Um dos assuntos que tem ocupado muitas páginas na impressa norueguesa actual é o tema da reducão da libertacão de gases de efeito de estufa, como o dióxido de carbono, por exemplo. Tanto os partidos que fazem parte da coligacão que faz parte do governo como a oposicão estão finalmente de acordo que este é um tema actual, vital e com necessidade de medidas concretas o mais cedo possível. Aquilo que os partidos, mesmo os detentores do poder actualmente, não estão de acordo, é de que forma é que estas medidas deverão ser tomadas.
A coligacão que faz parte do governo actual norueguês é constituído por três partidos de esquerda, nomeadamente o Senterpartiet ("Partido do Centro", também chamado o partido dos agricultores, dada a sua especial preocupacão pela defesa dos direitos da populacão rural norueguesa), o Arbeiderpartiet ("Partido dos Trabalahdores", o partido social-democrata segundo o modelo escandinavo, o que equivale ideologicamente ao Partido Socialista português) e o Socialistisk Venstre ("Esquerda Socialista", partido de esquerda mais radical que o Arbeiderpartiet, mas com clara distincão do comunista). Recentemente o Senterpartiet e o Socialistisk Venstre assumiram-se como de acordo na ideia de que a reducão deverá ocorrer tanto através de apoios financeiros aos países em desenvolvimento de forma a desenvolverem-se com recurso a tecnologias ecologicamente seguras, como através da reducão interna da libertacão de CO2 na Noruega até 20 % até 2020 e 50 % até 2050 (em relacão aos valores de 1992). O Arbeiderpartiet defende uma posicão mais próxima dos partidos da oposicão, que afirmam que a contribuicão da Noruega é mínima (0,2 % do valor mundial) e, desta forma, é ridículo diminuir os valores da Noruega e que o investimento deverá ser feito apenas em países dos terceiro mundo. Isto é, a Noruega deverá comprar quotas de CO2 a outros países. Para piorar a situacão, a líder histórica do Arbeiderpartiet, Gro Harlem Brundtland, a ex-primeira-ministra que introduziu o conceito de "bærekraftig utvikling" (="desenvolvimento sustentado") como termo político internacional (reflecte a ideia de que o desenvolvimento de uma sociedade deve ser orientado de forma a manter um equilíbrio ecológico in perpetuom), afirmou à um par de semanas atrás que os esforcos da Noruega em reduzir a sua quota de libertacão de gases de estufa como uma forma de "selvpining" (="self-torture").
Ontem foi publicado no diário norueguês Aftenposten um relatório em que especialistas anunciaram que a Noruega conseguiria reduzir a sua quota em 66 % até 2030 gracas apenas à optimizacão dos recursos utilizados e à aplicacão de medidas tecnologicas já existentes através de um certo investimento público. Coisa que seria uma bagatela de meter em prática gracas ao "oljefond" norueguês (fundo petrolífero iniciado em 1998 pelo governo). Este relatório excluiu medidas baseadas em alteracões radicais do estilo de vida da populacão norueguesa (como o racionamento obrigatório do uso do automóvel por parte do sector privado, por exemplo).
O mais importante neste debate, no meu ponto de vista, é a arrogância (diria, a ignorância) da posicão expressa por "a nossa contribuicão é mínima, por isso não temos que reduzir enquanto os outros não fizerem o mesmo". Se todos pensarem da mesma forma, então a reducão nunca será posta em prática. Os países pequenos apontam o dedo aos países grandes como os EUA, China ou Índia, por exemplo. Mas as pessoas esquecem que este mesmo argumento pode ser utilizado por uma das províncias da China ou por um dos estados dos EUA em relacão aos estados vizinhos, e assim cai-se num impasse. Outro ponto importante é aquele que os ocidentais descrevem como reducão da qualidade de vida. Se uma pessoa considera que uma reducão imperdoável da qualidade de vida é partilhar o seu económico Toyota familiar com 2 ou 3 colegas de trabalho no caminho para o emprego em vez de se deslocar sozinho no seu SUV, ou restringir-se a uma viagem de comboio ao país vizinho nas férias em vez de 3 ou 4 fins-de-semana de compras a Londres, Milão ou Paris, então parece-me que a minha definicão de qualidade de vida é muito diferente da de muita gente.
Outro exemplo de reducão da qualidade de vida que me parece muito mais pertinente segundo a minha definicão pessoal é o exemplo crítico das Maldivas. As Maldivas é um país constituído por várias ilhas no Oceano Índico, cujo valor de altitude máxima nacional é de 2.3 metros. Espera-se que se a progressão do aquecimento global continuar ao mesmo ritmo que o actual, este país deixará de existir antes de 2080. As Maldivas têm uma populacão de 290 mil habitantes. Que fazer a estes habitantes quando o país deixar de existir? Talvez exportá-los para a Noruega?
O tema da reducão da libertacão dos gases de efeito de estufa é um tema relacionado com justica. Não são os países que libertam a maior quantidade que irão pagar a maior parte da factura primeiro. Curiosamente, relatórios de especialistas apontam para uma melhoria da economia de países como o Canadá e a Rússia como consequência do aquecimento global. São os países menos desenvolvidos que irão sofrer na pele a reducão mais drástica da qualidade (diria até, da sustentabilidade) de vida. Quando as populacões se sentem desesperadas, tomam medidas desesperadas. O governo egípcio ameacou o governo do Sudão e do Quénia que recurreria a uma intervencão armada se algum destes dois paises construisse uma barragem que levaria à reducão do afluxo de água no Nilo. Isto porque a agricultura e a economia egípcia é extremamente dependente da água do Nilo. Com o fenómeno do aquecimento global, espera-se o aparecimento de muitos conflictos semelhantes gracas ao esgotamento de recursos vitais cada vez mais escassos.
;-)
Paulo.