quarta-feira, junho 14, 2006

Multitasking!

Quando eu era pequeno, tanto em tamanho corporal como de cabeca, era costume dominical eu e o meu pai ir-mos dar um passeio pela cidade. Como primeira paragem, costumávamos visitar a banca de jornais local e o meu pai perguntava-me sempre se eu queria levar alguma revista de banda-desenhada para casa. A tradicão estava tão enraizada que hoje em dia quase apenas me recordo das duas únicas vezes em que tal não aconteceu. O meu problema era (e ainda é) o tempo que demorava a tomar a decisão. Qual é que hei-de levar hoje? Uma simples escolha chegava a demorar largos minutos. Frequentemente impacientava-se o meu pai e, depois de muita insistência e muita e longa reflexão, lá escolhia uma das revistas em exposicão. Várias vezes me interrogou o meu pai o porquê de tanta demora. A resposta foi sempre a mesma: independentemente de quão muito atractiva me parece a revista que escolhi, fico sempre com a angústia de não saber o que estaria nas outras que não escolhi. E com a seguinte e sábia sentenca rematava o meu pai a conversa: não se pode ter tudo na vida, às vezes há que fazer escolhas.

Hoje, vinte anos passados , mais coisa menos coisa, debato-me com o mesmo problema em cada dia que passa. Mais particularmente, em relacão a saber distribuir prioridades na utilizacão das parcas 24 horas que a terra demora a dar uma rotacão sobre si mesma. É sabido que o corpo e a alma precisam uma média de 6 a 8 horas de sono, mais a descair para o mínimo no meu caso, e com esse bendito e regenerador quarto de dia não posso eu contar para nada mais que divagacões subconscientes e/ou despidas de livre arbítrio. Com o verão norueguês posso ainda espremer um par de horas extra desta medida de sono, por graca do sol que (também) não descansa. Mas que fazer com as restantes 18 ou 20?

Num dia normal levanto-me da cama e penso na sequência de eventos hipotéticos que me esperam no desfilar do dia: a lista é por vezes tão extensa que me dá mais vontade de declarar falência energética e render-me à evidência de que mais cedo ou mais tarde vou acabar o hoje que agora comeca exactamente no mesmo sítio e na mesma horizontalidade em que estou agora. Corajosamente lá me levanto em mais um épico dos dias que correm. Ora bem, aqui vai a lista para hoje: ir à cidade pagar a conta da electricidade no banco, ir aos correios mandar uma carta para a fundacão que me concede a bolsa, escrever três eposts, um para o meu supervisor em Portugal, um para uma amiga que se vai casar este verão, outro para um investigador americano que me perguntou ontem onde é que ele podia comprar bilhetes de avião baratos na Europa, ir à net procurar as ditas informacões, escrever o post da semana para o blog português, pesquisar as referências para este na net, se necessário, escrever um post para o blog norueguês que mantenho sobre o campeonato do mundo de futebol, ler as últimas no Record, Público e/ou Bola para me manter actualizado e ter referências para o último blog, corrigir a gramática do norueguês, ler o Dagbladet e/ou o Aftenposten para encontrar referências para comparacão, ter uma reunião com o Raymond (programador do laboratório) sobre que tipo de ferramenta estatística é a mais apropriada para o tipo de dados que eu tenho na minha experiência actual, treinar os ratos no labirinto para a minha experiência, teclar os resultados no computador, aplicar uma primeira análise com o programa que escrevi hoje, testar o tal programa para tentar encontrar possíveis bugs, escrever um outro programa como favor ao meu supervisor, ler um par de artigos para o "journal Club" de amanhã, falar com o chefe pelo telefone para discutir os próximos pormenores da experiência, comecar a escrever a seccão de métodos do suposto artigo que escreverei, treinar no ginásio, fazer o jantar, meter a roupa na máquina para lavar, falar com a minha colega de apartamento, tirar a roupa da máquina e metê-la a secar, pelo canto do olho ver o último episódio do C.S.I. mais o resumo dos jogos do mundial e um pouco do telejornal, (tentar) ler um capítulo de um livro sobre vela, ler mais umas páginas de um livro sobra a vida da rainha Kristina da Suécia e puff... apagam-se as luzes e caio exausto no mundo dos sonhos. E este é um dia médio!!! (perdoem-me os leitores estas confidências, (d)escritas numa forma quase à la Saramago).

E ainda diz o meu pai (supramencionado nesta crónica) que eu estou sempre cansado!

Até para a semana!
;-)
Paulo.

2 comentários:

William Jack disse...

Como eu te compreendo Paulo!
Mas o que da mais gosto eh chegar ao fim do dia e pensar que aproveitei cada segundo!
Abraco,
Virgilio

Anónimo disse...

Uff, até cansa a ler;)

Abraço,

RC