terça-feira, maio 23, 2006

A educação, o nível de vida e a neve!

Depois de algumas semanas um pouco afastado da realidade regresso com mais umas palavras.
Já há algumas semanas que medito sobre o assunto da educação, estimulado por diversos emails da mailing list de bioquímica sibre Bolonha.
Estou num país diferente, e pegando no post de ontem do Ricardo, num país onde a qualidade de vida é bastante elevado.
Neste país a universidade é feita para os alunos (algo que sempre defendi) e a classificação e comentários dos alunos são tornados públicos. Existe mesmo um site acessível a todos onde essa informação é colocada e já muitos foram os alunos que vi a consultarem esse site para escolherem que cadeiras fazer. Uma Universidade feita para os alunos onde a maioria das cadeiras é dada por vários professores, que acabam por entrar em disputa pela melhor classificação, e dessa forma aplicam-se de maneira a satisfazer as ambições dos alunos. Desde cópias à nossa espera no início das aulas com os slides que vão ser apresentados, a resumos da matéria com respectivos capítulos dos livros recomendados. Uma universidade que disponibiliza aos alunos a possibilidade de, durante os supostos quatro meses de férias passarem-nos num laboratório a serem pagos, permitindo o desenvolvimento das habilidades de cada um nas mais diversas áreas. Mas claro que se o desejarem, têm dois semestres (termos) em que podem fazer cadeiras para adicionar ao curriculum.
E esta é a altura em que pensamos: Que sistema maravilhoso!
Pois, mas a verdade é que o valor das propinas é de tal ordem que os alunos pedem empréstimos para pagar propinas (ou os pais emprestam sem juros) para poderem frequentar a universidade, para exercerem um direito universal! A grande maoria dos alunos trabalham desde os 16 anos para juntarem dinheiro para ajudar a pagar a universidade, e muitas vezes quando lá chegam têm de continuar a trabalhar para se sustentarem, e depois quando acabam os primeiros anos são sempre para pagar esses empréstimos.
Agora reflectimos: será que vale a pena? E olhamos para o nosso pequeno Portugal. Na verdade será assim tão dificil demonstrar a estes países que é possível ter um sistema de ensino superior maioritariamente financiado pelo estado e com a mesma política de: "As Universidades existem porque existem alunos!"?
Consigo pensar num entrave a este sonho que tenho. É que por aqui, são muito poucos os licenciados desempregados. As universidades existem para o mercado em que estão enquadradas e dessa forma um tal investimento por parte dos alunos é recompensado. E em Portugal todos sabemos como estão as coisas, como as Univresidades estão desenquadradas do mundo que as rodeia.
Podia estender-me aqui falando de como se ganha muito dinheiro na construção ou nos poços de petróleo, o que é também um factor importante, mas acho que no seguimento das palavras do Ricardo tinha de referir esta peculariedade de um dos países com maior qualidade de vida. Mais uma vez confirmo que a educação, e a boa educação, enquadrada no tempo e espaço é uma ferramenta vital para o desenvolvimento de um país e o melhoramento da qualidade de vida.
Porque será que demora tanto tempo aos políticos portugueses abrirm os olhos e ver o que já mais de meio mundo percebeu?
Abraço da terra onde já não há neve e a primavera veio em força

5 comentários:

viking disse...

Olá Virgílio,

Acho interessante o teu post e estimulou-me a escrever um sobre o sistema de ensino daqui do norte da Europa também.

Relativamente aos licenciados desempregados em Portugal,concordo contigo na questão de que os números de alunos aceites cada ano não espelham a realidade do mercado de emprego. Infelizmente, estudar também é status em Portugal e tenho reparado que nos últimos 10 anos tornou-se "moda" a classe média portuguesa ter os seus filhos na universidade. Mas também lembrem-se de que Portugal está a atravessar uma crise económica (existem 7.6 % de desempregados, creio eu) e não há crescimento da economia. Também pesa outro factor em portugal. Acho que é tempo de tanto o sector publico como o privado aceitar flexibilidade de escolhas de carreira. Em Portugal, se uma pessoa estuda Biologia, por exemplo, está então destinada a ser ou professor ou investigador na área de Biologia. Parece que o curso destruiu a capacidade da pessoa fazer o que quer que seja noutra área. Assiste-se a uma super-especializacão. Há que mudar as atitudes e acreditar na flexibilidade de capacidades. Se um tipo é capaz de acabar um curso em matemática aplicada, por exemplo, não será este também igualmente capaz de gerir um restaurante ou trabalhar numa reparticão de financas?

Abraco
Paulo

RC disse...

De facto existem amplas diferenças entre o ensino Europeu e o Norte Americano. Um curso universitário no contexto Norte-Americano é visto como formação pessoal, para valorização do currículo. Num contexto Europeu é visto como uma especialização, como um meio para o futuro emprego! Na Holanda recordo-me que havia incentivos a que os alunos assistissem a cadeiras doutros cursos. Sei que em alguns cursos da FCTUC (mais nas engenharias) tal também acontece. Muitos dos alunos aproveitam para irem assistir a cadeiras por causa das notas. Uns poucos assistem a cadeiras para valorizarem a sua formação pessoal!

O maior entrave a que se olhe para a Universidade como um local de formação pessoal e não como um local para aquisição de uma profissão é o peso que as notas obtidas durante esta têm para o resto da vida activa do sujeito. Aqui no sistema escandinavo, olhando para alguns corriculos a que tive acesso, nunca vi a nota com que terminaram o secundário ou a universidade! O que interessa é única e exclusivamente a experiência que têm, as competências que evidênciam e a capacidade para se adaptar ao emprego a que se está a candidatar! Como tal, a entrevista e o contacto com anteriores empregadores são muito importantes. As cartas de referência não são um mero adereço. Aliás, até são, porque o empregador por norma prefere contactar directamente as referências, seja por telefone (quantas vezes já não tive reuniões com o chefe interrompidas por alguém estar a telefonar apedir informações ácerca de alguém que já lá tinha trabalhado!) ou por e-mail!

Há que repensar e muito o ensino num contexto EUropeu. Recentemente os alunos e ex-alunos (acima de tudo, aqueles que estão em melhor posição para avaliar o que de mau e bom temos na nossa formação!) de Bioquímica foram solicitados por um professor a dar a sua opinião ácerca do que deveria mudar no futuro plano de curso. No contributo que dei, sugeri que se abrisse o curso um pouco mais. Actualmente mentalizam-nos que a única saida é a investigação ou as anáises clínicas! Cadeiras nas áreas de gestão e empreendedorismo poderiam libertar a espírito criador que existe em cada um, mas que tem medo de se mostrar!

Para além da homogeneidade do ensino a nível Europeu, Bolonha poderia ser mais ambiciosa. Infelizmente, ainda é difícil colocar os governos Europeus a pensar de uma forma Europeista! Recentemente tive o prazer de conhecer um trabalhador da comissão europeia, responsável pelo programa Marie Curie, e ele fez-me ver que muitos dos defeitos que nós apontamos ao programa, eles também os apontam. Mas como mexem com questões governativas de cada estado, eles não têm poder para alterar as normas e o que está estabelecido! Esta União às vezes parece resultado de um casamento arranjado...

Cumprimentos,

RC

viking disse...

Olá outra vez,

Sim, também tenho reparadao que por aqui as notas do secundário e dos mestrados só servem como referência nas fases seguintes (para o acesso à universidade ou aos doutoramentos, respectivamente). Uma vez acabada a educacão formal, as notas esquecem-se e nunca mais alguém olha para elas, dando-se maior peso à experiência profissional passada e às competências pessoais. Creio que as notas dos secundário e universidade também se diluem um pouco com o tempo no curriculo, até mesmo em Portugal, até mesmo porque geralmente o pessoal só escreve com que média é que se acabou o curso e quase ninguém vai ao detalhe de ver as notas de cada cadeira, a menos que uma pessoa tenha algum interesse especial.

Também gostaria de que os curriculos universitários se tornassem mais flexíveis. Lembro-me que quando estava na FCTUC decidi-me a tirar umas aulas de holandês na faculdade de letras e fui tratado como uma ave rara, até mesmo a nível de secretaria. Citando um professor do departamento de Bioquímica no seu discurso de apresentacão do curso no já distante ano de 1997, "No fim todos vocês sairão daqui com um curso de bioquímica. Aquilo que vos vai verdadeirmanete distinguir uns dos outros quando acabado o curso são as outras capacidades que aprenderão fora das salas de aulas, naquilo a que vocês agora chamam hobbies.". Devia-se dar mais espaco e peso às actividades extra-curriculares em Portugal. aqui (Noruega), tem muito peso ter trabalhado como voluntário na assossiacão de estudantes ou ter sido líder da orquestra ou da equipa de basket da universidade, por exemplo. demonstra capacidade de lideranca e de organizacão.

Abraco
:-)
Paulo.

Anónimo disse...

So para dar uma achega!
Ha duas semanas conheci um rapaz que vai para harvard fazer um master in public administration. Ate aqui nada de especial. Mas o facto eh que o rapaz comecou com um Major (n sei bem s isso existe em portugal) em ingles, seguiu-se mai um grau em fisica, complemetado com doutoramento e alguns anos a trabalhar na HP. Agora decidiu ir para a area de administracao. Eh esta flexibilidade dos sistemas e das pessoas que eu admiro e penso que era em relacao a isto que o ricardo e o paula falavam. Achei que a historia se enquadrava bem aqui.
Abraco
Virgilio
PS- resta-me dizer que concordo com ambos!

RC disse...

Era exactamente a isso que me referia Virgílio. Esse tipo de exemplos são típicos na cultura Norte-americana. Na Europa é mais complicado.

Abraço