quarta-feira, agosto 16, 2006

Günter Grass

Esta semana foi revelado que o vencedor do prémio Nobel da Literatura em 1999, o escritor alemão Günter Grass, alistou-se voluntariamente nas forcas de elite nazis Waffen SS durante o final da segunda guerra mundial. O autor contava 17 anos por altura desta decisão, em 1944. Esta revelacão foi anunciada por Grass como antecedente ao lancamento da sua auto-biografia que sairá brevemente.

Lecha Walesa (prémio Nobel da Paz em 1983 devido à lideranca do movimento Solidarnócz que contribuiu fortemente para a queda dos regimes comunistas na Europa de Leste e ao consequente ponto final na Guerra Fria) afirmou pouco tempo depois que desejava que a cidadania honorária de Gdansk de Günter Grass lhe fosse retirada. Muitos deputados polacos, e mesmo alemães, pediram ao instituto Nobel que o prémio de 1999 lhe fosse igualmnete retirado.
Günter Grass dedicou grande parte da sua carreira literária como advogado do pacifismo e como caso único no panorama intelectual alemão que se debrucou a remexer nas feridas da segunda Guerra Mundial. A triologia iniciada com "O Tambor" (1959) e a reflexão causada por um dos seus ultimos romances "Im Krebsgang" (2002) leva o leitor a pensar nos dois lados de um conflicto. Grass nasceu em Gdansk, na altura o estado livre de Danzig, e a sua infância é marcada pela dualidade entre as nacionalidades polaca e alemã. Também foi Grass que anunciou a famosa tirada "Depois de Auschwitz, nunca mais uma alemão poderá honestamente sentir-se orgulhoso de ser alemão".

Que penso eu acerca deste debate?

Creio que 60 anos de carreira a escrever sobre um dos temas mais sensíveis da história alemã, escrita por um alemão, é pena mais do que suficiente para pagar erros que se fazem quando se tem 15 ou 16 anos de idade. Que sabe uma pessoa com essa idade? Foi talvez um erro guardar um segredo deste calibre durante tanto tempo. Mas pensando melhor, teria a sua carreira literaria atingido tais topos caso esta informacão fosse publicamente conhecida? Não estaria Grass condenado a ser classificado como "mais um nazi que tenta desculpar-se" quando alguém lesse um dos seus livros?

Gdansk e Günter Grass estarão sempre ligados na minha memória. Talvez Grass seja um bom exemplo para nos fazer lembrar que um conflicto tem sempre dois lados, e que por vezes se encontram indivíduos que se encontram na fronteira entre estes.

sexta-feira, agosto 11, 2006

Tristeza...

Estou triste, ou mais ou menos deprimido! Ontem acordámos com a notícia de que uma tentativa de atentado terrorista tinha sido anulada pela acção consertada dos serviços secretos Britânicos, dos EUA e do Paquistão! Algumas dezenas de pessoas terão sido detidas em Inglaterra e no Paquistão, todas de nacionalidade Britânica!

O acto consistiria em fazer explodir em pleno voo e de forma mais ou menos simultânea 10 aviões sobre o oceano Atlântico, que fizessem a ligação Londres-EUA. Este planeamento de um acto perversamente espectacular quase de certeza terá a mão da Al-Qaeda!

Obviamente que o facto de o atentado ter falhado só me pode deixar satisfeito! No entanto, esta notícia deixa-me ao mesmo tempo assustado! No próximo ano planeio ir aos EUA em trabalho! E se por ironia do destino, calhar ir num voo onde entram uns malucos desses e fico a servir de comida para os peixes algures no meio do Atlântico!?

Sinto-me triste também pelos comentários que li às notícias publicadas em alguns jornais e blogs! A quantidade de pessoas que consideraram este anuncio um acto de propaganda do eixo Inglaterra-EUA é maior do que eu suporia! Fiquei chocado mesmo com o teor de alguns textos. Textos que destilam ódio contra os Americanos e Ingleses, de pessoas que se cruzam todos os dias connosco na rua! Pessoas supostamente inteligentes a escreverem que seria bem feito que tal atentado tivesse sido um exito! Será que essas pessoas, se é que são pessoas..., se colocaram na pele do pai que vai descansadamente colocar o filho num voo para Nova Iorque, onde irá estudar durante meio ano, e que ao chegar a casa, liga a TV e descobre que o avião do filho explodiu!? Será que quem escreve estes comentários pensa sequer na mensagem que está a passar para os outros!

Não sou nem de perto nem de longe apoiante da política externa dos EUA ou dos Ingleses! O discurso imperialista destes países, e principalmente os ataques constantes a quem não pensa como eles, tem instigado o ódio nos países Muçulmanos e nalguns da América Latina! Quem se tem aproveitado desta política têm sido os políticos populistas - exemplo, Hugo Chávez! A guerra no Iraque serviu apenas e só para aumentar as legiões de movimentos terroristas que com a desculpa de ataques ao Islão, procuram recrutar em todo mundo aqueles que não foram capazes de se integrar nas sociedades em que vivem!

Também ontem me despedi de duas visitas! É sempre bom receber amigos, principalmente velhos amigos, daqueles com os quais sabemos sempre que estarão lá no melhor e no pior! No entanto, ve-los partir é duro. Ainda para mais com o clima de tensão que se vivia em Londres, mesmo sendo o voo delas directo a Lisboa.

A vida é assim mesmo. Um dia diz-se bom dia ao vizinho do andar de cima, no dia a seguir vê-se a foto dele nos jornais! Viver em Inglaterra nos tempos que correm não deve ser fácil, principalmente para os Muçulmanos, que se vêm encurralados entre duas linhas de combate: de um lado a opinião pública não Muçulmana, que desconfia, mesmo inconscientemente, de tudo o que se parecer com um Muçulmano; do outro os terroristas Muçulmanos, já que são os actos prepertrados por estes que levam à desconfiança e a actos de violência contra o comum dos Muçulmanos, aquele que trabalha, paga os seus impostos, investe na educação dos filhos e ama o país onde vive e que lhe deu uma oportunidade de vida melhor!

Cumprimentos,

RC

quinta-feira, agosto 10, 2006

The Cannabis Report

À umas semanas atrás visitei um amigo no estrangeiro que fuma regularmente marijuana. Descobrir que ele usava marijuana não foi nenhuma surpresa, aquilo que mais me surpreendeu foi a frequência com que o fazia. Daí ter-me preocupado um pouco. Falámos um bocado sobre esse assunto e, dado o meu campo ser o da bioquímica e neurociências, prometi investigar um pouco na literatura quando voltasse a Trondheim, sobre possíveis efeitos nocivos a curto e/ou longo prazo devido ao uso de estupefacientes canabinóides.

Deste modo escrevi aquilo que mais tarde os meus colegas chamaram "The cannabis report". A pesquisa que fiz foi muito superficial (demorou-me cerca de 1 dia, e não tive tempo para consultar muitas fontes, embora confie naquelas que pesquisei). O relatório que escrevi não se debruca sobre os efeitos da marijuana, mas sim sobre possíveis consequências e impacto a nível de saúde do indivíduo. Também convém sublinhar que os detalhes científicos acerca da accão bioquímica/psicotrópica desta classe de compostos estão escritas duma forma vaga, apressada,e, consequentemente, não estão totalmente correctos ao detalhe (não me interessava bombardear o meu amigo com palavrões técnicos, o mais importante para mim era fazer passar a mensagem). No geral, confio nas conclusões finais do meu relatório.

Perdoem-me os leitores por estar escrito em inglês. Por questões de carácter profissional, não tenho muito tempo disponível para efectuar a traducão ou aprofundar o meu estudo. Se alguém tem sugestões ou correccões, ficarei agradecido por os mandar. Convém afirmar também, que embora as minhas conclusões apontem para o uso de marijuana como relativamente pouco nocivo, não quero que ninguém daí conclua que eu promova, aconselhe ou use pessoalmente este tipo de estupefacientes (prefiro restringir-me ao álcool como substância recreativa). Na minha opiniao, o melhor é permanecer sóbrio, dar umas corridas na floresta, apanhar uns banhos de sol na praia e levar umas garotas para casa de vez em quando (de preferência sempre a mesma, se possível!). Acredito que as substâncias neurotrópicos que existem no nosso sistema nervoso são suficientes para induzir os nossos "highs" naturais sem ter de recorrer a estimulantes químicos externos.

Ora aqui vai:

"In the last two days I have been researching a bit on the internet and getting some literature and discussing with a couple of the biologists in my lab about the possible side-effects of cannabis. I must warn that this is a superficial overview of the literature I got hold of and that it is not a full scale survey of the references I have read. But the conclusions are as follow:

- Marijuana works both in the peripheric and the central nervous system through the activation of two metabotropic receptors that have been identified in the early 1990´s. These ones are sensitive to an internal regulatory neurotransmitter called anandamide and the cannabinoid family of receptors is 10 times more frequent to find than the opioid system. Both share the property of balancing the effects of the dopaminergic system (potentiating its release). The receptors are more or less widespread everywhere in the nervous system. There is also a second class of cannabinoid receptors present at immunocells and they regulate the inflammatory reaction (by suppressing it to a certain extent). The effects of the cannabinoid substances are therefore generally unspecific.

- Cannabinoid is one of recreational drugs with less capability of leading to physiological addiction. Alcohol and nicotine are much stronger addictive substances than marijuana. Nevertheless, it can lead easily to psychological addiction (there is a difference between physiological and psychological addiction: in the first, a person feels bad and feels a strong need for the substance when some time has passed after the last dose; in the second, a person don´t feel this need, but in a way misses the feeling of being high – it is difficult to explain, but there is a difference).

- There is only one case of dying by overdose in the clinical records, and it was a guy who smoked around 6 joints a day for several months. The basic principle is that it is not possible to die of overdose of marijuana by smoking acutely (in just one episode), but it is possible to get poisoned by long-term consumption (although, as I wrote, there is only one proved case of it in the history of medicine worldwide).

- Although the risk of addiction is low, it can happen. There are withdrawal symptoms like insomnia, restlessness, lost of appetite, irritability, anger, jerkiness and increased aggression. Frequent use also leads to metabolical habituation: the user needs bigger doses to get the same effect.

- The effect of a dose lasts from 1 to 4 hours. The effects are gone the day after use. Nevertheless, since the cannabinoids are liposoluble substances, they have a very low exit rate from the body and they can be detected in human tissue up to one month after its use.

- Among the most prominent psychotropic effects at the cognitive function level, loss of working memory and decreased ability to concentrate are the best known. This is the reason people are advised not to work, drive or do precision work while smoking marijuana. From what it is known, these effects are gone the day after.

- High doses of marijuana consumption also affect reproductive success, especially in men. It decreases sperm mobility and it interferes in the fertilization process. But it needs to be frequent users in order to get this impairment.

- The biggest health risks are the ones related with the smoking: lung and throat cancer, bronchitis, heart problems, etc. But that is mainly derived by the fact that one has to smoke it, so it has the same risks as smoking normal tobacco. It hasn´t be proven any neurodegenerative implications yet (Alzheimer, Parkinson, etc). Actually, there are lines of research were people are testing it as medicine to these same diseases. Cannabinoids induces lower immune resistance (you become less resistant to colds, for example), but it seems to have therapeutical effects by reducing the inflammatory responses or in treatment of chronic pain.

- There is some correlation between schizophrenia and cannabis use, but there is debate about it. Some experts argue that cannabis use is not a cause, but people prone to schizophrenia may use it more.

- It has been discussed about cannabis being a “gateway drug” to heavier drugs. Research so far has shown that animals exposed to cannbinoids need higher doses of opioids in order to get the same effect. Another issue is the sociological aspect: since it use is illegal in most countries, the sort of environment where one gets cannabinoids is the same where one gets heavier stuff.

- The last point of this list is the one I found more curious. It seems that people who use cannabis often score lower in ambition and motivational tests. They are more prone to change careers and are less ambitious than the non-users. They do not score lower at intelligence or capacity tests, they are just less ambitious. They are also more prone to have doubts about their present career or life choices and have less defined long-term goals than the control groups. Again, researchers don not know if this is an effect of cannabis use or if it is a parallel effect: people who start using cannabis were already susceptible to see life in a more liberal way.

All in all, marijuana is not totally harmless to health, but it is less harmful than alcohol or tobacco. This is the main conclusion of my (short) study. As long as you don´t drive while high or use it very frequently, I don’t see major health risks associated with it. But, at a personal level, I wouldn´t like to see you becoming addicted to it (well, to the same extent as alcohol or tobacco as well)."

Trondheim, 10 de Agosto de 2006.

quinta-feira, agosto 03, 2006

Energia nuclear!


Para aqueles que têm seguido as notícias no norte da Europa, não é surpresa a notícia de que os reactores 1 e 2 da central nuclear sueca de Forsmark, a norte de Estocolmo, foram temporariamente encerrados. Isto deve-se a uma falha ocorrida à uns dias atrás nos sistemas de seguranca desta mesma central. Dois dos reactores de Oskarhamn estão também temporariamente fora de servico. Isto significa que 4 dos 10 reactores suecos estão parados. O consulente nuclear sueco Lars-Olov Höglund disse à uns dias atrás que a falha ocorrida nos sistemas de seguranca da central de Forsmark só não levaram à libertacão de resíduos radioactivos por mera questão de sorte. O mesmo especialista comparou os erros ocorridos em Forsmark com os que levaram aos acidentes de Harrisbourg e Chernobyl: mau controlo, falhas nos sistemas automáticos de seguranca e pânico na sala de controlo.

Durante muito tempo comparou-se a seguranca dos reactores ocidentais com os da Europa de Leste, apontando-se os ultimos como parcos em seguranca em relacão aos primeiros. O pequeno acidente da semana passada, ocorrida numa instalacão ocidental e seguindo os mais apertados critérios de seguranca, demonstra algo que eu já havia discutido num post neste blog (26 de Abril de 2006, 20 anos após Chernobyl). Que mesmo apesar dos avancos técnicos, jogar com o nuclear continua a ser uma opcão (demasiado) arriscada para a seguranca da humanidade.

quarta-feira, agosto 02, 2006

Kunsthaus Vienna

De todos os museus que visitei na minha curta viagem pela Europa de Leste, aquele que me impressionou mais foi um pequeno, mas original museu situado no centro de Viena. O nome é Kunsthaus (="Casa da Arte") e tem uma exposicão permanente do arquitecto que desenhou a casa, Friedensreich Hundertwasser, no primeiro andar. No segundo andar tive a oportunidade e o prazer de ver uma exposicão de obras oiriginais do artista suico H.R. Giger.

Giger celebrizou-se internacionalmente através do design do monstro Alien no final da década de 70. No entanto, este artista plástico já contava com um par de décadas de criacões originais na mesma linha. O artista fundou um ramo de arte chamado Biomechanics. Giger foi também um pioneiro que celebrizou a utilizacão do airbrush como técnica de pintura.

A visita a esta exposicão recomenda-se. Algumas das obras em exposicão requerem uma observacão alongada, devido à riqueza de detalhes. As pinturas são macabras, eróticas, complexas, intrigantes e enriquecem a imaginacão. Em certas pinturas gastei cerca de 10 minutos até me sentir satisfeito com a sua observacão. A exposicão é curta, e requer cerca de 1 hora a ver a totalidade. Sublinhe-se uma escultura de tamanho real que serviu de protótipo para o primeiro Alien, utilizado no filme de 1979.