sábado, janeiro 13, 2007

Marie Antoinette


Ontem à noite fui ver a ultima criacão de Sofia Coppola, Marie Antoinette, com Kirsten Dunst no papel central. O filme é a primeira biografia cinematográfica em língua inglesa desde a adaptacão "Marie Antoinette" com Norman Shearer de 1938.

O filme é de um esplendor visual exuberante. É um banquete para os olhos, desde a primeira cena até ao último segundo. O tom é leve, as conspiracões políticas e os acontecimentos históricos e sociais precedentes à revolucão francesa são periféricas na narrativa que é exposta ao público. O filme dá-nos um olhar feminino e intimista da vida de Maria Antoinette. Talvez a mais realista, quando se tem em consideracão aquilo que se sabe hoje em dia sobre a vida pessoal da rainha decapitada. O guião do filme é fortemente baseado na biografia recente (2001) de Antonia Fraser "Marie Antoinette: The Journey", que foca mais sobre os aspectos pessoais da vida da rainha. Felizmente, para muitos, Sofia Coppola livrou o público de um final pesado e deprimente, ao escolher parar o filme no momento em que a família real abandona Versalhes. Pode-se dizer, inclusive, que o filme é uma descricão da vida da rainha como moradora de Versalhes, apenas e exclusivamente.

Em termos de realizacão, Marie Antoinette segue as mesmas linhas de estilo vistas em Virgins Suicide e Lost in Translation. Sofia Coppola prima por exibir uma sequência narrativa na qual a imagem e o jogo de silêncios são as vozes mais marcantes da (in)accão. O filme flui num ritmo melancólico/nostálgico, num estilo MTV, onde a exuberância de fatos, perucas, palácios e, até mesmo, comida, bombardeia-nos num deleite visual. A autora atreve-se a misturar claros anacronismos cenéricos (vê-se descaradamente um par de sapatilhas Converse All-Star e um pullover Blueberry num par de cenas) e musicais (a banda sonora é excelente, marcada pelo Novo Romantismo extravagante da brit-pop e punk da década de '80 - aconselha-se!). Os actores escolhidos para os papéis cuprem os seus papéis na perfeicão exigida (ambos os reis, Rip Torn e Jason Schartzman, dão-nos uma imagem credível e humana dos respectivos monarcas, Luís XV e XVI), Kirsten Dunst presenteia-nos com uma versão juvenil de Marie Antoinette que talvez seja mais apropriada à primeira parte da sua vida como rainha (Marie Antoinette casou-se com 15 anos de idade e tornou-se rainha com 19 - é nesse tom adolescente que Kirsten interpreta a sua personagem). É uma descricão na primeira pessoa, no mesmo estilo que vimos em Lost in Translation. Fica-se com a sensacão que o filme é uma sequência longa (2 horas e 18 minutos) de colagens estéticamente ricas e coloridas de uma sociedade fútil e centrada sobre si própria.

Acredito que o filme não é para todos. Muitos odiarão o filme pelo vácuo de acontecimentos e pela previsibilidade da realizadora. Outro(a)s (maioritariamente elas, arrisco eu!) adorarão a frescura e a semi-melancolia de algumas cenas. Pessoalmente, caio no segundo grupo.

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