terça-feira, fevereiro 21, 2006

Desemprego - Sonho ou Realidade

Hoje ia sobre o sistema de Saúde privado da Província de Alberta mas como o conhecimento que tenho é claramente influenciado por uma perspectiva pessoal e não foi das melhores experiências, ainda que não o tenha vivido na pele achei por bem procurar inspiração noutro lado.
Na labuta diária de me informar sobre o que acontece no nosso país não pude eixar de notar numa notícia do DN que dava conta de que a taxa de desemprego real em portugal ronda os 10,9%. Ora e o que é que isto nos diz? Naturalmente que 10 em cada 100 portugueses não têm emprego. Mas o que me fez ponderar e demorar o pensamento nesta notícia foram outros factos.
Ora se bem me recordo, pouco antes de sair de Portugal o número de emigrantes de leste rondava os 100 mil (por favor corrijam-me se estiver errado). Com 10% de desempregados em Portugal seria de esperar que também os emigrantes estivessem a diminuir, pois o emprego diminuiu. É claro que todos pensamos o mesmo: "Pois, os patroes preferem os emigrantes que trabalham por salários mais baixos e não fazem discontos!" Certo, mas e isso é culpa do Governo? "O governo devia fiscalizar mais!" e os patrões argumentam: "A culpa é dos impostos que estão altos e temos de poupar nalgum lado. Ainda mais muitos destes trabalhadores de leste são bastante qualificados!" Estão a ver onde quero chegar? O ciclo vicioso da culpa que morre solteira. Sejamos francos: eu não tenho nada contra os emigrantes em Portugal, acho até que é uma excelente oportunidade para nos enriquecermos culturalmente e naturalmente em termos económicos com mão de obra especializada e com diferentes concepções de uma mesma tarefa. Mas será que não existe essa mesma mão de obra especializada em Portugal?
Olhemos agora para as nossas Universidades. Recordo-me de umas Jornadas pedagógicas organizadas pelo Núcleo de Bioquímica (e só foi pena mais gente não ter aparecido) em que um representante da DG da AAC dizia que Portugal era o país da UE com a menor taxa de licenciados. E será que precisamos de mais? Quantos licenciados são obrigados a procurar oportunidades noutros países ou noutros ramos de actividade. Será que Portugal tem mercado para 50 engenheiros do papel por ano? Será que já abriram engenharia da caneta de tinta permanente numa qualquer universidade ou instituto? Tem lógica os Institutos Politécnicos e as as Universidades duplicarem cursos numa mesma cidade e isso acontecer em 7 ou 8 cidades pelo país fora? Não estará na altura, aproveitando as enormes mudanças que o país precisa, para afiar a tesoura pelas universidades e institutos e colocar a educação nos eixos? Não me parece que o problema esteja nas escolas primárias que fecham aos magotes!
E agora tentemos integrar esta informação e adicionar mais alguns factos: porque raio é que os empresários portugueses continuam a preferir ter 20 empregados pouco qualificados e reduzir para 10 para reduzir os custos, enquanto que se contratassem mais um altamente qualificado, certamente aumentariam as receitas?
Muito se falou em produtividade nos últimos anos e em competitividade mas todos se esqueceram que se não houver formação de quem tem o dinheiro para investir pouco se pode fazer. Se Portugal tem elevadas taxas de emigrantes então é porque há emprego! Se Portugal continuam a importar produtos, então é porque existe um mercado para esses produtos e não faz sentido a falência de tantas empresas. Se o número de carros de luxo se mantém com a crise então é porque há dinheiro. Como é que o investimento está a reduzir?
São exercícios de raciocínio ao alcance de todos os portugueses. Não é preciso ser economista, político ou licenciado para ver os factos e juntar dois mais dois! O problema reside no velho ditado que em Portugal, infelizmente se aplica bastante: O pior cego é aquele que não quer ver!
Bem, acho que já coloquei questões suficientes para alimentar a polémica e a mente de cada um por algum tempo. As minhas respostas acho que estão bastante claras. Quais são as vossas?

Abraços da Neve,
Virgilio Cadete

4 comentários:

Anónimo disse...

Perguntas tu:
"E agora tentemos integrar esta informação e adicionar mais alguns factos: porque raio é que os empresários portugueses continuam a preferir ter 20 empregados pouco qualificados e reduzir para 10 para reduzir os custos, enquanto que se contratassem mais um altamente qualificado, certamente aumentariam as receitas?"

Respondo eu:
Porque os altamente qualificados vêem as coisas de um prisma diferente e facilemnte começam a fazer "sombra" aos próprios empregadores.

Nas própixas considerações, vou esquecer as multinacionais porque essas, fazem agora connosco aquilo que fizeram nos seus paises de origem há alguns anos atrás quando resolveram deslocalizar a sua produção para Portugal - pais pobre com mão-de-obra mais barata.

É de lembrar que o nosso tecido empresarial, ainda é constituido por muita gente "de outro tempo" sem grandes qualificações que, em tempos antigos foi capaz de montar e levantar pequenas empresas que foram crescendo aos poucos. - Ninguém pôe em causa a bem que fizeram à nação e às populações onde resolveram instalar a sua empresa, mas a visão era o fazia mais a diferença e não tanto a qualificação e as habilitações literárias.
Dessa forma, as empresas foram geradas em periferias (algumas em aldeias), por gente sem grande qualificação e para pessoas da periferia (habitantes dessas mesmas aldeias). O que esperar?
Não vemos empresas novas, a apostar em campos novos e a contractar exclusivamente pessoas de baixa qualificação.

Abraços
Rui Neves

RC disse...

O problema é de mentalidade. O típico empresário português é uma pessoa com baixas qualificações que apenas pensa no lucro imediato e não tem uma visão de futuro, logo, uma visão de crescimento. Daí estarmos a assisitr a falências as em catadupa, agora que existe concorrência no nosso mercado, algo que até hoje nunca tinha sido tão visível!

Claro que esses empresários adquiriram um status quo que têm que manter, então toca a comprar um carro de cilindrada superior, mesmo que para isso tenham que gastar as últimas economias!

Mas não culpem somente os patrões pelo que se passa! Ainda ontem saiu um estudo da UE em que se verificava que Portugal era dos países em que se mudava menos de emprego! O que é que isto significa? QUe numa situação de desemprego, a adaptabilidade a novas situações é muito menor! A média rondava 3 empregos diferentes por pessoa durante uma vida, quando a média Europeia eram 6 (se não me engano!). Mesmo quando estamos empregados, não devemos descurar a nossa formação. Seja home-made, cursos por correspondência (normalmente mal vistos na nossa sociedade, ainda não percebi porquê!), seja com cursos nocturnos.

Mas é mais fácil ir ao café fumar um cigarro depois de jantar do que ficar em casa a ler a merda de uns textos que uns marmanjos quaisquer escreveram só para nos dar cabo da cabeça!

É pena os casos de sucesso raramente aparecerem nas notícias (como fizemos referência noutra discussão que tivémos). Porque os há. Há empresas em Portugal que na sua área estão no topo Mundial! Ainda não são muitas, mas o seu exemplo poderá servir de inspiração a muitos.

RC

ps: obviamente esses pequenos empresários durante anos conseguiram manter vivo o interior do país. No entanto, se tivessem uma visão de futuro muito provavelmente nunca teriam tido que fechar as portas! Há um exemplo que vou aqui deixar, não para fazer publicidade mas porque é um daqueles exemplos que deveriam ser seguidos: falo da Delta, em Campomaior, maior produtora de café POrtuguesa, com uma grande quota de mercado em Espanha (cafés camelo) e a tentar conquistá-la em França. Uma empresa familiar enorme e que serve de mtoor de desenvolvimento daquela pequena região! Não fosse a Delta e quem viveria em CampoMaior!? Já lá foram? Não há nada à volta! É a Delta e mais nada!

Anónimo disse...

Caros colegas nao posso concordar mais convosco!
Era a questao da mentalidade que queria deixar no ar e acho que todos concordamos com isso e naturalmente quando falava da falta de formacao dos patroes era um clara alusao a empresarios de outro tempo, mas nao podemos esquecer que quer a Delta quer a Sonae sao grupos cujos donos tb sao doutro tempo e sao empresas comm sucesso dentro e fora de portas.
Abraco, Virgilio

PS- Gosto das modificacoes RC!

Anónimo disse...

...este é um tema bastante complexo e não se resolve de um dia para o outro, sobretudo pk a tal "mentalidade" de k s fala aki é, juntamente com os demais factores culposos desta situação, rei na discussão deste problema.

Grande Abraço para ti Virgilio.