domingo, fevereiro 04, 2007

No fundo, no fundo, vale mais estar calado...

Após um excelente dia de esqui, um estúpido acidente deixou-me um amigo incapacitado. Logo no local procurou-se a ajuda de enfermeiros/médicos que deveriam estar bem visíveis numa estância de esqui. Lá os encontrámos num local tudo menos de fácil acesso. O tratamento consistiu em ligar-lhe a perna e mandar-nos ir a um hospital em Estocolmo. Nem perguntaram se tinhamos transporte ou não!

Nas urgências de um hospital do centro da cidade, fomos recebidos com indiferença, o meu colega convidado a deitar-se numa cama e a esperar aí até ser atendido (onde é que eu já vi este filme...)! Entretanto na cabine envidraçada, enfermeiros(as) competentes continuavam a fazer o seu trabalho, rodeadas por doentes em macas, e sentados nas cadeiras. Médicos, nem vê-los... ao fim de 2h, lá recebo uma chamada a dizer que um médico já tinha aparecido não sem antes lhe virem perguntar se ele era outra pessoa... Resumindo, ao fim de 5h, mandaram-no ir para casa, com raio-x feito, diagnóstico optimista e com a promessa de um contacto passada uma semana! Obviamente, num país avesso aos tratamentos com químicos, foi necessário o meu colega pedir algo para lhe reduzir o inchaço e para atenuar as dores. Melhor ainda foi preciso ser ele a pedir um par de muletas, quando não se conseguia mover sem ajuda...

No fundo, entre umas urgências a abarrotar de gente, em que os médicos andam ali e fazem o que podem para despachar todos os doentes, os enfermeiros andam constantemente a perguntar aos doentes se eles estão bem e precisam de alguma coisa e umas urgências em que apenas existe um médico de serviço, sem especialistas de serviço, e a indiferença dos enfermeiros, prefiro sem dúvida as primeiras. E quais são essas: as do paiseco auto-rotulado de 3o mundo por muitos dos que por lá vivem e que nunca viram como são os outros para poderem adjectivar o seu próprio país dessa forma!

O que vale é o seguro de saúde e a medicina privada, que é só para quem pode, obviamente, sendo que o prognóstico optimista passou quase imediatamente para bastante reservado, nos primeiros minutos de consulta com um especialista...

Temos obviamente muitos defeitos no nosso sistema nacional de sáude, mas por favor, os outros também os têm! No fundo, às vezes, vale mais estar calado do que deitar abaixo os nossos...

Cumprimentos

1 comentário:

viking disse...

Olá!

Por aqui (Norguga) também há montanhas de problemas práticos no que se refere ao sistema de saúde, mas os tipos gostam de se gabar que têm o melhor sistema do mundo (até à anúncios na TV a gozar com os sistemas de saúde dos outros países, veja-se a arrogância!).

Uma teoria que ouvi de um norueguês (que partilha a mesma perspectiva que eu) é a de que era verdade que tinham o melhor sistema de saúde na década de 70, mas que depois de receberem o rótulo, encostaram-se à sombra da bananeira e o sistema não evolui desde lá. Outro factor pode ser a quantidade de clientes, que não motiva o desenvolvimento do sistema (isto é, em países com mais utentes nos hospitais, há mais possibilidade de reclamacão e daí mais pressão sobre a qualidade do sistema). Um terceiro factor é puramente cultural: o pessoal de cá ainda tem a filosofia viking (fatalista, às vezes) de que a dor e a doenca é uma coisa privada e é mau gosto queixar-se aos outros ('It is not a gentleman's way to share his ilness with others', como diz o ditado inglês) e deve ser suportada sozinho (daí a taxa de suícidios, talvez!). O outro lado cultural é o da individualizacão na sociedade escandinava, e da desconeccão entre trabalho (fornecer a cura) e o lado pessoal, que está tão intimamente associada nas culturas mais mediterrânicas.

Abraco
:-)
Paulo