terça-feira, abril 04, 2006

Grounded!

Lembro-me que, há dois anos atrás, um dos meus supervisores preparava uma viagem a Praga com o objectivo de participar numa conferência a decorrer nessa cidade. Como meio de transporte, decidiu-se a tomar um comboio. Interroguei-o então sobre a possibilidade utilizar avião, como alternativa mais rápida e mais barata. A resposta que ele me deu alertou-me para um problema sobre o qual nunca antes tinha empregado a devida atencão: o impacto ecológico da aviacão moderna e a expansão comercial do seu uso.

Durante muitas décadas, a aviacão destinava-se a uso exclusivamente militar ou científico. Mais tarde, desenvolveu-se a aviacão comercial e no princípio esta era restringida aos bolsos mais abastados da sociedade. Mas com os desenvolvimentos tecnológicos e económicos das últimas décadas, voar tornou-se bastante acessível para a classe média ocidental. Especialmente nos últimos anos, com o aparecimento e desenvolvimento das viagens de baixo custo por parte de empresas como a Ryan Air, por exemplo, tornou-se uma pechincha viajar para qualquer parte do continente a precos impensados uns anos atrás. Aos precos que se praticam hoje em dia, pode-se dizer que é mais barato ir para o outro canto da Europa, quando planeada a viagem com antecedência, do que uma curta deslocacão de automóvel dentro do seu próprio país.

Mas alguma vez pensaram na quantidade de combustível que um 747 consome por cada deslocagem? Ou no impacto ambiental dos gases de estufa libertados por um jacto na alta atmosfera?

Não é minha intencão neste post expôr dados de quanto é que um avião comercial consome em combustível e que quantidades de poluentes este liberta. Mas asseguro-vos que é industrial. Não tenho tempo agora para confirmar factos na net, mas ouco uma voz no fundo da minha memória a gritar um número: que uma viagem de avião de Londres a Nova York liberta o equivalente em poluentes à mesma distância percorrida de automóvel quarenta vezes (por passageiro!)!. [Ver os seguintes links: 1, 2, 3, 4, 5]

Os últimos invernos escandinavos têm sido extraordinariamente quentes. Amigos em Svalbard (ilha norueguesa situada a 78 graus de latitude norte) queixam-se dos problemas climáticos nos pólos. A populacão de ursos polares encontra-se ameacada com o derretimento das calotes polares. Os efeitos climáticos em latitudes mais baixas também já comecam a notar-se de uma forma mais acentuada: basta recordar as catástrofes naturais que se viveram este ano no sul dos EUA com ciclones tropicais a tornarem-se cada vez mais frequentes. A temperatura global do planeta está a aumentar e com a explosão económica de novos mercados, como a China, apenas aumentará a emissão de maior quantidade de gases poluentes atmosféricos. Para piorar, há o desprezo por parte dos EUA, o maior contribuinte na emissão de gases com efeitos de estufa, do protocolo de Kyoto.

Para além do impacto ambiental, existe também o problema do combustível. Afinal de contas, o querosene é um derivado do petróleo, que, como todos sabem, é uma fonte de energia não-renovável. Recentemente li uma reportagem dada pelo primeiro-ministro sueco Göran Persson sobre a sua política ambiental corrente. Um dos maiores focos políticos do governo sueco actual é o planeamento da substituicão do uso do petróleo como matéria-prima vital na economia sueca. Segundo Persson, depois de várias reuniões com os responsáveis das maiores empresas suecas e especialistas de vários campos tecnológicos, a aviacão, utilizando a tecnologia actual, pode dar-se como extinta após o esgotamento das reservas petrolíferas a nível planetário. Não existe alternativa tecnológica ao uso do petróleo como combustível na aviacão moderna.

A nível pessoal, viajar é um dos meus maiores prazeres. E dadas as exigências impostas pelo dever profissional, convém viajar depressa e barato. Mas quando tomo em consideracão os custos ambientais, se calhar é melhor planear melhor as minhas viagens e escolher outros meios de transporte. Às vezes é preciso fazer pequenos sacrifícios pessoais para se obter uma sociedade melhor e mais saudável. E é a partir destes pequenos esforcos individuais e da consciêncializacão global destes factos que se pode reverter um cenário global futuro catastrófico.

8 comentários:

Anónimo disse...

Não é por não andares de avião que vais resolver os problemas do aquecimento global!

A solução passa por arranjar alternativas ao petróleo. Não é verdade que não haja alternativa a este na aviação! O Hidrogénio é já usado em voos espaciais e nos famosos voos turisticos, naquele avião que mais parece um disco voador, financiado pelo patrão da Virgin.

De facto os EUA não ratificaram o acordo de Quioto, no entanto, no ano de 2004 ou 2005 (agora não consigo precisar) algumas das suas cidades resolveram assinar este protocolo à revelia do seu presidente, entre estas cidades estão Nova Iorque, Boston, entre outras grandes cidades.

A Suécia está muito avançada na utilização de combustíveis alternativos ao petróleo. Passe a publicidade, nas estações de serviço Preem, só encontram combustiveis verdes (gasolina sem chumbo, etanol, hidrogénio, e outro que agora não me recordo). No Brasil toda a gasolina tem uma parte de Bioetanol adicionado. A Islândia, diz-se estar perto (dentro de 40-50 anos)de se tornar energeticamente autosuficiente - o investimento numa economia baseada no Hidrogénio tem sido imenso neste país.

Se resolveres perder algum tempo com esta questão, verás que o investimento feito hoje em dia em investigação relacionado com a utiliza~ção de H2 como combustível é cada vez maior! O próprio Bush tem libertado rios de dinheiro para este campo (li um relatório sobre isto há 2 anos, se soubesse o link colocava-o aqui).

Para terminar, esse teu colega até parece estar a tentar marcar uma posição. Mas gostava de saber se ele é como todos os escandinavos que quando chega a casa acende todas as luzes e só as apaga quando se deita! Consumo eléctrico=consumo de petróleo=aumento do aquecimento global! Não basta defender certas causas com um acto! Tem que se ser congruente com aquilo que se defende. O mal tem que ser combatido pela raíz e não pelo topo. Não se vai resolver nada ao não andar de avião. Resolve-se comprando um carro a H2 que aqui nem paga portagens ou estacionamento na cidade! Porque é que as pessoas não compram? Mentalidade...
Abraço

RC

viking disse...

Olá Ricardo,

O meu colega tem a conta de electricidade mais baixa de toda a gente que eu conheco. No meu apartamento pagamos cerca de 3000 kr por trimestre em electricidade. O meu colega paga 300 kr. Os noruegueses (ele é alemão) nem acreditam neste número. O meu colega é um radical e leva um estilo de vida inacreditável para a maior parte das pessoas que conheco. Ele utiliza bicicleta nas suas deslocacões diárias, mesmo no pico do inverno (e a cidade de Trondheim tem um perimetro urbano de 13 km com elevacões de 150 metros em certos pontos). Para deslocacões mais extensas, comboio ou autocarro (transportes publicos) são a sua primeira opcão. A lista de "excentricidades" por parte deste meu colega não pára (imaginem uma pessoa que utiliza a mesma roupa durante semanas a fio de forma a poupar dinheiro e combater o consumismo!), e embora a princípio pensei que ele era apenas um excêntrico, comeco a perceber que o estilo de vida que ele leva é o único compatível com um futuro sustentável para a humanidade.

Quanto ao impacto da aviacão na poluicão atmosférica global, é de 5 a 6 %, contra os 22 % da frota automóvel mundial. Quando pensarmos que existem uns milhares de aviões nos céus diariamente contra uns (largos) milhões de automóveis no chão, dá para perceber que o contributo da aviacão comercial não é assim tão insignificante. Eu também pensava como muitos outros que o contributo da aviacão é insignificante quando compararmos com a industria e os tranportes terrestres. Mas, mesmo com o impacto negativo provocado pelos ataques terroristas, as pessoas utilizam o avião mais frequentemente no nosso mundo cada vez mais global. Já repararam nos investimentos feitos por parte das maiores companhias aéreas para criar aviões com maior capacidade (o lancamento recente do Airbus A380 com capacidade para 555 passageiros é um exemplo)?

A Islândia é um paraíso energético, tiveram a sorte de ter uma fonte de energia geotérmica praticamente inesgotável (imagine-se a quantidade de enrgia necessária para manter a Blue Lagoon quente durante todo o ano, por exemplo) e uma populacão à medida (cerca de 300 mil habitantes).

Quanto ao hidrogénio, é necessário utilizar energia para isolá-lo, para além de que li nalgum sítio que neste momento o hidrogénio é mais utilizado como uma espécie de catalizador para outras reaccões de combustão. Acredito que o hidrogénio seja uma alternativa promissora, mas não acredito que venha a cobrir as necessidades energéticas crescentes de bilhões de seres humanos.

Não sei exactamente quão avancada se encontra a tecnologia associada ao uso de hidrogénio na aviacão, mas não esquecamos que o resultado da combustão do hidrogénio (o vapor de água) é também um gás contribuinte para o efeito de estufa, que embora não tenha quase nenhum impacto ao nível do sólo, é deveras nocivo para o efeito de estufa quando libertado na alta atmosfera.

Estou satisfeito com a decisão unilateral de certas cidades americanas em reduzir as emissões de gases poluentes, mas os EUA continuam a ser o maior contribuinte. E que tipo de mensagem está o estado mais poderoso do mundo a transimitir ao resto do planeta, ao igonrar estes acordos? Não se esquecam da China que está a transformar a sua economia no sentido mais ocidental. Quando o chinês médio consumir enrgia e produtos e produzir tanto lixo como um americano médio, então estamos todos metidos num grande sarilho. Basta que o parque automóvel per capita chinês se torne igual ao americano para que o equilíbrio ecológico se perca totalmente. Li que em Pequim o estado tem incentivado as pessoas a utilizar menos as bicicletas e a utlizar automoveis (atraves do desaparecimento de certas vias para bicicletas, por exemplo), de forma a incentivar o consumo e a compra de automoveis, e assim fomentar crescimento económico.

Aquilo que pretendo apontar neste blog, é o de que não existem alternativas milagrosas e que o problema não reside na forma de energia a utilizar. O problema é um problema político/filosófico do mundo ocidental. O ideal ocidental baseia-se em consumir e utilizar mais e mais. Mas isso é tema para se explanar mais profundamente noutro post no futuro...

Abraco e obrigado pelosn comentários
:-)
Paulo.

Anónimo disse...

3000 kr eh animal!!!! Eu pago 160 por mes e não me considero poupado!!!

Ok, o teu colega não é escandinavo, por isso retiro o que disse;)

O novo Airbus é maior e mais económico que qualquer um dos modelos em actividade da mesma companhia. E se tivermos um avião a transportar mais pessoas isto significa que não são necessárias tantas viagens, logo menor consumo.

O H2O é extremamente nocivo? Explica-me por favor!

O grande problema do Hidrogénio actualmente é o seu armazenamento. Ainda não se conseguiu desenvolver tanques estanques. Quando tal se conseguir então a tecnologia entrará de imediato no mercado, tendo apenas que vencer o lobi do petróleo e convencer o cepticismo dos consumidores em relção às coisas novas! A tecnologia do H2 baseia-se na produção de electricidade a partir de H2. Chamam-lhe a pilha de H2 e sendo uma fonte inesgotável, os teóricos garantem que poderia cobrir facilmente as necessidades energéticas do planeta! Eu fiz alguma investigação sobre o assunto e pareceu-me promissor. Já há 10 anos que sigo a evolução da tecnologia, mas esta pouco avançou e só nos ´´ultimos 5 anos é que se notou um investimento sério nisto!

Quanto ao crescimento económico chinês, a culpa é única e exclusiva dos ocidentais que não souberam reconhecer os seus erros, logo não conseguem convencer os outros países de que o caminho para atingir a pujança económica não terá que ser exactamente aquele que nós seguimos! Felizmente parece-me que em África teremos mais influência que na Ásia e talvez consigamos ajudar estes países a conseguir desenvolver-se utilizando tecnologias amigas do ambiente!

Deixo um link sobre os diveross tipos de pilhas entre elas as de H2 para os que quiserem dar uma vista de olhos. Se tiverem tempo epaciência passem os olhos pelo resto do site. É deveras interessante! http://www.energiasrenovaveis.com/html/energias/hidrog_tecnologias.asp

Abraço,

RC

viking disse...

Olá outra vez!

Em relacão ao H2O como "greenhouse gas", deixo-te o link:
http://en.wikipedia.org/wiki/Greenhouse_gas

Tal como o artigo diz, a água é o maior gás de efeito de estufa. O maior perigo é o índice de vapor de água na troposfera, já que a nível do sólo existe um equilíbrio autosustentado. No entanto, a sua contribuicão ainda não está totalmente compreendida.

O novo Airbus é mais económico e maior. Exactamente. Concordo. Logo mais barato. Logo mais acessível. Logo mais pessoas podem utilizar o Airbus. Logo mais procura. Logo mais Airbusses. Logo mais poluicão. Logo mais consumo. O problema não é o Airbus, o problema é a lógica do sisema económico que o sustenta. Contruam Aibusses. Concordo. Os custos baixam (de manutencão). Mas mantenha-se o mesmo preco por bilhete. Dado o custo de construcão, as companhias vêem o Airbus como algo menos aliciante. Menos lucro, se calhar. Mas melhor ambiente.

A producão de electricidade na Noruega basiava-se largamente na hidroeléctrica. Mas dadas as modificacões climáticas dos últimos anos, esta fonte tornou-se imprevisível e por vezes os precos modificam-se tremendamente. Daí as 3000 kr. Talvez a razão de ser tão barato na Suécia é devido à dependência do nuclear.

Em relacão ao hidrogénio, também tenho andado curioso em relacão a isso. Vou dar uma vista de olhos. Por aqui também anda pessoal da NTNU a trabalhar nisso.

Bem, tenho de ir trabalhar
:-)
Paulo.

RC disse...

Dei uma vista de olhos ao link que enviaste. Está muito boa a entrada da wikipédia sobre este assunto. Não é normal!

Se leres com atenção observas que o vapor de água é de facto o maior contribuidor para o efeito d e estufa, mas, os humanos não são responsáveis por este e os níveis deste na troposfera são mais ou menos uniformes.

Bom trabalho,

Abraço,

RC

viking disse...

Olá pessoal,

Tem piada, referi este assunto no meu trabalho durante o almoco e isto levou a uma discussão de 2 horas a juntar ao facto de que agora a minha alcunha por aqui é a de "red Paulo" e o pessoal assobiar a inetrnacional socialista cada vez que passam pelo meu escritório. Enfim! ;-)

Depois de pensar um pouco sobre o assunto, talvez a melhor sugestão que me ocorreu é a implementacão governamental de uma forma de "green taxes", em que as empresas pagam impostos sobre o impacto ambiental que estas provocam. O maior problema é o de que esta medida é extremamente impopular se tomada com firmeza (o mesmo se tem tentado com a industria do tabaco nos EUA). Também porque isto levaria à falência ou recessão de alguns dos sectores com maiores margens de lucro da sociedade (a grande industria, a industria petrolifera, a aviacão, a industria automóvel, etc). Algumas das comodidades tomadas com mais habituais no mundo actual tornar-se-iam bastante dispendiosas, como viajar, ou produtos baseados em plásticos, por exemplo.

É uma questão muito complicada. Basicamente, a ideia que tento transmitir é a de que o estilo de vida ocidental actual é insustentável a nível global. Acho que a melhor alegoria que posso utilizar é a seguinte: imaginem que uma companhia oferece-se para pagar-vos 1000 euros por mês se vocês deixarem regar o vosso quintal com produtos cancerígenos o resto da vida. Quantas pessoas aceitariam este contrato? No entanto, esta é a escolha que se toma todos os dias, sem nos darmos por isso.

Bem, portem-se
:-)
Paulo.

viking disse...

Sobre a solucão do hidrogénio, ver o seguinte link:

http://www.technologyreview.com/TRBlogs/wtr_15343,293,p1.html

ou

http://www.nature.com/news/2004/041004/full/041004-13.html

ou

http://www.nature.com/cgi-taf/DynaPage.taf?file=/nmat/journal/v2/n7/full/nmat940.html

O ponto em questão nestes artigos é o mesmo: o hidrogénio não é uma fonte de energia, é um "energy carrier". Isto significa que a energia extraída pelo seu consumo como combustível tem de ser produzida de uma outra forma.

Mais uma vez a mesma questão: o problema tem de ser abordado pela reducão do consumo.

RC disse...

Rapaz, antes de mais foste buscar exemplos dados por economista. Pensei que conseguisses fazer melhor;) Joking:)))

Há formas limpas de produção de H2. Um dia quando nos encontrarmos explico-te! Mas se te lembrares das aulas de Microbiologia pode ser que se faça luz na tua cabeça!;) Para além do mais quando se produz H2 a partir de metano o CO2 produzido poderá ser impedido de ir para a atmosfera de duas forma: armazená-lo no subsolo ou utilizá-lo na proução de produtos ricos em carbono! Também te posso mostrar uns artigos sobre isto um dia destes quando te for chatear! O problema da utilização do metano é o de sempre: a necessidade de uma fonte de energia.

Abraço,

RC

ps: As empresas já estão impedidas por lei de ultrapassar determiandos níveis de produção de H2. Para além do mais há imensos incentivos ao desenvolvimento de actividades não poluentes!

ps2: concordo plenamente contigo quando dizes que é necessário uma mudança de atitude em relação à forma como nos relacionamos com o ambiente. É acima de tudo o futuro das gerações vindouras que está em causa!