terça-feira, fevereiro 27, 2007

Dar aulas!

Hoje dei a minha segunda aula na faculdade. Neste momento estou a dar aulas de fundamentos de biologia para psicólogos clínicos e tem sido um desafio. Os alunos são dedicados e lêm a matéria antes de ir para as aulas, fazem perguntas interessantes e inteligentes, mostram-se interessados. Por outro lado, é para mim uma experiência bastante stressante apresentar-me perante 20 e tais alunos duas vezes por semana e falar sobre um tema durante duas horas. O pulso acelera e às vezes quase sinto vontade de fugir dali para fora a meio de uma aula. Não é por falta de conhecimento, é somente a pressão de explicar um tema bastante difícil a um grupo de pessoas que um indivíduo não conhece assim tão bem. Durante duas horas sinto uma vintena de pares de olhos a avaliar-me e muitas vezes pergunto-me acerca que tipo de impressão é que os alunos terão de mim. De vez em quando aparece uma pergunta e o mais estranho é que é de facto durante as respostas que me sinto mais calmo. Ouvi da parte do meu predecessor que este tipo de stress é bastante normal durante os primeiros 2 ou 3 semestres, que não há nada a temer.

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Cartas de Iwo Jima



Mystic River e Million Dollar Baby foram dois dos grandes filmes com que fomos brindados nos últimos anos, obra deste, cada vez mais cativante, realizador que tem por nome Clint Eastwood.

Os seus mais recentes trabalhos, Flags of our fathers e Letters from Iwo Jima vêm na linha da qualidade dos seus dois anteriores trabalhos.

Assisti às cartas de Iwo Jima num cinema americano, quase vazio (talvez por historicamente o público americano ter alguma aversão a filmes legendados). No final, tanto eu como os amigos que me acompanharam, permanecemos sentados olhos fitos no ecrã escuro onde começava a passar o genérico, a digerir a força das imagens e da história que tinhamos acabado de assistir. Até que alguem disse: "fenomenal"! De facto está lá tudo: a guerra ideológica, o soldado que não sabe bem o porquê e por quem luta, a irracionalidade da guerra, o desespero de quem se vê derrotado não pelo inimigo mas pelos seus, a inteligência do estratega, a desobediencia que leva a que a táctica do estratega não tenha o resultado esperado, o sonho e a esperança de sair dali para voltar a ver aqueles que se amam e que nalguns casos nos prendem à vida, o sangue, a brutalidade do antes matar quem se rende a esperar que estes sejam salvos! A mistura de sentimentos é enorme, odiamos algumas das personagens e amamos outras.

Obviamente que após assistirmos a este filme ficámos com vontade de ver aquele que lhe deu origem (enquanto recolhia dados para a realização das bandeiras dos nossos pais, Clint Eastwood recolheu material que lhe deu a ideia de realizar um filme que demonstrasse o drama vivido do outro lado da barricada). Alugámos o DVD e...mergulhámos no filme, na vida das personagens, da mesma forma que o haviamos feito antes. Não é o mesmo tipo de filme, não trata apenas da conquista da ilha pelos americanos, mas do misto de sentimentos vividos pelos 3 sobreviventes que plantaram a famosa bandeira no cume mais alto da montanha, no regresso a uns EUA sedentos de heróis e da forma como a propaganda militar americana se aproveitou de 3 soldados para arranjar financiamento para uma guerra para a qual o dinheiro do estado escasseava!

Definitivamente, estou rendido ao mestre Clint Eastwood e aguardo ansiosamente por novos filmes deste grande realizador/produtor/actor/...

RC

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

Terra de contrastes

Estive ausente nos últimos tempos, parte em trabalho, parte em lazer. A apresentação de um poster num dos poucos congressos existentes na minha área de investigação, levou-me ao longínquo Novo México, nos EUA. Santa Fé, pequena cidade situada a mais de 2000m de altitude foi o quartel general do congresso e das actividades que o rodearam.

Não vou no entanto falar de ciência neste post. Os EUA é o motivo deste meu texto.

Obviamente que, ao ser bombardeado a todo o momento e a toda a hora com a dita cultura americana, já estava preparado para muito do que encontrei. A começar pela falta de transportes públicos. Talvez nas grandes cidades existam e funcionem bem, mas tanto em Santa Fé como mais tarde na Carolina do Norte, verifiquei que não faz parte da cultura local usar um autocarro em vez de um carro, e as pessoas que se encontram nos autocarros, ou são turistas como nós eramos ou membros das camadas sociais mais desfavorecidas. Para além disso, os autocarros fizeram-me lembrar os "chaços" que há uns 10 anos circulavam nas ruas de Coimbra, mas que felizmente, já pouco se vêm!

Claro que quem não usa os transportes públicos, tem que se movimentar de carro. E, tal como nos filmes, não é um carro qualquer. São grandes carros (pelo menos em tamanho), muitos jipes, que consomem quase sempre para cima de 10 litros aos 100. Mas com a gasolina a 1,28 dolares o galão (aprox 3,8 l) até eu dispensava gastar a sola dos sapatos para ir ao supermercado, mesmo que este distasse 200 m de casa, não fosse eu um ambientalista moderado ;)!

Curioso é observar o comentário espantado dos americanos quando verificam que os nossos telemóveis funcionam nos states, enquanto os deles não funcionam na europa! Sinal de abertura para o mundo ou de oportunidades que os fabricantes europeus souberam aproveitar? Não sei, mas que me deu jeito, lá isso deu!

No entanto, o estereótipo do americano gordo não se confirmou. Que os há, isso é indesmentível, tal como nos filmes, com os nacos de banha pronunciados nas calças ou por baixo da t-shirt justa banhada em suor ou mesmo a quererem saltar para fora. Mas, nos sítios por onde andei, isto foi a excepção e não a regra. Compreendi, no entanto, que não é difícil engordar naquele país. A cultura local, não admite que a excepção seja a comida com gordura e sal, fazendo disto a regra. A não ser que se tome especial atenção ao que se ingere, em cada refeição facilmente se atingem os níveis máximos de calorias diárias recomendadas, mesmo ao pequeno almoço! E não falo dos hamburgueres, os quais procurei evitar ao máximo, mas da comida em geral!

Por último, o conceito de cidade é bastante diferente do nosso! As cidades Europeias, por norma consistem de um centro densamente urbanizado, com subúrbios a rodearem-no. Nas duas cidades por onde andei, é impossível distinguir subúrbios do centro. Tudo consiste de pequenas casas, de 2-3 andares, ou condomínios fechados separados do próximo por longas manchas verdes.

O que mais me maravilhou foi a beleza natural! O Novo México é um local bem diferente de tudo o resto que já visitei, onde se misturam o deserto com a montanha e as Rocky Mountains, na Carolina do Norte, fizeram nascer o bichinho para uma nova visita no Outono ou Primavera para observar os fantásticos contrastes coloridos da flora local, que no Inverno se encontram ocultos! Muito embora os atentados ambientais que regularmente leio em revistas e jornais, ainda há muito para ver e viver (e destruir) naquele país imenso!

Fico-me por aqui.

Cumprimentos

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Pornografia!

Estava a ver TV um dia destes, um daqueles talk-shows para donas-de-casa que certos canais americanos têm para dar e vender, quando surgiu a questão de uma mulher casada, com 9 (!!) filhos do mesmo marido, que meteu os papéis de divórcio depois de ter descoberto um DVD pornográfico no carro do marido. O casal lá se reconciliou depois de 6 semanas de separacão mais umas horas de terapia e a promessa solene de que o marido nunca mais veria material videográfico daquele calibre.

A minha reaccão foi simples: "Ó meuz amigozzz...!!!"

Esta situacão lembrou-me de um outro episódio ocorrido aqui à uns 5 ou 6 anos na casa comunal em que vivi em Copenhaga. Estávamos sentados a ver TV, eu e mais uns chineses, uma francesa, um macedónio e uma americana, quando de repente, enquanto o macedónio mudava de canal, passámos por uns curtos segundos por um canal "temático" dinamarquês. Nesse ponto, a americana tem um ataque espontâneo de histeria e fica quase em estado de choque pelo facto do resto da malta ter reagido ao incidente com um mero sorriso ou um ligeiro encolher de ombros.

Recentemente li na imprensa local que nos Estados Unidos (onde mais poderia acontecer casos destes!) está a ser julgada uma professora de secundário porque durante uma aula de informática a alunos entre os 12 e os 14 anos de idade abriram-se uns pop-ups "comerciais" e a desgracada da professora não conseguiu fechá-los todos imediatamente, sujeitando os seus alunos a uns minutos de exposicão aos "factos da vida". A história até teria a sua piada, não fosse o caso de a professora sujeitar-se a apanhar 40 (sim!!! quarenta!!!) anos de cadeia por dita afronta ao púdor público.

Ora bem, é verdade que se calhar o ambiente cultural em que estou inserido agora situa-se quase no extremo oposto (ao ponto de se ver abertamente publicidade a vibradores e outros aparelhos estimulantes nas salas de cinema antes do início de um filme, por exemplo), daí se calhar estar um pouco contaminado com a mesma atitude, mas acho que é quase pedagógico que a malta veja um par de filmes pornográficos em certa idade para ao menos perceber do que é que se fala. Acho que a atitude apresentada nos exemplos anteriores é quase hipócrita. Como disse um realizador sueco numa entrevista aqui à uns anos atrás (como comentário ao facto de um dos seus filmes ter sido censurado nos EUA por ter mostrado o peito descoberto de uma das actrizes), no cinema americano não é problema nenhum exibir uma cena de violência com espancamento, tiros à queima-roupa, granadas a abrir as tripas a um soldado, e por aí adiante, mas quando se mostra uma cena daquilo que acontece a toda a hora, quase por todo o lado, é imediatamente um problema para as criancas americanas.

Em Portugal ainda há muitos tabus em relacão ao sexo, mais isso é tema para outro post no futuro...

Abracos
:-)
Paulo.

O Sim ganhou

"O Sim ganhou!"
Não disseste "Olá!" nem "Adeus!" como de costume. Não mandaste beijos nem assinaste, como há muito nao fazes.
Por momentos esqueci o nosso presente e revivi o passado. Por momentos vi-nos, como muitas vezes em sonhos, revolucionários contra a ditadura numa qualquer reunião secreta do Partido em que a revolução teria sido aprovada como forma de luta. Podíamos tão vem ter sido personagens num re-escrito Dr. Zhivago, re-escrito à medida dos nossos sentimentos passados.
Vi-nos, mais adultos, ansiosamente esperando pela aprovação por referendo da interrupção voluntária da gravidez (o nosso aborto) e finalmente poderiamos ver o nosso problema resolvido. Mas teria sido mesmo um problema? Nós que sempre sonhámos uma vida lado a lado, rodeados de filhos? Envelhecendo de mãos dadas rodeados de netos...
De pois acordei. Acordei e não resisti ligar-te, ouvir a tua voz e, quem sabe, continuar a sonhar acordado.
Ouvi a tua voz, sorri! Sorriste de volta e, por instantes voltámos a brilhar, um para o outro! (Parece que o fogo nunca se apaga). Falámos. Falámos de tudo e de nada e no fim dissemos adeus de novo.
Desliguei e voltei à realidade. Se calhar já nem te amo, mas foi bom sonhar contigo outra vez.
Sim, o "Sim" ganhou, o nosso sim ganhou e nós continuamos perdidos nos nossos sonhos e na imensidão do nosso mar!

sábado, fevereiro 17, 2007

Prémio Sophia para Göran Persson



O ex-primeiro ministro sueco Göran Persson recebeu esta semana o prémio Sophia, destinado a premiar aqueles que mais contribuiram para a causa ambiental a nível internacional. O prémio foi criado pelo escritor norueguês Jostein Gaarder (o autor de "O mundo de Sophia" e "Maya", entre outros) e a sua mulher Siri Dannevig em 1997. Persson recebeu este prémio devido a ter liderado a Suécia no sentido de ter reduzido de forma significativa a libertacão de gases de efeito de estufa no periodo após o acordo de Quioto (entre 1996 e 2006) a um nível 3,5 % abaixo da referência de 1990, sendo um dos poucos (se não o único) país ocidental a ter superado essa meta. Este objectivo foi atingido através do fortalecimento dos transportes públicos e pela aposta em energias alternativas (tais como o biofuel). Numa entrevista ao semanário norueguês Morgenbladet no ano passado, Göran Persson expressou o objectivo de tornar a Suécia independente de combustíveis fósseis até 2020.

O mais importante a reter é o facto de que a qualidade de vida individual na Suécia não se deteriorou ou modificou de forma detectável na última década como consequência destas medidas. A economia sueca tem sofrido os seus altos e baixos nos ultimos anos, mas não deixou de ser competitiva a nível internacional como consequência da atitude ambiental expressa pelos seus governantes. Se a Suécia consegue, porque é que o resto do mundo não consegue?

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Citacão do dia!

"Valentine's day is a holliday invented by greeting card companies to make people feel like crap".

Esta citacão é tirada do filme "Eternal sunshine of the spotless mind" de Michel Godry e escrita em colaboracão com Charlie Kaufman ("Being John Malkovich", "Adaptation"). O filme comeca exactamente na deprimente data de 14 de Fevereiro, na qual a personagem principal abre a narrativa com esta frase. Recomenda-se o filme para dias como este!

;-)

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Reduções de CO2 na indústria automóvel

Ao ler um artigo no público relativo à proposta da CE de até 2012 os carros novos comercializados na Europa passem a emitir no máximo, 120g de CO2 em vez dos actuais 160g, achei interessante o último parágrafo do referido artigo, que aqui deixo.

"(...)A Associação das Empresas de Comércio e Reparação Automóvel sustentou ontem que a proposta europeia de redução das emissões "não assusta" o sector em Portugal, onde predominam os veículos a gasóleo e de baixa cilindrada. "O nosso parque é sobretudo de automóveis de baixa cilindrada, que são menos poluentes", afirmou o presidente António Ferreira Nunes, acrescentando que a dieselização é favorável porque este combustível implica menores emissões de CO2. Portugal é já o país com menos emissões de CO2 da União Europeia, com valores médios de 143 gramas por quilómetro, contra 189 gramas na Alemanha e 192 gramas na Suécia.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Leitura de cabeceira

Há livros próprios para a chamada "leitura de mesinha de cabeceira" e há outros a que tenho que chamar "próprios para insónias"!

Só agora começo a constatar o efeito que diferentes livros têm em mim! Se é um facto que há medida que me vou aproximando do final de um livro, a ansia de saber o fim se vai apoderando de mim (a não ser que este seja mesmo muito mau), também começa a ser um facto que, alguns livros, ou talvez o substantivo correcto seja obras, despertam esta ânsia a partir das 10-20 primeiras páginas (que para engrenar num livro que puxe um pouco pelo raciocínio às 11.30 da noite é preciso travar uma batalha mental comigo próprio...).

Deste modo acho que posso afirmar que, enquanto alguns livros, hoje em dia mais os do estilo Dan Brown, sem desprimor para aqueles autores que já escreviam desta forma antes deste autor se ter dado a conhecer ao mundo, se devoram, se lêm e colocam-se na estante até um dia nos lembrar-mos que já não nos lembramos da história, lida a correr, e voltamos a pegar neles, outros, os clássicos, as obras de arte, se encarregam de nos devorar, de nos fazer viajar para a acção da narrativa, de nos por a pensar, de fazer de nós personagens em vez de simples leitores. Estes últimos, aos quais devo as magníficas olheiras que hoje hostento, jamais se esquecem, pois escolheram-nos para fazer parte do jogo que o autor nos apresentou. O curioso é que mais depressa atiro um dos outros para o cesto das compras que um destes, talvez por saber que o outro facilmente domino e este me vai dominar a mim...

Cumprimentos

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Blade Runner



Ontem à noite revi a "Director's cut" do filme Blade Runner de Ridley Scott (1982), com Harrison Ford, Rutger Hauer, Sean Young e Daryl Hannah. O "Director's cut" deste filme lancou a moda de criar uma versão mais à medida pessoal do realizador, aquando do seu lancamento comercial em 1991. Nesta versão não existe a voz-off do narrador ao longo do filme e salienta-se a possibilidade da personagem principal, Deckard, ser um Replicant - um andróide clonado. O filme foi inicilamente um flop de bilheteira nos Estados Unidos em 1982, mas ganhou respeito e estatuto de culto internacional com o desenrolar dos anos, sendo hoje considerado um dos melhores filmes de ficcão científica de sempre. O filme serviu de modelo para muitos filmes com o mesmo estilo futurista cyberpunk que se seguiram (o filme "Matrix" é um dos que me vem à cabeca, do lote de escolhas dos últimos anos).

O filme é baseado no conto de ficcão científica "Do androids dreem of electric sheep?" de Philip K. Dick (a quem o filme é dedicado; Philip K. Dick morreu em marco de 1982), um dos maiores gurus da ficcão científica e autor de contos que deram origem a filmes como "Blade Runner", "Total Recall" e "Minority Report". A história descreve a perseguicão que um polícia de uma unidade especial ("blade runners") enceta na perseguicão de andróides rebeldes cujo único desejo é o de prolongar a sua própria longevidade. "Blade Runner" acabou por se tornar um marco na história do cinema pelo facto de pela primeira vez o vilão ter um papel dúbio: no final não se percebe muito bem quem é o vilão e quem é o herói; afinal de contas, neste filme os andróides expressam um lado mais humano que muitos humanos na sequência da narrativa.

O filme leva-nos a pensar na nossa própria definicão de humanidade e na incerteza da condicão humana - que vivemos a nossa vida do dia-a-dia como se esta fosse durar para sempre, sem nos questionarmos sobre o rumo que tomamos, e no papel do indivíduo na vida, e na ambiguidade da definicão de bem e do mal.

A cena mais memorável (e mais citada) entre os fans é uma das cenas finais em que o andróide vilão Roy (o ariano holandês Rutger Hauer) salva a vida do (anti-)herói (Harrison Ford) no topo de um edifício, debaixo de chuva intensa, e, ao aperceber-se do seu fim eminente, senta-se no telhado e diz:

“I've seen things you people wouldn't believe. Attack ships on fire off the shoulder of Orion. I watched C-beams glitter in the dark near the Tannhauser gate. All those moments will be lost in time, like tears in rain. Time to die.”

domingo, fevereiro 04, 2007

10 segundos de fama!

Olá!

Na passada sexta-feira estava a passar pelos corredores da universidade de Trondheim e de repente aparece-me um tipo com uma câmara de TV a perguntar se eu tinha dois minutos para responder a um par de perguntas. O tema era sobre o relatório de Paris sobre o clima lancado nesse dia, e eu prontamente acedi a uma entrevista de 2 minutos. Desses 2 minutos, cortou-se um bom bocado na edicão, e fiquei com 10 segundos de fama (segundo o Warhol, ainda me devem 14 minutos e 50 segundos!) no final da reportagem da Tv local (TV Adressa). O link que se segue é a dita reportagem:

http://www.adressa.no/streaming/nyheter/article797475.ece

A reportagem passou na TV Norge (cadeia de televisões locais) na sexta-feira à tarde e à noite, na região de Sør- e Nor-Trondelag (distrito onde fica Trondheim).

Em resosta à pergunta se eu achava que a populacão em geral necessita de ser assustada com relatórios ameacadores sobre o clima para se mover no sentido de tentar arranjar uma solucão, respondo eu (neste excerto):

"Det er lurt for å redusere, for eksempel, strømforbruk, men folk [ofte tenker] "nei, det er et problem til den store industrien eller til de andre, det er ikke våres problem". Så tror jeg [at] det er viktig at folk blir sånn skremt litt grann".

Para quem não domina correntemente norueguês vertente bokmål, aqui vai a traducão:

"[Acho] que é importante em questões como, por exemplo, na reducão do consumo de energia eléctrica, mas o povo [frequentemente pensa] "não, isto é problema da grande indústria ou é um problema dos outros, não é nosso problema". Deste modo acredito que é importante que o povo se assuste um pouco [com informacão]".


No fundo, no fundo, vale mais estar calado...

Após um excelente dia de esqui, um estúpido acidente deixou-me um amigo incapacitado. Logo no local procurou-se a ajuda de enfermeiros/médicos que deveriam estar bem visíveis numa estância de esqui. Lá os encontrámos num local tudo menos de fácil acesso. O tratamento consistiu em ligar-lhe a perna e mandar-nos ir a um hospital em Estocolmo. Nem perguntaram se tinhamos transporte ou não!

Nas urgências de um hospital do centro da cidade, fomos recebidos com indiferença, o meu colega convidado a deitar-se numa cama e a esperar aí até ser atendido (onde é que eu já vi este filme...)! Entretanto na cabine envidraçada, enfermeiros(as) competentes continuavam a fazer o seu trabalho, rodeadas por doentes em macas, e sentados nas cadeiras. Médicos, nem vê-los... ao fim de 2h, lá recebo uma chamada a dizer que um médico já tinha aparecido não sem antes lhe virem perguntar se ele era outra pessoa... Resumindo, ao fim de 5h, mandaram-no ir para casa, com raio-x feito, diagnóstico optimista e com a promessa de um contacto passada uma semana! Obviamente, num país avesso aos tratamentos com químicos, foi necessário o meu colega pedir algo para lhe reduzir o inchaço e para atenuar as dores. Melhor ainda foi preciso ser ele a pedir um par de muletas, quando não se conseguia mover sem ajuda...

No fundo, entre umas urgências a abarrotar de gente, em que os médicos andam ali e fazem o que podem para despachar todos os doentes, os enfermeiros andam constantemente a perguntar aos doentes se eles estão bem e precisam de alguma coisa e umas urgências em que apenas existe um médico de serviço, sem especialistas de serviço, e a indiferença dos enfermeiros, prefiro sem dúvida as primeiras. E quais são essas: as do paiseco auto-rotulado de 3o mundo por muitos dos que por lá vivem e que nunca viram como são os outros para poderem adjectivar o seu próprio país dessa forma!

O que vale é o seguro de saúde e a medicina privada, que é só para quem pode, obviamente, sendo que o prognóstico optimista passou quase imediatamente para bastante reservado, nos primeiros minutos de consulta com um especialista...

Temos obviamente muitos defeitos no nosso sistema nacional de sáude, mas por favor, os outros também os têm! No fundo, às vezes, vale mais estar calado do que deitar abaixo os nossos...

Cumprimentos

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Aquecimento global!



Hoje foi publicado o relatório final do Painel Intergovernamental para as Alteracões Climáticas (IPCC) e confirma-se as especulacões que tenho sustentado neste blog já à algum tempo: a temperatura média do planeta está a subir, e o motivo é muito provavelmente ligado à actividade humana, com um grau de confianca de 90%, de acordo com este painel de 500 especialistas de todo o mundo. De acordo com este relatório, as alteracões verificadas no clima global observadas no último decénio é só um princípio, esperando-se pior nas décadas que se avizinham. Furacões como o Katrina, tempestades de forte intensidade sazonais, invernos sem neve mesmo nas latitudes mais elevadas, derretimento progressivo dos pólos e extincão de algumas espécies ameacadas são alguns dos sinais que se esperam daqui para diante. Também se esperam períodos de vagas de calor, secas, e outros períodos de chuva intensa em certas partes do planeta antes não assoladas por estes fenómenos, o que dará origem a cerca de 200 milhões de refugiados climáticos, de acordo com este grupo de peritos. Está previsto um aumento de 200 para 800 milhões de seres humanos atingidos pela fome como consequência destas alteracões climáticas, sendo estas populacões maioritariamente provenientes de regiões mais desfavorecidas, como África, Ásia e Oceânia. Com o derretimento dos pólos, espera-se um aumento do nível dos oceanos na ordem dos 58 cm (embora as previsões sejam variáveis neste ponto, desde 20 ou 30 cm até ligeiramente acima de um metro), factor este que poderá aumentar o perigo de inundacões frequentes em nacões-ilha (como muitas que existem no Oceano Pacífico e Índico), cidades costeiras e países de baixa altitude (Holanda e Dinamarca na Europa, por exemplo).

Espera-se que a temperatura média do planeta aumente entre 1,8 a 4 graus célsius até 2100, tendo-se verificado um aumento de 0,6 graus na ultima década. A concentracão de dióxido de carbono na atmosfera nunca foi tão elevada desde à 650000 anos, sendo esta elevacão uma das explicacões da razão do aquecimento global dadas pelos especialistas.

Está na altura de se tracarem planos a médio/longo prazo para alteracão da actividade humana, nomeadamente a relacionada com a producão dos gases que contribuem para o efeito de estufa. Estas alteracões devem vir não só da iniciativa governamental e política, mas também por parte da iniciativa privada e da mudanca de atitudes a nível global, através da responsabilizacão individual.

Mais posts sobre este tema se seguirão.

Fontes: Todos os jornais do mundo!!!

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Mundo a preto-e-branco.

'Kjærlighetssorg' é um termo em norueguês cuja traducão é relativamente fácil. Significa 'broken heart' em inglês ou 'desgosto de amor', ou 'saudade de quem já não nos ama' (traducão muito liberal neste caso).

A realidade vista como um filme a preto-e-branco. Uma nostalgia e saudade de alguém que ainda existe, respira, move-se e vive, feliz ou infeliz, mas (orgulhosamente, aliviada(o)) independente de nós, daquele nós que já não existe, que agora é só eu e alguém outra(o). Todos os dias levanto-me da cama de manhã (e muitos outros anónimos homens e mulheres do mundo a preto-e-branco) e sente-se a falta de alguém que costumava acordar aqui ao lado de nós, antes, quando o mundo era a côres. Na neurologia existe um termo, o de membro-fantasma. Um membro-fantasma é a continuacão da percepcão sensorial de um membro que foi decapitado. O objecto físico já não existe, mas o cérebro continua a processar a (inexistente) informacão que supostamente deveria provir desse membro, dando a falsa sensacão de que este continua a existir.

Às vezes quando, sentado em frente a televisor, a meio de um filme no cinema, ao passear na rua, ao ler um jornal ou um livro, vem-me à cabeca a ideia "ela era capaz de achar isto interessante!", para no segundo seguinte me aperceber que já não é minha funcão transmitir estes detalhes. A pessoa existe para o mundo, mas não existe para nós. A linha de comunicacão está cortada, o cordão umbilical esmoreceu. O dia-a-dia é um silêncio permanente e uma procura por vezes desesperada por uma forma de colmatar a falta, o olvido. E no ar a permanente interrogacão, "quanto tempo vai durar esta saudade, esta ausência?".

Uma saudacão especial aos milhares (milhões) de homens e mulheres que vivem no mundo a preto-e-branco, aí pelo mundo fora, aonde quer que estejam.

Paulo.