quarta-feira, março 08, 2006

Money, money, money!

A estória que se segue passou-se no primeiro dia em que cheguei à Noruega, em Abril de 2002.

Depois da aventura de chegar a Oslo ontem à noite, entretenho-me a subir e a descer a avenida Karl Johan, livre de trânsito, a artéria aorta da cidade de Oslo, e, diga-se, da Noruega. Num topo temos a Estacão Central com a maior densidade de 'junkies' de drogas pesadas da Europa, no outro extremo temos o palácio do rei, de seu nome Harald V. Pelo meio temos o Stortinget, parlamento norueguês, e a rua comercial mais longa e mais movimentada do país. É Sábado de manhã, e o povo comeca a despertar e a vir à rua, alguns ainda pesadamente ressacados da noite anterior, outros mais espevitados e determinados em fazer as compras da semana antes de se retirarem da cidade e fugir para o seu idílio florestal no Domingo com o resto do núcleo familiar.
Da minha parte, depois de um par de horas de turismo, comeco a sentir uma ponta de fome. Olho à minha volta, mas só vejo é bares e pubs ao longo da rua. Aqui e ali talvez um restaurante, mas os precos não me parecem nada convidativos. Ainda a semana passada li que Oslo foi classificada este ano como a terceira cidade mais cara do mundo. Dado o meu orcamento limitado, convinha-me arranjar qualquer coisa mais acessível à minha carteira.
Viro uma esquina e vejo a minha salvacão: McDonalds!
Entro e decido-me a dar uma vista de olhos pelo precario, não vá ter alguma surpresa desagradável. O meu norueguês ainda é pobre, mas os pósters com fotografias de tamanho industrial, talvez aí pendurados especificamente para salvar bárbaros sul-europeus como eu, ajudam-me na tarefa. Ora bem, Big Mac, 60 coroas [1 coroa norueguesa = 12 eurocêntimos; daí 60 coroas = 7 euros e meio, mais coisa menos coisa]. Bem, é caro, sim senhor, mas comparando com as 45 coroas dinamarquesas [= 50 norueguesas] que costumava pagar em Copenhaga, até é aceitável. Ainda mais considerando que terreno arável na Noruega é quase inexistente, com excepcão para a batata e aveia nalgumas partes do país, e que os vikings têm de importar quase todos os legumes e frutas, nem me posso queixar por demasia. Conformo-me com o preco e dirijo-me confiante ao balcão.
- How can I help you, sir? - interroga-me um espadaúdo e declaradamente entediado adolescente ruivo vestido com o uniforme da companhia. Entre ele e a estátua do Ronald McDonald que está plantada mesmo ao lado, a única diferenca é o sorriso idiota da estátua (de que se ri ele afinal? Ainda não percebeu que hoje em dia sorrisos tão largos associados a fotografias com criancinhas inocentes está definitivamente fora de moda, muito por culpa do Michael Jackson e afins?).
- I would like to have a Big Mac menu.
- Small, medium, big or extra big, sir?
- Hummm... Medium.
- That will be 65 then. (Ora-me esta! Então os tais 60 coroas era o preco do small?) Do you want to have any sauce on the side?
- Yes... Ketchup and mustard.
- That´s 2 crowns for each. Do you want to eat in or take it with you, sir?
Qual é a diferenca? Será que é alguma forma de demonstracão de hospitalidade meter-se na vida dos outros aqui na Noruega? Ainda para mais com a temperatura no limite do ponto de congelacão lá fora, porque raios haveria eu de me meter na rua a comer um hamburguer nesta altura do ano?
- In. (definitivamente!)
- Ok, that´s 2 crowns more. (!!!!!????) It will be 71, sir.
Filho da mãe, isto é o que eu chamo inflacão galopante! De 60 sobe o preco 11 coroas em menos de 20 segundos de conversa. Resignado abro a carteira e pago a minha refeicão. Pego no tabuleiro, sento-me na mesa livre mais próxima e aprecio o ambiente - dum lado uma família imigrante iraniana a discutir calorosamente algo numa língua que ninguèm percebe, do outro uma mãe a tentar acalmar um puto de 2 anos num berreiro que faria prever um futuro brilhante nalguma banda de rock gótico.
No fim da minha breve refeicão, dirijo-me à casa-de-banho. Na porta da dita, destaca-se uma pequena caixa metálica com uma ranhura. O pequeno letreiro com o texto "10 Kr" ao lado esclarece-me rapidamente acerca do seu propósito. Outra vez abro eu a minha carteira, cada vez mais leve de momento a momento.
Saio do Mac, mas ainda sinto as pernas cansadas. Vejo uma igreja. Dado o frio, decido-me a sentar-me uns minutos no seu interior. Quando chego à porta, mais um letreiro: "Turists - 20 Kr". Por uns segundos vacilo entre a conversão instantânea ou a aceitacão da minha realidade materialista como ateu. Irritado, abandono o plano inicial e procuro a cabine telefónica mais próxima. Encontro uma numa esquina, primo rapidamente um numero, e ouco no auricular:
- Está?
- Olá pai! Já estou em Oslo!
- Ok. A viagem correu bem?
- Sim, correu. Olha, podes meter mais uns trocos na conta?

4 comentários:

RC disse...

Estas tuas estórias são sempre estrombólicas!!! Tens que publicar é aquele fabuloso mail que escreveste uma vez quando estavas num estado de elevação inspiracional patrocinado pelo deus baco e afins!!!;)

Grande abraço,

RC

ps: essa de pagar por comer no MAc nunca tinha ouvido!!!

viking disse...

Olá!

As tais 2 coroas por comer no local é um imposto norueguês relacionado com os gastos de limpeza no restaurante. Na minha opinião é ridículo, parece uma desculpa para meter as pessoas a andar, mas se calhar é cultural, sei lá...

Abraco e ainda bem que gostastes, foi um bocado escrito à pressão!
:-)
Paulo.

Anónimo disse...

Pela tua história já estás na Noruega há 4 anos né? Tiveste quanto tempo na Dinamarca? Tás a acabar o Doutoramento é isso? E na Noruega fizeste o que? Conseguiste bolsa pela FCT? Planos futuros...tens? outro doutoramento? Responde... já há algum tempo que não falamos... abraço... Fugi

viking disse...

Qual é o teu email, mesmo? (acho que o perdi algures no meio do caos digital que é a minha agenda).

(ao Vasco)