quarta-feira, janeiro 17, 2007

Muhammad Yunus e o Banco Grameen



Hoje vi na SVT (canal público de televisão sueco) a palestra nobel de Muhammad Yunus que ocorreu a 13 de Dezembro de 2006, dois dias após receber o Prémio Nobel da Paz de 2006. A palestra foi, no mínimo, extremamente inspiradora.

O Banco Grameen (que significa "área rural" ou "vila" na língua original) é uma organizacão não-governamental com fins não lucrativos que dá micro-empréstimos a populacões desfavorecidas (maioritariamente mulheres, 97 %, visto ser este o sexo mais desfavorecido no Bangladesh e também o grupo que mais frequentemente partilha os bens com o resto da família), de forma elevar a qualidade de vida dos destinatários e permitir a abertura dos seus próprios negócios e dar oportunidade destes encontrarem as suas próprias fontes de rendimento. Este banco apoia neste momento cerca de 6.5 milhões de pessoas no Bangladesh, e os micro-empréstimos estão acessíveis a 80 % da populacão do país. A ideia é revolucionária do ponto de vista económico. A filosofia de base é a de que existem muitas pessoas que tem capacidades sub-desenvolvidas cujo único problema é a falta de oportunidades concedidas pelo meio ou sociedade circundante. A maioria dos beneficiários destes micro-empréstimos não teriam a chance de ter acesso a crédito no meio bancário usual. O volume médio de empréstimo é de 12 dólares por pessoa. O empréstimo é pago de volta sem juros. A taxa de pagamento do empréstimo é de 98.8 %. Gracas a este sistema, estima-se que cerca de 50 milhões de pessoas no Bangladesh sairam dos níveis de pobreza aguda em que viviam anteriormente. Os donos do banco são os próprios destinatários dos empréstimos (94%). O Banco tem agora outros investimentos na área da comunicacão (Grameen Phone e Grameen Telecom) e desenvolvimento e a fundacão Grameen tem sucursais e planos de desenvolvimento em funcionamento em 27 países.

Acima de tudo, aquilo que gostaria de sublinhar é o conceito económico sublinhado por Yunus durante a palestra. De que as empresas normais tem como objectivo a maximizacão do lucro e a rentabilizacão máxima do investimento. Yunus falou de uma alternativa, a existência de empresas de objectivo puramente social. Um empresário comum pensa, nas suas decisões do dia-a-dia, "Quanto dinheiro é que se pode fazer a partir deste investimento?". No tipo de empresas mencionados por Yunus, o empresário teria em mente a pergunta "Quantas pessoas poderão beneficiar a partir deste investimento?". Yunus preconizou como possível a co-existência de ambas as solucões num mercado aberto, para o bem comum: o primeiro tipo orientado para as populacões mais favorecidas, o segundo para o resto da populacão. Yunus frisou inclusive, que este tipo de conceito teria de ser iniciado a partir da iniciativa privada, e ser independente de governos, visto que nesse caso ocorre frequentemente uma instrumentalizacão da empresa para fins politicos externos à causa de ajudar os pobres e elevar a qualidade de vida.

E tudo isto comecou com um pequeno empréstimo de 27 dólares a um grupo de 42 famílias durante a fome de 1974 no Bangladesh.

É caso um caso para pensar para os muitos que acreditam que o esforco de um indivíduo não tem qualquer significado num contexto global.

:-)
"Rød" Paulo

4 comentários:

RC disse...

Foi de facto um conceito interessante o que este sr inventou, tendo sido copiado um pouco por todo o mundo. Não é por nada que a academia sueca lhe atribuiu o prémio Nobel.

Foi talvez a maior surpresa dos prémios deste ano. Mas quase todos os anos tem que haver uma surpresa e por norma é no Nobel da paz, já que é capaz de ser aquele que mais impacto pode ter/tem tido.

Abraço

ps: a treinar o Sueco, isso é para uma futura visita?;)

William Jack disse...

De facto uma atitude louvavel na habitual razia de ideias!

viking disse...

P.S.: É a comissão Nobel do parlamento norueguês (Stortinget) que atribui o prémio Nóbel da Paz todos os anos. A razão disto prende-se com o testamento de Alfred Nóbel, que escolheu o parlamento norueguês porque na altura os dois países faziam parte de uma união e ele considerava o parlamento norueguês como mais isento de pressões externas (naquela altura, pelo menos!).

RC disse...

Ups,

eu sabia isso ;)! Escrevi sem pensar!

Abraço