segunda-feira, julho 03, 2006

Falemos de...tudo menos bola!!!

Bem, estou farto de escrever sobre o Mundial. E de certeza que está tudo farto de ler notícias sobre as lágrimas do Ronaldo, a baliza do Ricardo que encolheu, as promessas de Scolari a nossa sra do Caravagio, etc!

Há dois assuntos que têm estado na ordem do dia nos últimos meses, mas aos quais muitos pouca ou nenhuma importância se deu! O 1º é do referendo que teve lugar no dia 21 de Maio na provincia Sérbia do Montenegro e que resultou na separação deste da Sérbia e da formação de um novo país na velhinha Europa. O 2º tema será o (velhinho) referendo a favor da interrupção voluntária da gravidez!


O Montenegro é o mais recente país do Velho Continente.Trata-se de um pequeno país, com apenas 14000 km2 e pouco mais de 600.000 habitantes residentes no país. Desde 1992, fruto da guerra do Balcãs, que o Montenegro e a Sérvia formavam um único país. No mês passado foi realizado um referendo que ditou o fim desta União e o nascimento de dois novos países a Sérvia e o Montenegro (o parlamento Sérvio foi mais rápido que o Montenegrino a decretar as novas fronteiras do país, como tal, o Montenegro é mesmo o país mais jovem!). O referendo foi seguido de perto pela UE e pela ONU. Era necessário que mais de 55% dos eleitores votassem a favor da independência para que o escrutínio fosse considerado válido. Tal, de facto, aconteceu, por uma pequena margem! Mas será que este referendo reflectiu de facto a vontade todos os Montenegrinos!? Um observador mais desatento, dirá que sim. Mas se analisarmos alguns factos com atenção iremos chegar a outra conclusão. Antes de mais, o Montenegro é a colónia de férias dos Sérvios, do género do nosso Algarve, com a diferença de ser a única costa que a Sérvia tinha! É um país importador, nem de perto nem de longe auto-suficiente, que dependerá do turismo e da ajuda do FMI para sobreviver! Um Montenegrino que quisesse estudar, por norma fazia-o na Sérvia, afinal era o mesmo país, e, pelo menos em Belgrado, a Universidade tem fama e qualidade. Para além disso, como em quase todos os países da Europa de leste, existiu uma grande diáspora para o resto da Europa em busca de melhores empregos e salários durante as duas últimas décadas! A estes que, sendo Montenegrinos de nascença, não residiam no país, foi vetado o direito a pronunciar-se no referendo de Maio! Facto ainda mais curioso é o estudante Montenegrino que de um momento para o outro passa quase a ser "apátrida", um bocado ao jeito do filme "Terminal". Considero eu então que este referendo não manifestou em nada a vontade de um povo, mas sim de uma facção desse povo, mais tradicionalista e conservadora! As regras deste referendo foram orquestradas por aqueles que, sedentos de poder, depressa perceberam que, aceitando os votos de toda a população, jamais alcançariam os seus intentos! E assim se faz um país, se confirmam umas fronteiras que jamais existiram e se criam mais uns quantos tachos para os iluminados do costume! Tudo sob o olhar "desatento" e condordante da UE e da ONU!

Passando para a questão da interrupção voluntária da gravidez, parece que vamos voltar a ter um novo referendo! Quem me conhece sabe bem a minha opinião sobre o assunto. Sou contra o aborto, mas não posso admitir que mulheres morram ou sofram graves complicações de saúde por não terem capacidade económica para se deslocarem a um país estrangeiro onde tal prática seja legal! Caso fosse legal, o Serviço Nacional de Saúde (SNS) teria obrigatoriamente que colocar ao dispor do cidadão para além de médicos especialistas, psicólogos que ajudariam a pessoa a recuperar de uma experiência que será deveras traumática. Não acredito que alguém aborte por prazer, nem que o use como método contraceptivo! Mas voltando à questão do referendo, considero um desperdício de recursos, num país que atravessa uma grave crise económica, realizar-se um referendo sobre esta matéria! Temos um parlamento eleito democraticamente, com representantes das mais variadas regiões do país, como tal deveriam ser os Srs deputados a tomar esta decisão! E não só por questões financeiras! São eles quem estão melhor informados, no final terá que ser pelo parlamento que terá que passar a decisão formal! Este referendo é apenas uma forma de atirar a batata quente para o povo,do género decidam vocês que eu não tenho coragem para arcar com as consequências de uma decisão destas! O que irá acontecer mais uma vez é que, a participação vai ficar aquém dos 50% dos eleitores, os eleitores com mais baixos níveis de escolaridade e que não percebem que o que está em causa não é mandar as mulheres abortarem, mas dar-lhes o direito de o fazerem em condições dignas, vão-se abster. Os que são contra vão-se mobilizar e mais uma vez o "não" irá vencer! E porque é que eu penso desta forma? Porque quando se realizou o outro referendo, perguntei aos meus avós se não iam votar e a resposta deles foi que -Não! E eu perguntei porquê? E a resposta foi qualquer coisa do género: - Não acho que tenha que ser eu a decidir isso. Devo realçar que a freguesia onde os meus avós residem foi aquela que registou os mais altos índices de abstenção nesse referendo e em todas as consultas populares realizadas no país no pós-25 de Abril! E como os meus avós de certeza que há muitas pessoas!

Por isso, senhores políticos, tenham coragem. Peguem o boi pelos cornos e acabem com este circo mediático que agora vai voltar a acontecer! Até Janeiro nem quero pensar nos debates e nos confrontos ideológicos a que vamos assistir! Os vips da direita com T-shirts a dizer "sim à vida" contra os arruaceiros da esquerda a dizer "sim ao aborto", como se fosse isso que está em causa! Eu digo, sim à interrupção voluntária da gravidez, acabe-se com o negócio sujo do aborto clandestino e dê-se às mulheres o apoio e acompanhamento necessários!

Sem mais.

RC

4 comentários:

viking disse...

Ola Ricardo,

Gostei deste post (era caso para dizer que poderia ter sido desdobrado em 2).

Em relacão à interrupcão involuntária da gravidez, concordo contigo, mas tenho a experiência de que para alguns grupos de pessoas nos países nórdicos, o aborto é um método contraceptivo ao mesmo nível que a pílula e o preservativo. O aborto pode ser feito quimicamente em que a paciente só tem de visitar o médico para se certificar que o método decorreu bem (se for feito nas primeiras semanas; o resultado do aborto é então um sangramento ligeiramente mais abundante daquele observado na menstruacão, creio eu, no qual se encontra o feto; neste método não se necessita qualquer intervencão cirurgica). Quanto às consequências éticas/pessoais deste ponto de vista, não me atrevo a comentar. Pessoalmente consideraria o aborto como uma decisão pesada e pessoal com uma certa dose de ponderacão. Mas isto não é válido para todos. Já vi pessoas tomarem esta decisão de uma forma bastante leve e rápida, mesmo em Portugal.È uma questão bastante dificil.

:-)
Paulo

Anónimo disse...

Oi!
Tenho lido os vossos posts e por norma não gosto de interferir mas hoje permiti-me um pequeno comentário sobre a super-polémica questão do aborto em particular do referendo: acho que apesar do que possam porventura pensar os mesmos, que o referendo não é um passar de batata quente antes uma injecção de discussão nesta monotonia apolítica que é este nosso pequeno país. É nestes pequenos actos, em particular os referendos que todos se permitem discutir: reparaste como sempre que surge a possibilidade de um referendo a temática sobe novamente às conversas de café? O português anda tremendamente conformado e muito me assusta que pessoas da minha geração pouco ou nada discutem...Tenho 23 anos, tirei o curso em Cbr estive na DG e pude observar de uma posição privilegiada este facto. Nós deveríamos ser a geração mais inconformada, mais lutadora ou mais dialogante! E não somos! Nos cafés as conversas com temática relevante são poucas ou nenhumas! Fala-se dos tristes q andam a fazer figurinhas tristes na TV e pouco mais! E nada como um referendo ou uma hipótese de referendo para que se esqueçam, se bem que por poucos instantes infelizmente,as revistas cor-de-rosa e se acorde para a realidade! Daí que até ache que deviamos ter bastantes mais consultas à população porque esta anda adormecida...Sim pq a q anda acordada é pq é espicaçada por interesses político-partidários que nem sempre entende ( para não radicalizar com um nunca entende)....Fica a minha opinião e desculpem um comentário tão grande.
Patrícia Oliveira

William Jack disse...

Bem, eu estou quase no mesmo barco do Ricardo. Sou claramente a favor do direito de escolha e do direito ah interrupcao voluntaria da gravidez em condicoes dignas. Nao acho que o referendo venha trazer nada de novo ao nosso pais. Eh claro que o tema vai ser discutido nas mesas de cafe enquanto a epoca portuguesa nao comecar, e dessa discussao pouco saira de produtivo: os que sao contra continuam contra e vao votar, os que sao a favor continuam a favor e talvez tenham tempo para votar, e depois os que nao querem saber vao continuar a nao querer saber ate que um dia se vejam no meio da historia. No fim, pessoas a favor talvez mudem de ideias e pessoas contra idem, mas o referendo nao sera valido e o problema vai continuar a existir. Concordo que eh necessario estimular a discussao na sociedade portuguesa mas se a discussao nao leva ah resolucao do problema, temos um parlamento eleito pelo povo para discutir esses problemas e encontrar solucoes. Ninguem nos perguntou se queriamos o aumento do IVA, ou dos precos da gasolina, ou reformas na educacao! E para mim esses sao problemas muito mais importantes de causar discussao na nossa sociedade para que as pessoas percebam de um vez por todas que a educacao eh o pilar do desenvolvimento de qualquer pais! Que os impostos so podem baixar se as pessoas deixarem de fugir aos impostos!!! E no entanto ninguem nos perguntou nada nem gerou discussao!!!
Percebo a tua opiniao Patricia, mas a verdade eh que existe um problema que eh sempre atirado para as maos do povo e continua sem uma solucao!
Abraco,
Virgilio

RC disse...

O objectivo de um referendo não poderá passar por fomentar as conversas de café!!! É certo que se discute pouco política no nosso país e muito coisas que não têm interesse nenhum! Mas não é com referendos que isso vai mudar!

Neste caso concreto, como ainda hoje foi possível ler nos jornais, continuam mulheres e médicos a ser condenados, porque não há coragem para se aprovar a lei no parlamento. Dizem-nos que é promessa eleitoral,mas também se prometeu não aumentar os impostos e foi o que se viu! Para além do mais, há os custos que uma iniciativa destas acarreta! Há toda uma estrutura que tem que ser montada e isso custa dinheiro, ou julgam que a malta que está nas mesas de voto a dizer "confere" e a abrir e a fechar a urna faz aquilo apenas e só para dar uma ajudinha! Há uns anos eram bem pagos, agora não são mal pagos!!! Mais boletins, o espaço físico, os sistemas informáticos, etc...Não se pode brincar com o dinheiro que é de todos apenas para que se fale do assunto no café!

Muito obrigado pelos comentários, em especial à Patrícia por ter sido a primeira vez que o fez neste espaço. Infelizmente foram todos para o ponto dois do meu texto! Paciência! Não consegui que se discutissem coisas novas. Porque a discussão do ponto 2 para mim já é bem velha!!! ;)

Cumprimentos,

RC