digamos, uma medida da relevância e do tempo de vida de um estudo! Quanto mais relevante for um trabalho científico maiores serão as possibilidades de ser publicado numa revista de factor de impacto elevado. Quem é que decide se um estudo é relevante ou não? Primeiro são os editores dessa revista. Segundo os reviewers, ou seja, cientistas comuns que trabalham na área na qual o trabalho se insere e que lêem o artigo antes deste ser aceite pela revista, corrigindo-o e dando sugestões para novas experiências, cabendo-lhes, em última análise, a decisão de aceitar ou não a publicação do trabalho naquela revista. E por último, o consumidor final, ou seja, a restante comunidade científica, que irá referenciar esse estudo quando publicar os seus artigos. A grande vantagem dos factores de impacto é conseguirem estabalecer uma hierarquia de qualidade das diversas revistas, o que resulta numa facilidade na pesquisa e análise de trabalhos da comunidade científica. A grande desvantagem é que tendo o factor de impacto a importância que tem em termos financeiros para os cientistas (falarei sobre isto mais à frente), ocorre muitas vezes terem-se que publicar artigos em revistas cujo tema geral não está totalmente relacionado com o estudo em causa, mas que têm um factor de impacto superior ao daquela onde o estudo se inseria melhor!

Os factores de impacto têm uma importância desmesurada em muitos países, que utilizam este critério na distribuição dos fundos para a investigação. Desta forma, um cientista que publique numa "Nature magazine" (o supra sumo das revistas científicas), terá a vida muito facilitada quando chegar a hora de se candidatar aos fundos disponíveis. Já aquele cientista que publique em boas revistas da área em que trabalha, mas que têm um factor de impacto baixo ou médio, terá que andar constantemente a lutar por financiamento, tentando pescar dinheiro nas mais diversas instituições e das mais variadas formas!

Começa-se então a perceber o que poderá levar algumas pessoas a adulterarem resultados!

Mas a isto tudo há ainda que somar o reconhecimento ao nível da comunidade cientifica que se obtém quando se publica numa revista do topo. É comum quando se fala de uma determinada área referir nomes de cientistas ligados a essa área. Por norma estes publicam em revistas de alto factor de impacto!

Assiste-se aqui então a um conflito de interesses entre as questões financeiras, a ética profissional, o reconhecimento científico e o futuro profissional!

O que se passou na Coreia do Sul, foi talvez o caso mais mediático. O cientista em causa, após obter o reconhecimento que as suas publicações lhe trouxeram, conseguiu financiamento para erguer um instituto que emprega hoje centenas de pessoas e produz excelentes trabalhos na área das células estaminais. Era idolatrado em todo o país, pelos mais diversos sectores profissionais, pelo trabalho relevante que estava a desenvolver pelo bem colectivo. Mais recentemente veio a lume o caso de um cientista Norueguês que durante anos adulterou o diagnóstico de pacientes por forma a conseguir alterar a estatística dos seus trabalhos, para valores relevantes. Como estes dois casos muitos mais deverá haver. São indesculpáveis, ao nível ético, moral e científico, mas quem assiste, como eu, à luta que um chefe de grupo tem que travar todos os dias, aos milhares de páginas escritas todos os anos para projectos submetidos às mais variadas fundações, institutos, empresas, tudo para que o dinheiro para os reagentes e experiências não acabe, tem que compreender que estas situações aconteçam!

Vivemos num mundo competitivo e a ciência não foge a esta competição! Este sistema de avaliação do mérito científico está longe de ser perfeito, antes pelo contrário, mas é o que existe! E até surgir um melhor é este que se deve ter como referência!

Não quero com este texto desculpar estes actos, apenas chamar a atenção ao mais comum dos leigos na matéria que, mesmo indesculpáveis, há muitos factores que levam alguém a cair na tentação...

RC

sábado, março 11, 2006

Quero mais. Muito mais!

Antes de entrar em qualquer tipo de exercícios pseudo-intelectuais ou simplesmente eruditos, ficam desde já avisados que não está associado aos meus comentários qualquer tipo de pretensão de acrescentar algo mais a uma já extensa (mesmo que não muito intensa) blogosfera. Os meus comentários são de cariz claramente individualista, como quem gosta de olhar para o seu umbigo. Não que seja o umbigo mais bonito do Mundo (e não poderia ser, quando há por aí tantos umbigos tão mais sedutores), mas porque é o meu. É o que tenho e gosto de ser feliz com o que tenho. Não quer isto dizer que não nos devamos procurar algo mais, mas devemos saber valorizar o que temos e ser felizes nessa medida.
Não tem nada a ver com o conformismo a que nos temos habituado em Portugal. Temos muito a mania de dizer que somos uns coitados, que somos tristes e que temos um Governo incapaz e pouco interessado em zelar pelos interesses da Nação. Não vou por aí. Recuso-me! Julgo que não devemos prestar demasiada atenção aos governantes. Não gosto deles e acho que nunca vou gostar. Tenho é a plena certeza de que se algum de nós quiser alguma vez ter alguma coisa na vida não pode encostar-se e esperar que o Governo garanta um emprego, uma casa, os transportes públicos à porta de casa, um serviço nacional de saúde 100% eficiente, uma estrutura infalível no campo da educação ou até uma componente cultural e desportiva altamente desenvolvida. Temos de ser nós! Todos e cada um a lutar por melhorar a nossa situação. Individual e colectivamente, ser capaz de querer sempre mais e melhor, sem nunca nos esquecermos do que já fomos capazes de ir conquistando pelo caminho. Sim! Continuo a recusar-me a falar mal de tudo! Muita coisa que temos e que foi sendo desenvolvida ao longo dos anos deve-se, em parte, aos sucessivos Governos que toda a gente foi sempre criticando e crucificando. Provavelmente nenhum deles foi perfeito, mas há que reconhecer os méritos que tiveram (por menores que possam ter sido).
É e será sempre mais fácil falar mal e desvalorizar Ministros ou Presidentes da República, mas eu não o faço. Muito possivelmente sou uma minoria (quem sabe se não sou mesmo o único a pensar assim), mas para falar mal já chega o Miguel Sousa Tavares. É preciso pensamento positivo! Energia positiva! Pensar positivo! Sempre no caminho ascendente e de procura de melhores desempenhos, nunca no caminho mesquinho e redutor de apontar o dedo e destruir tudo e todos, sem acrescentar qualquer valor!

PS1: Quero agradecer publicamente o simpático convite do Ricardo para participar neste espaço. Obrigado.
PS2: Detesto política.

quarta-feira, março 08, 2006

Money, money, money!

A estória que se segue passou-se no primeiro dia em que cheguei à Noruega, em Abril de 2002.

Depois da aventura de chegar a Oslo ontem à noite, entretenho-me a subir e a descer a avenida Karl Johan, livre de trânsito, a artéria aorta da cidade de Oslo, e, diga-se, da Noruega. Num topo temos a Estacão Central com a maior densidade de 'junkies' de drogas pesadas da Europa, no outro extremo temos o palácio do rei, de seu nome Harald V. Pelo meio temos o Stortinget, parlamento norueguês, e a rua comercial mais longa e mais movimentada do país. É Sábado de manhã, e o povo comeca a despertar e a vir à rua, alguns ainda pesadamente ressacados da noite anterior, outros mais espevitados e determinados em fazer as compras da semana antes de se retirarem da cidade e fugir para o seu idílio florestal no Domingo com o resto do núcleo familiar.
Da minha parte, depois de um par de horas de turismo, comeco a sentir uma ponta de fome. Olho à minha volta, mas só vejo é bares e pubs ao longo da rua. Aqui e ali talvez um restaurante, mas os precos não me parecem nada convidativos. Ainda a semana passada li que Oslo foi classificada este ano como a terceira cidade mais cara do mundo. Dado o meu orcamento limitado, convinha-me arranjar qualquer coisa mais acessível à minha carteira.
Viro uma esquina e vejo a minha salvacão: McDonalds!
Entro e decido-me a dar uma vista de olhos pelo precario, não vá ter alguma surpresa desagradável. O meu norueguês ainda é pobre, mas os pósters com fotografias de tamanho industrial, talvez aí pendurados especificamente para salvar bárbaros sul-europeus como eu, ajudam-me na tarefa. Ora bem, Big Mac, 60 coroas [1 coroa norueguesa = 12 eurocêntimos; daí 60 coroas = 7 euros e meio, mais coisa menos coisa]. Bem, é caro, sim senhor, mas comparando com as 45 coroas dinamarquesas [= 50 norueguesas] que costumava pagar em Copenhaga, até é aceitável. Ainda mais considerando que terreno arável na Noruega é quase inexistente, com excepcão para a batata e aveia nalgumas partes do país, e que os vikings têm de importar quase todos os legumes e frutas, nem me posso queixar por demasia. Conformo-me com o preco e dirijo-me confiante ao balcão.
- How can I help you, sir? - interroga-me um espadaúdo e declaradamente entediado adolescente ruivo vestido com o uniforme da companhia. Entre ele e a estátua do Ronald McDonald que está plantada mesmo ao lado, a única diferenca é o sorriso idiota da estátua (de que se ri ele afinal? Ainda não percebeu que hoje em dia sorrisos tão largos associados a fotografias com criancinhas inocentes está definitivamente fora de moda, muito por culpa do Michael Jackson e afins?).
- I would like to have a Big Mac menu.
- Small, medium, big or extra big, sir?
- Hummm... Medium.
- That will be 65 then. (Ora-me esta! Então os tais 60 coroas era o preco do small?) Do you want to have any sauce on the side?
- Yes... Ketchup and mustard.
- That´s 2 crowns for each. Do you want to eat in or take it with you, sir?
Qual é a diferenca? Será que é alguma forma de demonstracão de hospitalidade meter-se na vida dos outros aqui na Noruega? Ainda para mais com a temperatura no limite do ponto de congelacão lá fora, porque raios haveria eu de me meter na rua a comer um hamburguer nesta altura do ano?
- In. (definitivamente!)
- Ok, that´s 2 crowns more. (!!!!!????) It will be 71, sir.
Filho da mãe, isto é o que eu chamo inflacão galopante! De 60 sobe o preco 11 coroas em menos de 20 segundos de conversa. Resignado abro a carteira e pago a minha refeicão. Pego no tabuleiro, sento-me na mesa livre mais próxima e aprecio o ambiente - dum lado uma família imigrante iraniana a discutir calorosamente algo numa língua que ninguèm percebe, do outro uma mãe a tentar acalmar um puto de 2 anos num berreiro que faria prever um futuro brilhante nalguma banda de rock gótico.
No fim da minha breve refeicão, dirijo-me à casa-de-banho. Na porta da dita, destaca-se uma pequena caixa metálica com uma ranhura. O pequeno letreiro com o texto "10 Kr" ao lado esclarece-me rapidamente acerca do seu propósito. Outra vez abro eu a minha carteira, cada vez mais leve de momento a momento.
Saio do Mac, mas ainda sinto as pernas cansadas. Vejo uma igreja. Dado o frio, decido-me a sentar-me uns minutos no seu interior. Quando chego à porta, mais um letreiro: "Turists - 20 Kr". Por uns segundos vacilo entre a conversão instantânea ou a aceitacão da minha realidade materialista como ateu. Irritado, abandono o plano inicial e procuro a cabine telefónica mais próxima. Encontro uma numa esquina, primo rapidamente um numero, e ouco no auricular:
- Está?
- Olá pai! Já estou em Oslo!
- Ok. A viagem correu bem?
- Sim, correu. Olha, podes meter mais uns trocos na conta?

terça-feira, março 07, 2006

Sistema Nacional de Saúde

"Anúncio do ministro da Saúde
Mais hospitais vão passar a empresas públicas até Junho

O ministro da Saúde, Correia de Campos, anunciou hoje que, até ao final de Junho deste ano, "uma nova vaga" de hospitais vai ser transformada em empresas públicas, com regras de gestão semelhantes ao regime privado." in Publico.pt

Taxas mais caras em Abril com urgências penalizadas
"Os utentes vão pagar mais pelos cuidados de saúde já em Abril. O Governo vai aumentar as taxas (…) "
Esta é uma notícia de hoje/ontem do Público online e como já planeava fazê-lo esta semana não podia vir mais a calhar.
Hoje falo da saúde por aqui, e não posso deixar de sorrir quando penso que em Portugal muitos pensam: "Ah! No Canadá é que é bom!"
Não posso negar a qualidade de alguns médicos e a simpatia quase constante dos enfermeiros. Mas e que tal um hospital público cobrar mais por uma urgência do que um privado? E estamos a falar de 400 versus 30 dólares. Mas e melhor ainda, esperar 8 horas numa urgência de um hospital público ao lado de gripes, dores de dentes, cabeças a sangrar, unhas encravadas e pessoas que aparentemente não parecem ter nada mas estão lá, e vir embora porque até quem veio de ambulância espera na mesma sala de cabeças amarradas e soro nas veias, horas e horas a fio.
Sim, este é o estado da saúde de uma província que adoptou o sistema privado mas felizmente oferece um seguro de saúde gerido pelo estado ($44 por mês). Mas mesmo com este seguro, nem pensem em ir ao dentista, e entao se precisarem de óculos, mais vale ficarem cegos mesmo antes de verem a conta! É claro que se quiserem ir ao dentista e ao oftalmologista podem sempre fazer um suplemento do seguro. É claro que nalgumas províncias o sistema de saúde ainda é publico, mas desconheço o que querem dizer com isso!
Fico então orgulhoso por ser de um país pequenino e cheio de dificuldades, mas com um sistema nacional de saúde "universal e tendencialmente gratuito" e mesmo assim não esperamos 8 horas nas urgências.
É claro que por aqui os doentes que derem entrada nas urgências têm direito a serem acompanhados por duas "visitas" ou serem visitados enquanto estão à espera.
É claro que muito está mal, mas em vez de pegarmos em exemplos que desconhecemos, que tal tentar corrigir o que está mal, como por exemplo permitir que as pessoas sejam acompanhadas. Ajuda a acalmá-las e parece que o tempo não custa tanto a passar. Ou então acelerar o tempo de mudança de turno dos funcionários responsáveis pelas informações sobre os doentes que (e falo por experiencia própria) chega a ser de 2 horas.
É claro que assim que se entra nas Urgências o serviço é extraordinário e extraordinariamente rápido quando comparamos com Portugal, mas isso depende da vontade das pessoas e da educação, e mais uma vez voltamos à questão da educação (ou da má educação) e da sua influência nos males do país. Mas será que vale a pena pisar e repisar o assunto?

Virgilio

segunda-feira, março 06, 2006

Será que descobri uma doença nova!?

Ressaca pós fim de semana em Portugal! Será que esta é uma nova doença!? Das últimas vezes que fui a Portugal, nos dias que se seguiram ao regresso senti uma enorme vontade de dormir, apanhar sol, andar sem casaco, não olhar para os preços das ementas nos restaurantes!

Não sei se o mesmo se passa com outros emigrantes, concerteza que não! Como o Neves disse no seu último texto, nada tenho contra o local onde vivo e trabalho! Adoro esta cidade, mas...falta o resto. Aquelas pequenas coisas às quais se dá valor apenas quando estamos emigrados. Às grandes coisas das quais se sente falta em qualquer situação (amigos, familia, namorada, não necessariamente por esta ordem).

Bem, o que me vale é que já sei mais ou menos como resolver esta situação: enfiar-me no trabalho, forçar-me a trabalhar e esperar que os resultados apareçam para que me esqueça do resto e me concentre no que neste momento interessa! De resto, trabalho não falta! Falta-me é tempo para fazer tudo o que tenho para fazer nos próximos meses!

Bem, peço muita desculpa mas por hoje não escrevo mais. Tenho uma depressão para resolver por isso espero que hoje outro pague a conta!;)

Os últimos 3 editores não tiveram oportunidade para escrever. Espero que os nossos fiéis leitores não desanimem. Eles irão voltar. Às vezes surgem imprevistos que os impedem de dar o seu contributo!

Cumprimentos,

RC

ps: Espero que o nosso colega Rui Neves se divirta na viagem que está a fazer de carro desde a "Lusa Atenas" até ao seu actual poiso!!!

quarta-feira, março 01, 2006

Ski!

- Alle klar? [Estão preparados?]
Preparado? Sim, pode-se dizer que sim. Preparado para ficar em último, como habitual. Bem, ao menos vamos lá a ver se desta vez não fico atrás de todas as mulheres, como da última! Aqui na linha de partida ainda estão uma meia-dúzia de rodas baixas com 1,60 m. Hummm, acho que ouvi inglês por aqui. Será que é desta vez que fico à frente de alguèm?
- Gå! [Partida!]
Ok, aqui vou eu. Súbitamente pôe-se em marcha uma manada furiosa de vikings armados com afiados bastões de esqui e o fundamental gôrro vermelho na cabeca, qual lanterna vermelha qual carapuca, que estes não ficam em último. Eu deixo-me ficar para trás, não gosto de confusões, não vá o diabo tecê-las e eu acabar com um nariz partido depois de ter sido atropelado por umas 15 bestas de 90 kg cada, mais um par de graciosas varinas de 1,85, pelo menos.
Bem, devagar devagarinho, se vai ao longe, já dizia o povinho, e eu, mais ou menos acomodado, tento seguir o ditado. Ao fim de 500 metros já estou no lugar que me é fatal como o destino, enfadado de apenas ver um par de rabos obesos das ditas anãs que falei à pouco à minha frente. O pelotão líder já lá vai no topo da colina, a esfalfarem-se que nem possessos, e eu por aqui com os bofes de fora a fazer o melhor que posso, que infelizmente nem é assim tanto.
Chego ao topo da colina, e, ao lado da pista, entretem-se um veteraníssimo a preparar o seu par de esquis (deve ser reformado, pelo menos desde que os Queen tiveram um single no top, mais coisa menos coisa). Este sorri e exclama:
- God strategi! Sparer du krefter, ikke sant? [Boa táctica! Estás a poupar-te, não é?]
Lá tento sorrir, meio indeciso se lhe vou à cara já aqui e desisto da corrida de esqui enquanto a honra ainda está resguardada, ou se continuo e faco de conta que é verdade. Pelo sim, pelo não, lá escolho a segunda hipótese.
Mal comeco a descer a primeira colina, apercebo-me da desgraca de escolha de smør que fiz hoje [pasta que se coloca debaixo dos esquis para aumentar ou diminuir a aderência, dependendo das condicões climatéricas - a sua escolha e aplicacão é uma arte que poucos dominam]. Lembro-me de repente que debaixo da camada de smør azul, que seria perfeita para esta temperatura em neve fresca, tenho uma camada de klister, vulgo super-cola 3. Com o smør que tenho hoje, o único com quem posso competir é talvez o homem-aranha. Irrito-me ao ver-me parar a meio de uma descida de 5 % de inclinacão e ao mirar os ditos rabos obesos a ficarem mais e mais magros deste ponto de vista. Raios me partam, estou a ver que não é desta vez então. Bem, ao menos tento adiar as inevitáveis dobragens o mais que posso. Talvez até à segunda volta, com um bocado de sorte.
Ao fim de 2 km já estou isoladíssimo no pelotão de honra (sim, aquela que foi poupada depois do comentário do octagenário, que entretanto já me passou pelo caminho). Ao menos o tempo está bonito, põs-se uma noite agradável e estrelada como à umas semanas que já não via. Pena que é sinónimo de uma temperatura de fazer inveja a qualquer pinguim. Lembro-me que estavam -8 quando sai de casa.
Ao fim de três voltas, lá aparece o primeiro. Epá, devo estar a bater records! Tento segui-lo durante um pouco, mas ao fim de meio km já não aguento mais e deixo-o ir à sua vida. Entretanto passo pela linha de partida pela quarta vez e a cronometrista premeia-me com o seu sorriso mais largo. Parece-me que ganhei uma fã. Mais um pouco à frente e desta vez é um tipo que vê a prova que se ri quando me vê passar. Mau! Passo a mão pelo gôrro e sinto duas pequenas estalactites que me cresceram perto das orelhas. Olho para o termómetro na manga do casaco de Gortex (só mesmo na Noruega para meterem um termómetro num casaco!) e percebo porquê: -13. Desespero ao pensar que nesta altura o Espen e o Trygve do laboratório já acabaram a prova à pelo menos meia hora e já se encontram estatelados em frente à lareira na hytta a beber cacau quente e com uma loura ao cólo, cada um. Infelizmente, pela minha parte, vim a descobrir mais tarde que esta minha fantasia só falhou pelo pormenor do cólo.
Na ultima volta já me doem todos os músculos do corpo que conheco e ainda mais alguns que passei a conhecer. Já só faltam 3 km, penso eu. As pernas já não podem com o resto do corpo e eu lá me arrasto até à recta final. À chegada, o júbilo é geral (pelo menos por parte dos 4 tipos que ainda por lá andavam): finalmente chegou o imigrante que os outros já davam como desaparecido! Afinal já se pode estacionar a snow-scooter da Cruz Vermelha. E da minha parte, mais uma vitória para o desporto português de Inverno. Pelo sim, pelo não, cantarolo um suspeito "y viva la España" enquanto descalco os esquis.