segunda-feira, março 20, 2006

Nação Europeia ou miscelânea de países!?

Sonho: uma Europa unida, capaz de falar a uma só voz, influenciando, da melhor forma o desenvolvimento Mundial, capaz de garantir os direitos sociais de que hoje desfrutam os cidadãos Europeus, mantendo no entanto, as características culturais da miscelânea de povos que a formam!

Factos: a Europa é um conjunto de países, que historicamente se degladiam. Não fala a uma só voz, mas a 20 ou mais vozes diferentes. Os líderes desses países nuns locais falam da necessidade da uniformidade das políticas, noutros fazem tudo por competir com o vizinho do lado!

Há umas semanas ouvi num programa qualquer, muito provavelmente na Antena 1, a minha companhia diária, a questão de "Será que na Europa, da mesma forma que os Estadounidenses, também já existe um sentimento de Europeísmo!?". A resposta foi/é obviamente um rotundo não!

A inveja e as quesílias históricas dominam a Europa. Isto da União Europeia para uns países não passa de um empecilho ao qual se fosse hoje não aderiam, ou então ao qual aderiram porque os outros aderiram! De um lado apelidam as sucessivas Comissões Europeias de apáticas e amorfas, mas sempre que esta tenta impor as leis comunitárias falam de intromissão na política interna e começam logo com um discurso bacoco, capaz de colocar do seu lado o mais distraído dos cidadãos!

Analisando o mapa da Europa, parece-me que os países onde o sentimento Europeista está mais enraizado são os mais periféricos. Portugal, Espanha, Finlândia e Irlanda. A juntar a este temos os pequenos países do centro da Europa: Luxemburgo e Holanda. O Luxemburgo é sem dúvida aquele que mais tem feito por manter a união da União! Do outro lado da barricada temos a França, Reino Unido e Alemanha, única e simplesmente os maiores, as maiores economias e ao mesmo tempo, aqueles com o maior ego e com os maiores umbigos! Quanto aos novos países, ainda não é possível retirar conclusões: a adesão destes países, foi, na minha opinião, mal planeada, pois não estavam reunidas as condições para que estes podessem beneficiar das ajudas comunitárias da mesma forma que os que os antecederam beneficiaram, principalmente tendo em linha de conta que toda a Europa se encontra debaixo de uma prolongada crise económica.

Qual a importância de um sentimento Europeista? Antes de mais permitirá trabalhar para o bem colectivo. Em vez das estúpidas discussões como a do cheque Britânico ou a PAC Francesa, talvez se começasse a perder tempo com problemas verdadeiramente importantes. Uma Europa forte, também é necessária num contexto internacional, visto que neste momento há basicamente 4 esferas de influencia: EUA, China, Rússia e alguns países Europeus (de vez quando apelidados de UE). Olhando para o tipo de influência que estes países podem exercer sobre outros países, parece lógico a necessidade de uma Europa, que não imponha os seus valores pela força e pressão, mas pela negociação e pela conversação! Tal só será possível se esta for forte, o que não é actualmente!

Vivemos actualmente numa Europa sem fronteiras físicas, mas com imensas barreiras psicológicas. Só quando for possível a qualquer cidadão desta Europa ir de um país para outro sem se sentir estrangeiro, é que se poderá falar de uma Europa como nação. Até lá continuaremos a ser emigrantes ou turistas dentro de uma Europa que se diz União, mas que no fundo continua a ser aquilo que sempre foi: um pequeno pedaço de terra que sucessivas guerras ao longo dos séculos dividiram naquilo que foi depois denominado de país/reino/região autónoma, etc...

Cumprimentos,

RC

2 comentários:

viking disse...

Olá Ricardo,

Concordo contigo sobre o facto de que ainda não temos uma estrutura europeia unitária, como foi a ideia original (!?) da UE.

Não acredito que a UE alguma vez se estabeleca como uma só nacão. Quanto muito, talvez como uma federacão mais ou menos coesa, num sistema um pouco mais solto que o da federacão alemã ou da federacão suica. Creio que o sentimento nacional individual de cada nacão prevalecerá. Curioso é também verificar que os países que indicastes nos quais o sentimento europeu é mais forte são exactamente aqueles que receberam mais ajudas (com excepcão da Grécia; e a Finlândia, que já era rica de antes, mas que coitada, deve ser o país mais solitário da Europa: não se identifica com nenhum dos vizinhos; nem com a Suécia, muito menos com a Rússia). A Holanda e o Luxemburgo são países habituados a tolerância cultural, talvez...

Admito que já fui mais favorável à ideia da UE, mas como ela se encontra hoje... já não sei... Para além de que comeco a acreditar que a governacão a uma escala mais local talvez sirva melhor a democracia do que a uma escala tão alargada. E ainda há o (clássico) problema da identificacão cultural/nacional: no original tratado do aco e do carvão tinhamos a Alemanha e a Franca aliadas juntas com mais meia dúzia de pequenos países, algo que era inédito na história. Depois vieram toda a cultura germânica e a latina/mediterrânica, mais a nórdica meter-se no grupo. Agora juntou-se a eslava à mistura, e muitos comecam a achar que já há gente a mais. Quando entrar a cultura islãmica (turquia, bósnia) ou ate, quem sabe, a judaica (Israel?!), então aí é que é uma confusão...

Para mim o maior problema é o da globalizacão do mercado europeu, coisa que, embora tenha muitas vantagens em termos de intercâmbio cultural, tem por outro lado a infelicidade de ser ecologicamente um desastre. Mas em relacão a isso, hei-de escrever um blog sobre o assunto, um dia.

Abraco
:-)
Paulo.

RC disse...

Oi,

isto vai ser curto e grosso que estou com imenso trabalho.

Primeiro, Itália fez parte das comunidades do carvão e do aço. Como tal a tese das culturas mediterrânicas se terem junto mais tarde, não pode ser tão abrangente. Destas entradas todas a que me assusta verdadeiramente é a possível entrada da Turquia. Não tendo nada contra o país e contra o povo, assusta-me a abertura das portas a um país com mão de obra baratíssima, com baixos níveis de líteracia, onde os direitos humanos não são respeitados, etc...A respeito da Bósnia, não me consigo pronunciar. Não é um país muito populoso, é formado por 3 etnias maioritárias e já vivem na Europa há umas centenas de anos, por isso sabem o significado da palavra Europeu.

Segundo, a Finlândia, mesmo sendo um país rico, não o era há assim tanto tempo! A riqueza da Finlândia adviu do boom tecnológico, liderado neste país pela Nokia. Esse boom é recente, talvez início dos anos 90. Antes disso a Finlândia era um país pobre, como tal muito beneficiou e beneficia de fundos comunitários para resolver os problemas mais básicos. Num país enorme com 6 milhões de habitantes, mais de 1 milhão vive na zona de Helsínquia e 80% vive no Sul do país! O resto do país é quase só lagos e árvores!

A questão da Federação Europeia, pois meu caro, era para aí que se caminharia se a consituição Europeia tivesse sido ratificada. Não foi, então mantém-se o tratado de Roma. Continuaremos com a UE que temos tido e que tantas portas nos tem aberto. E continuaremos também com as confusões e as quesílias comissão Europeia/estados membros.

Não acho que a Europa precise no futuro de ser vista como uma só nação! Aliás, a nossa história não o permite. O que eu queria realçar no meu texto é a necessidade de sermos um só povo! O povo Europeu. A noção de povo não é necessariamente homogénea. Uma população pode viver segundo os mesmo valores e ainda assim ser bastante diferente! Penso que não foi esta a mensagem que passou para ti. Espero que agora tenha ficado mais claro!

Abraço