segunda-feira, julho 24, 2006

Quando política e ciência se atropelam!!!

Fiquei revoltado quando hoje li que 8 países da UE se preparavam para boicotar o novo quadro de financiamento da ciência da UE, apenas e só por este admitir o financiamento de projectos onde se utilizem células estaminais embrionárias.

As células estaminais embrionárias são a grande esperança da comunidade médica e científica para se encontrar uma forma de minorar as consequências de doenças neurodegenerativas como Parkinson ou Alzheimer.

Em toda a UE há milhares de embriões congelados excedentários que são destruidos ao fim de 3 anos de armazenamento. Estes provêm de operações de fertilização medicamente assistida, procedimento este onde, por norma, se criam embriões em número superior ao necessário para a primeira tentativa, para o caso desta falhar.

É irracional que não se possam utilizar estes embriões que serão, pura e simplesmente despejados numa qualquer incineradora, para fins científicos, desde que os dadores forneçam autorização para isto.

Sabe-se que os países que se opõem a esta investigação são, ou conservadores ou governados por partidos conservadores! O que não se sabe é se os políticos eleitos representam a vontade de uma população! Neste caso acredito que tal não aconteça, principalmente num país como a Alemanha, cujo governo foi um dos que inicialmente ameaçaram chumbar o programa de financiamento!

No final foi aprovado o orçamento, com os votos contra de Polónia, Áustria, Malta, Eslováquia e Lituânia com algumas alterações ao texto inicial. No fundo está-se a atirar areia para os olhos das pessoas! Ao financiar-se a investigação em células estaminais apenas nos países onde tal é permitido, proibindo a criação de novas linhas celulares, está-se a privilegiar num dado momento aqueles cujos governos/populações que são mais "open minded" e a colocar um sinal de sentido proibido à frente dos outros, o que em termos futuros poderá significar uma dependência destes em relação aos primeiros em termos técnicos e de conhecimento na matéria! Em vez de se discutir o sim ou sopas às células estaminais, deveriam-se criar comités de acompanhamento mistos, com pessoas de vários sectores profissionais, para analizar as vantagens do projecto e se este respeitaria todos os preceitos éticos!

Cumprimentos

RC

quarta-feira, julho 19, 2006

Europa de Leste

Ola pessoal,

Neste momento encontro-me num internet cafe em Krakow, Polonia. A Europa de Leste tem-me surpreendido imenso. Os paises estao a desenvolver-se muito rapidamente e a qualidade de vida nas capitais e muito elevada. Bratislava e um sonho de cidade: a periferia ainda esta fortemente marcada pelo dominio e a austeridade sovietica, mas o centro esta em franco desenvolvimento. O mesmo se aplica a Krakow. E uma cidade moderna e dinamica. E ambas as cidades sao bastante limpas, quando se toma em consideracao o tamanho destas.

Os precos sao ridiculamente baixos. Ontem apanhamos um taxi que nos levou de uma ponta a outra da cidade e acabamos por pagar 10 zloty (mais ou menos 2 euros e meio). Na Noruega, o mesmo servico custaria pelo menos 50 zloty. Os restaurantes sao muito baratos, com 20 zloty consegue-se almocar (5 euros).

Os eslavos demonstram-se ainda um pouco timidos em relacao aos estrangeiros e a ideia de falar ingles. Muitos literalmente escondem-se e fogem dos estrangeiros. Em Krakow o cenario e ligeiramente diferente, muito por causa da enorme populacao de estudantes que estuda nesta cidade.

Ontem estive em Auschwitz e foi impressionante. A visao mais arrepiante foi uma sala onde nos foi apresentada uma vitrina de 15 metros de largura com 2 toneladas de cabelo humano em exposicao. Calcula-se que e o correspondente a 30000 pessoas - uma pequena cidade. Este cabelo foi cortado a mulheres e criancas mortas numa das camaras de gas apos a sua morte. Muitos dos visitantes sentiram-se desconfortaveis com esta visao, incluindo eu proprio. Numa das vitrinas vimos tambem fotografias de varios milhares de prisioneiros em exposicao. Todas as fotografias expostas correspondiam a pessoas que morreram no campo de Auschwitz. Em media, sobreviviam 3 a 4 meses depois da chegada. Foi impressionate ver fotografias de pessoas reais, mortas por um regime politico e uma ideologia racial.

Auschwitz-Birkenau e exactamente como no filme da Lista de Schindler. E grande (em 1944 acomodava 90 mil pessoas simultaneamente), desagradavel e depressivo.

Voltando para temas mais alegres, outra nota extremamente positiva em relacao a estas paragens orientais e a populacao feminina. Sempre considerei o prototipo sueco/dinamarques como a populacao mais atractiva, juntamente com largas faixas da Frisia, Holanda e Norte da Alemanha. Agora tenho de juntar a lista a faixa de populacao que vive na Eslovaquia, Republica Checa e sul da Polonia. As mulheres de Krakow sao absolutamente incriveis, para alem de serem simpaticas e afaveis. Ainda nao vi uma recepcionista de hotel em que tenho estado que nao tenha despertado em mim o desejo imediato de a convidar a mudar-se para Trondheim. As vezes tenho a impressao de qe estou numa versao 4 vezes mais barata da suecia quando ando na rua.

Amanha viajo em direccao a Gdansk (antiga Danzig) no norte da Polonia. Vou ficar no apartamento novo duma velha namorada de a 5 anos atras. E engracado a reaccao que se tem quando se reve paixoes antigas. Ja a muito tempo que nao pensava nela, mas depois de um telefonema a dois dias atras, dou comigo a vaguear nos meus pensamentos e memorias de vez em quando. Sinto-me um pouco nervoso por reve-la outra vez. Agora estamos ambos mais proximo dos 30 anos e mudamos imenso e estou expectante em relacao a pessoa que vou (re)encontrar amanha. Hoje comprei roupa nova e cortei o cabelo e ando de um lado para o outro na cidade com um nervoso miudinho, como se fosse a primeira vez que me encontro com ela.

Da Europa de Leste e tudo, para ja. Vienna foi tambem muito interessante, mas isso fica para outro post...

Abracos
Czeszc!
;-)
Paulo.

segunda-feira, julho 17, 2006

Breves reflexões

Terrorismo

Desta vez foi Bombaim, o centro financeiro da Índia, uma das maiores economias do Mundo. Mais de 200 pessoas morreram, bem mais que em Londres, há 1 ano. No entanto, como é longe do chamado mundo civilizado, a nossa comunicação social (e quando digo nossa refiro-me à Europeia, em geral) quase ignorou estes atentados. É mais importante o Cannavaro ter insultado a irmã de Zidane do que mostrar que a luta contra o terrorismo, contra a morte de pessoas inocentes, não está nem de perto nem de longe terminada!

Médio Oriente

Nunca fui defensor da causa Palestiniana. Pelos mais variados motivos. A Palestina, como estado e os Palestinos, como povo, são uma invenção recente. Não concordo com ataques a civis inocentes e foi este o alvo que a chamada causa Palestiniana sempre escolheu para tentar impor a sua vontade. Os Israelitas também não estão isentos de culpas nesta matérias! Após um movimento migratório que teve inicio no início do séc passado, movimento esse que atingiu o seu auge após a 2a guerra mundial, conseguiram formar um estado Judaico com o apoio das Nações Unidas e em especial dos países normalmente designados Ocidentais. Numa zona do globo considerada terra santa por 3 das principais (se não as principais) religiões do planeta, numa zona onde a religião Muçulmana é maioritária seria quase impossível não resultarem daqui tensões! Nestas últimas semanas, após vários anos de uma calma relativa, em que progressivamente Israel foi libertando territórios por si entretanto ocupados, como resposta à invasão de que foi alvo pelos países vizinhos, a guerra voltou! O rapto de um soldado Israelita foi o pretexto para a invasão da entretanto desocupada faixa de Gaza. O rapto de mais 2 soldados pelo movimento Xiita Hezbollah levou a uma invasão do Sul do Líbano e a bombardeamentos a Beirute, em especial ao aeroporto internacional! Jámais serei defensor do lema de "combate da violência com violência" e defendo portanto que estes actos Israelitas têm que ser condenados pelas Nações Unidas! No entanto, terão que ser realizados todos os esforços possíveis para desarmar o Hezbollah e limitar a acção do Hammas. Estes dois grupos terroristas são os instigadores da violência naquela região e havendo uma força das Nações Unidas presente permanentemente no Líbano, esta deveria realizar todos os esforços para impedir o crescimento deste grupo terrorista! E com estas tensões todas no médio oriente, e a crise na Coreia do Norte, lá está o petróleo a bater recordes, e em breve a inflacção a fazer-se sentir nos nossos bolsos!

Este texto de Tiago Barbosa no Kontratempos, mostra uma visão parecida com a que tenho. Para quem tiver paciência, aconselho a sua leitura e uma visita ao blog.

Caso Mateus vs CalcioCaos

Em pouco mais de 4 meses a justiça Italiana condenou 4 dos maiores clubes Italianos num processo complexo de fabricação de resultados. 3 desceram de divisão e iniciam o próximo campeonato com pontuação negativa. A Juventus (o maior clube Italiano) perdeu os 2 últimos títulos (2005 e 2006). Em Portugal, a AAC denunciou em Março a utilização irregular do jogador Mateus por parte do Gil Vicente, no jogo que opos as duas equipas, e ainda se anda a discutir quem é que há-de decidir o quê! O clube de Barcelos, recorreu aos tribunais civis, o que é ilegal segundo as normas internacionais, e implica uma descida de divisão! Esta liga é uma palhaçada e a nossa justiça é tão burocrática que é impossível um processo como o do Apito Dourado, ter sucesso! Talvez não fosse má ideia, numa altura em que tanto se fala numa reforma da justiça, tentar copiar os bons exemplos que alguns países nos dão. O problema é que isto irá contra muitos interesses instalados...

Pedra Filosofal

Afinal a demanda pela pedra filosofal, aquela que transformaria em ouro qualquer metal inferior ao ouro em que tocasse, poderia ter alguma razão de ser! Na edição desta semana da revista científica Science um grupo de cientistas Australianos argumenta ter descoberto uma bactéria capaz de transformar metais tóxicos em grãos de ouro. Se esta descoberta se confirmar, vai haver uma corrida para tentar descobrir uma forma de a utilizar industrialmente para a produção de ouro. E se isto se verificar, há muita gente que vai perder dinheiro, pois o valor do ouro irá desvalorizar imenso!

Cumprimentos

RC

sexta-feira, julho 07, 2006

Nas rotas do extinto império austro-húngaro

Amanhã viajo para Viena com o fim de participar no Congresso Anual Europeu de Neurociências organizado pela FENS. Depois do congresso pretendo viajar com alguns colegas de trabalho na Europa Central e de Leste. No menu estão cidades como Viena, Bratislava, Budapeste, talvez Munique, talvez Cracóvia, e depois rumo ao norte através do tradicional roteiro do norte (Berlim, Copenhaga, Gotemburgo, Oslo). Deste modo, estarei provavelmente ausente (ou então escreverei entusiasticamente, mas infrequentemente e a espasmos) deste blog furante umas duas semanas. Prometo voltar com inspiracão redobrada e talvez alguns apontamentos de viagem.

Abraco
;-)
Paulo.

quarta-feira, julho 05, 2006

Trondheim



Pegando no desafio do Virgílio e evitando o tema habitual do futebol destes últimos tempos, vou-vos descrever a cidade na qual vivo à quatro anos: Trondheim.

Trondheim, ao que parece, não é assim tão diferente do ambiente que o Virgílio tem descrito acerca do Canadá. Tem uma populacão de 150 mil habitantes mas um raio urbano oficial de 13 km, dando-lhe uma densidade populacional baixíssima, à boa moda escandinava. Existem muitos espacos verdes e zonas vazias dentro da cidade. Não existem arranha-céus e é raro o edifício com mais do que 3 andares, mesmo no centro. É uma cidade universitária, com a NTNU, a mais prestigiada universidade técnica na Escandinávia, com cerca de 25 mil estudantes. Um sexto dos habitantes desta cidade são estudantes razão pela qual a demografia da cidade tem um pico no sector etário entre os 20 e os 30 anos de idade. Em Julho encontra-se a cidade quase deserta, quer pelas férias dos estudantesm quer pela romaria dos locais em direccão a temperaturas mais amenas no sul. O inglês torna-se língua oficiosa na cidade durante este mês, fruto da invasão em massa de turistas abastados americanos, japoneses e espanhóis que para aqui vêm nos seus cruzeiros.

Falando do clima, pode-se considerar como tropical quando consideramos a latitude a que esta cidade se encontra. Felizmente é uma cidade costeira protegida pelo fjord mais largo da Noruega e banhada pela corrente do Golfo, o que proporciona invernos relativamente suaves e verões amenos de 20 a 30 graus centígrados em alguns dias. No Inverno já experienciei teperaturas na ordem dos -25, mas a temperatura média fica-se pelos -5. Se tracarmos uma linha de latitude por cima da cidade, verificamos que se encontra à mesma latitude que Reykyavique na Islândia, o norte do Alasca e Canadá e a Sibéria, tudo locais onde a temperatura pode descer facilmente a uns desagradáveis -50 no Inverno. É preciso descer uns 600 km em latitude para estar ao mesmo nível de Oslo, Estocolmo e Helsíquia (1000 para Copenhaga).

A cidade celebrou o seu primeiro milénio em 1997. Foi fundada pelo rei viking Olav Trygvasson e é a capital da zona central da Noruega, chamada Trøndelag. Quando foi fundada chamava-se Nidaros, por se encontrar nas margens do rio Nidelva. A cidade atingiu um estatuto especial em 1030, quando enterraram o rei-santo Olav den Hellige um ano depois da batalha de Stiklestad, e a cidade tornou-se alvo de peregrinacão e capital do reino durante mais de 300 anos. Ainda hoje são coroados os reis da Noruega na bela catedral de Nidaros, que domina imponente o horizonte da cidade.

Os locais falam um dialecto especial (trondersk) que é apontado pelos noruegueses de outras zonas como bastante cru, uma linguagem de camponeses e pescadores. Muitos chamam à cidade bygdahovedstaden(a capital das aldeias) por causa do seu ambiente calmo no centro. É frequente não se ver quase ninguém na rua durante as noites de inverno. No verão dominam as bancas de venda de morangos e frutos silvestres na Torg, a praca central de Trondheim.

A cidade é rodeada por várias cadeias de pequenas montanhas (500 a 700 metros de altitude) cobertas de florestas coníferas. A paisagem é impressionante. As zonas de Bymarka e Estenstadsmarka flanqueiam a cidade a oeste e este, respectivamente, e é frequente encontrarem-se milhares de noruegueses a passear nestas florestas durante os fins-de-semana. No inverno pratica-se esqui de fundo (langrenn) e o snowboard tem-se tornado cada vez mais popular na montanha de Vassfjellet a meros 25 km a sul da cidade. No verão destaca-se a vela e a orientacão como desportos dominantes.


Para visitar, a cidade é cara e pode-se ver tudo o que há para ver num único dia. O que impressiona na cidade não é a sua vida cultural ou o ambiente urbano. O que é marcante é a moldura natural em que se insere: as montanhas, as florestas, os lagos e o fjord. Isto não quer dizer que não haja vida cultural: existe uma abundante escolha de grupos e gostos musicais, uma orquestra sinfónica profissional, um teatro estatal e vários grupos independentes, um par de museus e galerias, e um largo leque de actividades desportivas à disposicão no clube da universidade, o NTNUI. Em Trondheim toda a gente apoia o clube local de futebol, o Rosenborg, que joga em casa no Lerkendal, a um mero par de quilómetros do centro.

Se um dia quiserem ver tudo isto pelos vossos olhos, mandem-me um email.

:-)
Paulo.

terça-feira, julho 04, 2006

Feijões, morangos, tomates, batatas e afins

Quando para estes lado o sol brilha alto (mas não muito) e quente (bastante) as minhas palavras parecem evaporar e as ideias parece que faltam depois de um fim de semana prolongado que acaba hoje.
Pois então, depois de o Ricardo ter abordado temas tão proeminentes na nossa sociedade, resta-me mudar um bocado a agulha e falar-vos do meu quintal!
Pois é, no meio da cidade, mesmo onde toda a vida nocturna e diurna se centra, moro eu numa casinha acolhedora que tem atrás uma leirinha de terra bem fértil onde qualquer semente germina e brota numa planta mágnifica. A leira não é grande e a maneira de cultivar dos canadianos é típica de quem tem tanto espaço que acaba por fazer tudo de uma forma desorganizada (tal como os quartos deles e as casas deles, mas ao contrário das cidades que parecem traçadas a régua e esquadro). Mas temos o suficiente para termos várias espécies de tomates, pepinos, cenouras, alfaces, morangos, abóbora, amoras e morangos. Ah! Esquecia-me de mencionar os espinafres, o feijão e as ervilhas!
Uma das coisas que gosto nesta cidade são os paradoxos! Têm uma baixa da cidade que é mais morta que um estádio de futebol num dia em que não há jogo. É uma cidade baseada no petróleo e no gás natural, mas o ar é puro. É uma cidade mas mesmo no meio encontram-se estes quintais, uns maiores, outros mais pequenos, uns mais variados, outros mais monótonos. Mas a beleza de morar mesmo no centro da cidade e ter um quintal que permite fazer um belo molho de tomate apenas com coisas do nosso quintal, sem pesticidas ou outros tratamentos... impagável!
E como são as vossas cidades?
Para a semana estarei de regresso à Europa, mas vou passar uns dias a Londres e arredores para ver como são as coisas. De certeza que terei histórias para contar.
Abraço,
Virgilio

segunda-feira, julho 03, 2006

Falemos de...tudo menos bola!!!

Bem, estou farto de escrever sobre o Mundial. E de certeza que está tudo farto de ler notícias sobre as lágrimas do Ronaldo, a baliza do Ricardo que encolheu, as promessas de Scolari a nossa sra do Caravagio, etc!

Há dois assuntos que têm estado na ordem do dia nos últimos meses, mas aos quais muitos pouca ou nenhuma importância se deu! O 1º é do referendo que teve lugar no dia 21 de Maio na provincia Sérbia do Montenegro e que resultou na separação deste da Sérbia e da formação de um novo país na velhinha Europa. O 2º tema será o (velhinho) referendo a favor da interrupção voluntária da gravidez!


O Montenegro é o mais recente país do Velho Continente.Trata-se de um pequeno país, com apenas 14000 km2 e pouco mais de 600.000 habitantes residentes no país. Desde 1992, fruto da guerra do Balcãs, que o Montenegro e a Sérvia formavam um único país. No mês passado foi realizado um referendo que ditou o fim desta União e o nascimento de dois novos países a Sérvia e o Montenegro (o parlamento Sérvio foi mais rápido que o Montenegrino a decretar as novas fronteiras do país, como tal, o Montenegro é mesmo o país mais jovem!). O referendo foi seguido de perto pela UE e pela ONU. Era necessário que mais de 55% dos eleitores votassem a favor da independência para que o escrutínio fosse considerado válido. Tal, de facto, aconteceu, por uma pequena margem! Mas será que este referendo reflectiu de facto a vontade todos os Montenegrinos!? Um observador mais desatento, dirá que sim. Mas se analisarmos alguns factos com atenção iremos chegar a outra conclusão. Antes de mais, o Montenegro é a colónia de férias dos Sérvios, do género do nosso Algarve, com a diferença de ser a única costa que a Sérvia tinha! É um país importador, nem de perto nem de longe auto-suficiente, que dependerá do turismo e da ajuda do FMI para sobreviver! Um Montenegrino que quisesse estudar, por norma fazia-o na Sérvia, afinal era o mesmo país, e, pelo menos em Belgrado, a Universidade tem fama e qualidade. Para além disso, como em quase todos os países da Europa de leste, existiu uma grande diáspora para o resto da Europa em busca de melhores empregos e salários durante as duas últimas décadas! A estes que, sendo Montenegrinos de nascença, não residiam no país, foi vetado o direito a pronunciar-se no referendo de Maio! Facto ainda mais curioso é o estudante Montenegrino que de um momento para o outro passa quase a ser "apátrida", um bocado ao jeito do filme "Terminal". Considero eu então que este referendo não manifestou em nada a vontade de um povo, mas sim de uma facção desse povo, mais tradicionalista e conservadora! As regras deste referendo foram orquestradas por aqueles que, sedentos de poder, depressa perceberam que, aceitando os votos de toda a população, jamais alcançariam os seus intentos! E assim se faz um país, se confirmam umas fronteiras que jamais existiram e se criam mais uns quantos tachos para os iluminados do costume! Tudo sob o olhar "desatento" e condordante da UE e da ONU!

Passando para a questão da interrupção voluntária da gravidez, parece que vamos voltar a ter um novo referendo! Quem me conhece sabe bem a minha opinião sobre o assunto. Sou contra o aborto, mas não posso admitir que mulheres morram ou sofram graves complicações de saúde por não terem capacidade económica para se deslocarem a um país estrangeiro onde tal prática seja legal! Caso fosse legal, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) teria obrigatoriamente que colocar ao dispor do cidadão para além de médicos especialistas, psicólogos que ajudariam a pessoa a recuperar de uma experiência que será deveras traumática. Não acredito que alguém aborte por prazer, nem que o use como método contraceptivo! Mas voltando à questão do referendo, considero um desperdício de recursos, num país que atravessa uma grave crise económica, realizar-se um referendo sobre esta matéria! Temos um parlamento eleito democraticamente, com representantes das mais variadas regiões do país, como tal deveriam ser os Srs deputados a tomar esta decisão! E não só por questões financeiras! São eles quem estão melhor informados, no final terá que ser pelo parlamento que terá que passar a decisão formal! Este referendo é apenas uma forma de atirar a batata quente para o povo,do género decidam vocês que eu não tenho coragem para arcar com as consequências de uma decisão destas! O que irá acontecer mais uma vez é que, a participação vai ficar aquém dos 50% dos eleitores, os eleitores com mais baixos níveis de escolaridade e que não percebem que o que está em causa não é mandar as mulheres abortarem, mas dar-lhes o direito de o fazerem em condições dignas, vão-se abster. Os que são contra vão-se mobilizar e mais uma vez o "não" irá vencer! E porque é que eu penso desta forma? Porque quando se realizou o outro referendo, perguntei aos meus avós se não iam votar e a resposta deles foi que -Não! E eu perguntei porquê? E a resposta foi qualquer coisa do género: - Não acho que tenha que ser eu a decidir isso. Devo realçar que a freguesia onde os meus avós residem foi aquela que registou os mais altos índices de abstenção nesse referendo e em todas as consultas populares realizadas no país no pós-25 de Abril! E como os meus avós de certeza que há muitas pessoas!

Por isso, senhores políticos, tenham coragem. Peguem o boi pelos cornos e acabem com este circo mediático que agora vai voltar a acontecer! Até Janeiro nem quero pensar nos debates e nos confrontos ideológicos a que vamos assistir! Os vips da direita com T-shirts a dizer "sim à vida" contra os arruaceiros da esquerda a dizer "sim ao aborto", como se fosse isso que está em causa! Eu digo, sim à interrupção voluntária da gravidez, acabe-se com o negócio sujo do aborto clandestino e dê-se às mulheres o apoio e acompanhamento necessários!

Sem mais.

RC