terça-feira, fevereiro 28, 2006

A semana vista ao longe!

Depois de um dia intenso faltaram-me as palavras. Mas nada melhor que recordar e realçar acontecimentos que para mim foram marcantes na semana passada.
Há uma notícia que, pela violência moral, marcou o país, ou pelo menos marcou-me a mim a esta distância: A morte por apedrejamento de um sem abrigo no Porto. A situação ganhou naturalmente outros contornos devido à orientação sexual da vítima e, é claro, à idade dos criminosos.
É uma pena que sejam necessários tais actos de violência para que muito seja posto em causa. Em primeiro lugar o facto de a lei portuguesa não considerar crime de ódio (e respectiva agravante penal) crimes relacionados com orientação sexual. Não estou a dizer que este tenha sido o caso, mas foi preciso um "famoso" homossexual da noite do Porto ter sido morto à pedrada para que este vazio penal seja posto às claras!
Por outro lado veio levantar mais uma vez a questão sobre estas instituições de acolhimento para jovens provenientes de familias carenciadas (e desequilibradas, digo eu), questão essa já levantada com o famoso Processo Casa Pia. Concordo em pleno com a existência destas instituições, mas parece-me que é cada vez mais evidente que não estão a cumprir o papel para o qual foram criadas. Naturalmente que fornecem uma "ferramenta" útil a esses jovens que na sua maioria foram privados de uma educação decente e, mais importante ainda, privados de uma oportunidade. Mas dar educação não pode ser apenas o despejar de conhecimento ou a aprendizagem de uma ferramenta válida para o futuro. Há que transmitir valores, valores que se ajustem às necessidades dos alunos, e não valores que reflictam a orientação religiosa dos responsáveis. Se em relação a uma escola "normal" diria que os professores não podem ser responsáveis pela transmissão de valores, mas são um pilar importante à sua preservação e estímulo, não posso deixar concordar com essa afirmação em instituições como aquela que alberga os suspeitos do crime. Mais importante que ensinar a rezar o terço deve ser ensinar o respeito pelos outros; mais importante que ir à missa deveria ser a prática de valores como a solidariedade.
Mas isto agora ia dar pano para mangas e o mais importante é realçar que mais uma vez o nosso sistema de ensino, neste caso muito particular, voltou a falhar. E vai ficar tudo na mesma?
A outra questão da semana para mim prende-se com o "nim" do governo em relação às centrais nucleares no país. Dizer apenas que não faz parte dos planos do governo para esta legislatura é o mesmo que eu pegar na minha vida, dividi-la em legislaturas de 4 anos e dizer que comprar uma casa não faz parte dos meus planos para esta legislatura (que termina em meia dúzia de meses). Com esta atitude fica para mim descurado um ponto importante - a discussão do assunto. Se uns podem acenar com os acidentes em centrais nucleares, outros podem fazer campanha aos combustiveis mais baixos. Neste momento confesso que não tenho posição formada devido à falta de informação. Mas queria apenas deixar bem marcado o ponto de que a discussão leva a mais conhecimento, e em Portugal refila-me muito, discute-se pouco e sabe-se quase nada!
E assim me despeço, e peço desculpa pelo atraso na publicação, mas o servidor estava de ferias no Rio de Janeiro com alguma brasileira jeitosa.
Já agora Bom Carnaval!

Virgilio Cadete

2 comentários:

RC disse...

Oh rapaz, na Europa, não houve atraso nenhum!!!;)

QUanto ao primeiro tema que abordas, não há dúvidas que as instituições de acolhimento de crianças não funcionam bem! Há mistura entre crianças que nunca conheceram um pai e jovens delinquentes capazes de influenciar alguém que não tem uma referência na vida! Para não falar na brutalidade com que os funcionários dessas instituições muitas vezes lidam com os garotos (não falo de violência física, atenção!!!). Tem que haver uma reforma muito grande do sistema, mas este problema não me parece que esteja "nas prioridades do governo"!

Quanto ao nuclear estou mais ao menos como tu! Não sou contra o nuclear desde que isso resolva em grande parte o nosso d+efice energético! Pelos vistos tal não acontecerá se adoptarmos esta via e os custos de construcção e desmantelamento serão elevadíssimos, se bem que seriam suportados por privados!

Por aqui não há Carnavais, mas pelos vistos em Portugal o Governo deu 3 dias de férias à malta...Espero que isto esteja previsto para depois não andarem a dizer que não conseguiram reduzir o défice para os valores a que se proposeram!!!

Abraço

viking disse...

Olá Virgílio,

Bom comentário da semana! Gostei!

Em relacão ao primeiro tema, não tenho muito a dizer, concordo contigo. Acho que o que falta às criancas nestas instituicões é uma figura paternal ou um exemplo a seguir. Do ponto de vista do desenvolvimento psicológico, acho que estas criancas identificam-se mais com os colegas da mesma idade e na mesma situacão, algo que acelera o seu desenvolvimento, por um lado, mas por outro, não têm uma referência sólida (ou se a têm, não necessariamente a melhor nalguns casos, talvez). É importante ter uma figura adulta como referência de forma a aferir, ou, chamemos-lhe, "calibrar" o sistema de valores morais de uma crianca.

Em relacão às centrais nucleares, aí já é um caso mais bicudo. Concordo com o Ricardo no ponto em que as centrais são talvez uma das formas de produzir energia mais rentáveis, seguras, e não-poluentes (pela definicão tradicional) em comparacão com as alternativas actuais. A queima de combustíveis fósseis é demasiado poluente e não renovável, e, neste momento, as renováveis não produzem o suficiente. O problema da solucão nuclear é duplo: por um lado, temos o problema de que a mesma tecnologia que é utilizada para produzir energia pode ser adaptada para enriquecer urânio e produzir armas. A entrega do prémio Nobel da Paz de 2006 à IAEA (International Atomic Energy Agency) veio pôr algum foco nesta questão, quando se pensa nesta altura que nacões como o Irão e a Coreia do Norte querem desenvolver os seus programas nucleares com fins infelizmente dúbios. O segundo problema prende-se com os resíduos, nomeadamente, o que fazer com eles. Aparte da Suécia (em que 52 % da electricidade é produzida pelos 10 reactores actualmente em funcionamento) e da Finlândia (com 4 reactores) que têm um planeamento concreto de armazenamento em pocos profundos, o resto do mundo não sabe lá muito bem o que fazer. Os resíduos demoram dezenas de milhares de anos até tornarem-se inofensivos. E o urânio também não é renovàvel. Riscos de acidente são pequenos, quando se têm uma equipa técnica competente à disposicão, mas agora que a moda do terrorismo pegou, se calhar uma central nuclear tornou-se um alvo muito apetecível (no entanto, acredito que o terrorismo nuclear a este nível requer demasiado conhecimento técnico e demasiado poder de infiltracão para ser praticado num futuro próximo).

Se calhar a melhor solucão é aquela proferida por Richard Heinberg no seu livro "Powerdown - Options and actions in a post-carbon world" (www.powerdown.ws). Segundo o autor, a política energética consumista actual é insustentável. O autor propõe que a melhor solucão é cortar no consumo. Através de arquitectura inteligente com vista a manter a temperatura constante no interior das habitacões sem o recurso a sistemas de aquecimento ou de refrigeracão, por exemplo. Ou se calhar as árvores de natal com 100 metros de altura e 10000 lâmpadas não sejam assim tão necessárias... Com a globalizacão comercial e a expansão de políticas consumistas/capitalistas aos quatro cantos do globo, assistimos agora ao desenvolvimento de problemas que antes eram especulados e que agora se tornam assustadoramente reais. Um bom exemplo é a rápida conversão de economias como a chinesa e a indiana para modelos ocidentais. Basta que o chinês médio consuma tanta energia e produza tanta poluicão como um americamo médio para que o equilíbrio ecológico do planeta seja radicalmente modificado (=destruído). Este é um ponto a ter em consideracão pela geracão em que estamos.

Portem-se e até amanhâ!
;-)
Paulo