Bem, estou farto de escrever sobre o Mundial. E de certeza que está tudo farto de ler notícias sobre as lágrimas do Ronaldo, a baliza do Ricardo que encolheu, as promessas de Scolari a nossa sra do Caravagio, etc!
Há dois assuntos que têm estado na ordem do dia nos últimos meses, mas aos quais muitos pouca ou nenhuma importância se deu! O 1º é do referendo que teve lugar no dia 21 de Maio na provincia Sérbia do Montenegro e que resultou na separação deste da Sérbia e da formação de um novo país na velhinha Europa. O 2º tema será o (velhinho) referendo a favor da interrupção voluntária da gravidez!
O Montenegro é o mais recente país do Velho Continente.Trata-se de um pequeno país, com apenas 14000 km2 e pouco mais de 600.000 habitantes residentes no país. Desde 1992, fruto da guerra do Balcãs, que o Montenegro e a Sérvia formavam um único país. No mês passado foi realizado um referendo que ditou o fim desta União e o nascimento de dois novos países a Sérvia e o Montenegro (o parlamento Sérvio foi mais rápido que o Montenegrino a decretar as novas fronteiras do país, como tal, o Montenegro é mesmo o país mais jovem!). O referendo foi seguido de perto pela UE e pela ONU. Era necessário que mais de 55% dos eleitores votassem a favor da independência para que o escrutínio fosse considerado válido. Tal, de facto, aconteceu, por uma pequena margem! Mas será que este referendo reflectiu de facto a vontade todos os Montenegrinos!? Um observador mais desatento, dirá que sim. Mas se analisarmos alguns factos com atenção iremos chegar a outra conclusão. Antes de mais, o Montenegro é a colónia de férias dos Sérvios, do género do nosso Algarve, com a diferença de ser a única costa que a Sérvia tinha! É um país importador, nem de perto nem de longe auto-suficiente, que dependerá do turismo e da ajuda do FMI para sobreviver! Um Montenegrino que quisesse estudar, por norma fazia-o na Sérvia, afinal era o mesmo país, e, pelo menos em Belgrado, a Universidade tem fama e qualidade. Para além disso, como em quase todos os países da Europa de leste, existiu uma grande diáspora para o resto da Europa em busca de melhores empregos e salários durante as duas últimas décadas! A estes que, sendo Montenegrinos de nascença, não residiam no país, foi vetado o direito a pronunciar-se no referendo de Maio! Facto ainda mais curioso é o estudante Montenegrino que de um momento para o outro passa quase a ser "apátrida", um bocado ao jeito do filme "Terminal". Considero eu então que este referendo não manifestou em nada a vontade de um povo, mas sim de uma facção desse povo, mais tradicionalista e conservadora! As regras deste referendo foram orquestradas por aqueles que, sedentos de poder, depressa perceberam que, aceitando os votos de toda a população, jamais alcançariam os seus intentos! E assim se faz um país, se confirmam umas fronteiras que jamais existiram e se criam mais uns quantos tachos para os iluminados do costume! Tudo sob o olhar "desatento" e condordante da UE e da ONU!
Passando para a questão da interrupção voluntária da gravidez, parece que vamos voltar a ter um novo referendo! Quem me conhece sabe bem a minha opinião sobre o assunto. Sou contra o aborto, mas não posso admitir que mulheres morram ou sofram graves complicações de saúde por não terem capacidade económica para se deslocarem a um país estrangeiro onde tal prática seja legal! Caso fosse legal, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) teria obrigatoriamente que colocar ao dispor do cidadão para além de médicos especialistas, psicólogos que ajudariam a pessoa a recuperar de uma experiência que será deveras traumática. Não acredito que alguém aborte por prazer, nem que o use como método contraceptivo! Mas voltando à questão do referendo, considero um desperdício de recursos, num país que atravessa uma grave crise económica, realizar-se um referendo sobre esta matéria! Temos um parlamento eleito democraticamente, com representantes das mais variadas regiões do país, como tal deveriam ser os Srs deputados a tomar esta decisão! E não só por questões financeiras! São eles quem estão melhor informados, no final terá que ser pelo parlamento que terá que passar a decisão formal! Este referendo é apenas uma forma de atirar a batata quente para o povo,do género decidam vocês que eu não tenho coragem para arcar com as consequências de uma decisão destas! O que irá acontecer mais uma vez é que, a participação vai ficar aquém dos 50% dos eleitores, os eleitores com mais baixos níveis de escolaridade e que não percebem que o que está em causa não é mandar as mulheres abortarem, mas dar-lhes o direito de o fazerem em condições dignas, vão-se abster. Os que são contra vão-se mobilizar e mais uma vez o "não" irá vencer! E porque é que eu penso desta forma? Porque quando se realizou o outro referendo, perguntei aos meus avós se não iam votar e a resposta deles foi que -Não! E eu perguntei porquê? E a resposta foi qualquer coisa do género: - Não acho que tenha que ser eu a decidir isso. Devo realçar que a freguesia onde os meus avós residem foi aquela que registou os mais altos índices de abstenção nesse referendo e em todas as consultas populares realizadas no país no pós-25 de Abril! E como os meus avós de certeza que há muitas pessoas!
Por isso, senhores políticos, tenham coragem. Peguem o boi pelos cornos e acabem com este circo mediático que agora vai voltar a acontecer! Até Janeiro nem quero pensar nos debates e nos confrontos ideológicos a que vamos assistir! Os vips da direita com T-shirts a dizer "sim à vida" contra os arruaceiros da esquerda a dizer "sim ao aborto", como se fosse isso que está em causa! Eu digo, sim à interrupção voluntária da gravidez, acabe-se com o negócio sujo do aborto clandestino e dê-se às mulheres o apoio e acompanhamento necessários!
Sem mais.
RC