quarta-feira, abril 26, 2006

Chernobyl - 20 anos depois.


Hoje faz-se 20 anos desde o maior acidente nuclear da história da utilizacão pacífica da energia nuclear. Aconteceu à 1:23 (hora local) de 26 de Abril de 1986, no ano horribilis da tecnologia científica (o desastre da Challenger aconteceu a 28 de Janeiro do mesmo ano). O reactor número 4 da central de Chernobyl explodiu após uma série de testes de capacidade levada a cabo pelos técnicos da central, levando à fusão do cerne nuclear no reactor. Com a explosão do reactor, grandes quantidades de material radioactivo foram libertadas para a atmosfera e estas partículas espalharam-se sobre a União Soviética (principalmente Ucrânia, Bielo-Rússia e Rússia), Europa de Leste e Europa Ocidental, Escandinávia e as ilhas Britânicas. O acidente levou ao evacuamento e/ou transferência de 336 mil pessoas dentro das repúblicas soviéticas. 56 mortes foram atribuídas directamente ao desastre (47 trabalhadores no acidente, mais 9 criancas vítimas de cancro na tiróide, devido à acumulacão de iodo radiactivo). No entanto, esudos da IAEA (International Atomic Energy Agency) e da WHO (World Health Organization) apontam para um total de entre 4000 a 9000 fatalidades associadas à exposicão a níveis elevados de radiacão nos anos que se seguiram ao acidente. A organizacão ecologista internacional Greenpeace eleva este número até aos 93 mil. Hoje em dia encontram-se vilas e cidades inteiras nas imediacões de Chernobyl quase completamente desertas como consequência do acidente. De acordo com a IAEA, a quantidade de radiacão libertada durante o desastre de Chernobyl corresponde a 400 vezes a libertada na explosão de Hiroshima em 1945 [1].



A lista de acidentes associados à utilizacão de energia nuclear, quer militar ou civil, é extensa (muito extensa! Por favor, vejam as referências 1, 2 e 3), salientando-se os exemplos mais conhecidos como os de Chernobyl (1986), Three Miles Island(1979) e o acidente de Goiânia (1987). Desde o acidente de Three Miles Island que os EUA congelaram os seus planos de construcão de centrais nucleares até ao presente, embora esta atitude governamental se encontre actualmente sob revisão devido à política energética da administracão actual.

Com este post gostaria de suscitar reflexão sobre o preco que pagamos pela producão de energia eléctrica atravès do uso de energia nuclear. É certo que este tipo de energia é quase "limpa" quando comparada com as emissões de gases poluentes provenientes de outras fontes de energia dependentes da queima de combustíveis fósseis. E que é quase inesgotável. Mas os custo de apenas um único acidente são exorbitantes. Durante as operacões de rescaldo e limpeza após o acidente de Chernobyl, foram utilizados cerca de 300 a 600 mil "voluntários" (tornaram-se oficialmente conhecidos como "liquidators") numa área de 30 km circundante à zona do desastre, de forma a restringir a libertacão de substâncias radioactivas para o ambiente. Algumas centenas destes trabalhadores combateram o fogo imediatamente após a explosão, contando-se uma taxa de mortalidade entre estes de 50 % na primeira década após o acidente. Daqui pergunto-me: dado o sistema político vigente na Ucrânia naquele período da história, foi possível arranjar "voluntários" essenciais para o controlo e restricão do acidente; se o acidente acontecesse hoje em dia numa pacata vila no centro de Franca ou Alemanha, interrogo-me profundamente quantas pessoas encontrariamos dispostas a conscientemente oferecer a sua vida na pira nuclear resultante, de forma a salvar a vida de todos nós, os outros. Ou ainda, imagine-se zonas densamente populadas na Europa central obrigadas a evacuar populacões inteiras recolocadas devido a um acidente nuclear (imagine-se nacões como o Luxemburgo, Bélgica ou Holanda obrigadas a evacuar devido a um acidente). O problema da utilizacão da energia nuclear é de que não deixa margem para erros. Em caso de acidente, as áreas e as populacões afectadas assumem dimensões supra-nacionais.

Tendo isto em consideracão, estou orgulhoso dos exemplos como Portugal e a Noruega que optaram pela abstinência da utilizacão de energia nuclear para fins não-científicos. É pena que muitos outros países, tanto no mundo ocidental como na esfera de países em vias de desenvolvimento, não sigam este exemplo.

P.S.: Já sei que vou ser criticado pela minha opcão anti-nuclear, so bring it on! Uma vez mais, tal como no caso do post referente à aviacão comercial, para mim a solucão prende-se na reducão do consumo e na alteracão dos estilos de vida, mas sintam-se à vontade para escrever comentários...

9 comentários:

RC disse...

Pois, isto é um pau de dois bicos!

Até há bem pouco tempo atrás era contra o nuclear. Agora já não sei bem qual é a minha opinião, mas entre o petroleo/carvao e nuclear, a minha opção vai de certeza para o nuclear! É limpo em termos de libertação de CO2 e o único problema prende-se com o que fazer aos resíduos! Por mim, enviam-se para a lua e deixam-se lá a decair! Em termos de segurança, há novos sistemas de segurança que tornam impossível acontecer o que aconteceu em Chernobyl. Apenas por este motivo os EUA estão a ponderar financiar a construçao de uma nova central nuclear! Porque tentativas de contruçao tem havido desde o acidente que referes, mas nunca conseguiram angariar fundos suficientes para passarem das intenções aos actos (vide National Geographic de Abril). A Índia continua a investir em centrais nucleares de produção própria e são considerados estar na vanguarda da tecnologia. Agora resta saber se estarão disponíveis para a partilharem com outros!
Em termos económicos, há um grande problema! Se por um lado a energia é mais barata por outro os custos de construcção e desmantelamento de uma central (que tem um tempo de vida max de cerca de 30 anos) são enormes!!!

A minha grande esperança reside na fusão nuclear. Vai nascer em frança o primeiro reactor de fusão nuclear do mundo, um projecto conjunto entre vários países (incluindo EUA, Japão, China, UE, entre outros). Se resultar estaremos perante uma energia barata, sem riscos em termos radioactivos e limpa em termos de libertação de gases com efeito de estufa! O problema é que até 2050 não se preve estar aperfeiçoada, por isso, até lá, terá que se ir buscar a energia a outro lado! Onde, não sei, mas acho um bocado incongruente uma pessoa defender que não se deve andar de avião por causa do efeito de estufa e depois vir com propaganda contra o nuclear! Nesta altura de boom económico nalguns países é impossível pedir-lhes que moderem o consumo!!!E se nós europeus reguerarmos o consumo, isso não vai mudar em nada o que se passa no mundo! A Europa é demasiado pequena!!!

Abraço,

RC


ps:Já agora, que tipo de lâmpadas usas? As normais ou aquelas mais caritas mas que consomem pelo menos 1\/5 da energia das normais!? ;)

viking disse...

Olá outra vez!

Acerca dos avancos técnicos das centrais nucleares, a IAEA concluiu apos os acidentes de Three Mile Island e Chernobyl que o maior contribuinte para os acidentes foram exactamente a design das centrais, nos quais os mecanismos homeostáticos das centrais falharam. Em Chernobyl houve também muitas falhas por parte dos técnicos, mas de qualquer forma... O custo de limpeza do reactor de Three Miles Island chegou aos 930 milhões de dólares e demorou 14 anos, para além de que o edifício do reactor 2 é um sarcófago e ninguém pode entrar lá sem riscos de saude durante umas boas centenas de anos. Mesmo em sociedades técnicas avancadas, dão-se acidentes, ainda hoje, embora não à escala de Chernobyl e semelhantes. No Japão, o acidente mais grave aconteceu em 1999 (ver referência 1), e ainda a semana passada houve perdas de material radioactivo numa central americana. Para além de que alguns países são mais "responsáveis" no que se refere ao tratamento e manutencão das centrais e dos resíduos radioactivos (ver referência acerca do acidente de Goiânia). A central de Chernobyl continuou em funcionamento (os outros reactores) até ao ano 2000. Quantas centrais na Rússia utilizaram o mesmo design técnico que Chernobyl e ainda hoje se encontram em funcionamento?

Quanto a mandar os detritos para a Lua, já tinha ouvido essa antes, mas imagina que há um acidente num dos foguetes e este explode em pleno ar? Nesse caso, o impacto dum unico acidente é muito pior que a explosão de várias centrais nucleares no sólo, este é simplesmente um risco que não se pode tomar, alguns detritos radioactivos ficariam em suspensão na atmosfera durante décadas e os mais pesados espalhar-se-iam indiscriminadamente sobre a superfície do planeta e praticamente toda a cadeia alimentar terrestre se encontraria comprometida (alguns detritos são extremamente venenosos, para além de serem radioactivos; basta algumas miligramas de plutónio para matar uma pessoa). E os custos? É necessária uma quantidade enorme de energia para lancar para a alta atmosfera alguns kg´s de material. O módulo lunar e o módulo de comando da Apolo 11 pesavam cerca de 46 toneladas e foi necessário empregar o foguete mais poderoso da história da aeronautica, o Saturno V,que consome 2730 toneladas (!!!) de combustível por cada lancamento (para além de que o hardware não é reutilizável - o foguete pesa um total de 3040 toneladas). O programa do Saturno V custou 6.5 bilhões de dólares e só se construiram 15 foguetes. Não sei quanto é que uma central produz, mas li num relatório que uma central grande utiliza 110 toneladas de urânio durante 3 anos. Se uma pessoa multiplicar este numero pelo número de centrais em funcionamento vezes o tempo em que têm estado em funcionamento... Economicamente, esta solucão não é viável, para além de ser extremamente arriscada e tecnicamente difícil. A melhor solucão técnica actual continua a ser vitrificar os detritos mais radioactivos e enterrá-los a vários km´s de profundidade e esperar uns 20000 anos até a coisa se tornar inofensiva. Não sei porquê, mas esta solucão não me deixa completamente descansado.

Concordo que a solucão nuclear continua a ser melhor que muitas, mas espero sinceramente que esta seja uma fase de transicão tecnológica e que se encontrem solucões técnicas melhores, tais como as centrais de fusão de que falastes. Mas é preciso investimento nessas áreas.

Acerca da contribuicão da Europa, é maior do que muitos pensam. Vê a referência http://www.worldwatch.org/press/news/2006/01/12/ acerca das emissões das diferentes potências mundiais. Os EUA é o maior produtor de lixo e poluicão per capita no mundo, mas a Europa é o número três da lista (a seguir ao Japão). Cada europeu produz em média 3,5 toneladas de detritos sólidos por ano e consome cerca de 50 toneladas de recursos sólidos por ano. Quando a China e a Índia tomarem balanco, o equilíbrio ecológico tornar-se-á insustentável. A Europa tem cerca de 450 milhões de habitantes. Classificar este número como pequeno, mesmo no contexto mundial, é uma hipérbole (cerca de 8 % da populacão mundial actual). De qualquer forma, aquilo que pretendo dizer é a de que a Europa (ou os EUA, ou o mundo ocidental) tem de servir de exemplo e criar as alternativas. Não estou à espera que as novas fontes de energia renovável e os automóveis com o menor consumo sejam desenvolvidos pelos investigadores da Universidade do Gana ou de Madagáscar. Tem de ser as nacões mais desenvolvidas a encontrar as alternativas e a dar os exemplos. Este é um ponto importante da minha linha retórica. Se o sonho de Persson se materializasse e a Suécia se tornasse uma sociedade independente do uso do petróleo, então se calhar um dia, numa qualquer reunião em Washington DC um magnata perguntasse "But is it possible to live confortably without oil?", então alguém responderia "well, there is a small country in europe who does that, and they are doing fine..." (para bem da verdade, esse país já existe, chama-se Cuba, mas essa é uma outra história, por causa dos problemas políticos...).

Em relacão aos meus hábitos pessoais, eu só tenho uma lâmpada no meu quarto e sou das pessoas que faz a ronda final da casa para pagar todas as luzes no final da noite (os vikings tem tendência a deixá-las acesas). Não sou o ecologista mais eficaz, mas também admito que sou um desastre no que se refere a gestão de qualquer tipo de recursos (tempo, dinheiro, energia, etc), por isso acho que não sou exemplo para ninguém. No entanto, já comecei a mudar alguns hábitos de vida à custa daquilo que tenho lido. Para além disso, não tenho carro próprio e todas as minhas deslocacões são feitas quer por meios biológicos próprios (à pata ou de bicicleta) ou pelo uso de transportes colectivos (e não deixo de viajar ou não me sinto especialmente infeliz por não ter casrro próprio). Acho que esta contribuicão compensa um bocado outras nas quais sou mais desorganizado.

Quanto às minhas incongruências, a minha mensagem é reduzir o uso do avião como meio de transporte E (sublinhe-se o E) reduzir o consumo de electricidade (e outros recursos). Não utilizo o OU, como pareces insinuar no teu comentário (este é um dos pontos que mais confusão traz nos debates sobre ecologia que tenho com os colegas de trabalho). Houve alturas (durante a crise do petróleo da década de 70) em que a utilizacão do automóvel como meio de transporte foi racionada a nível mundial e a sociedade ocidental não colapsou ou os índices de suícidio e infelicidade global ocidental não subiram em flecha. Aquilo que argumento é de que podemos viver perfeitamente com menos consumo, menor utilizacão de recursos e menor producão de detritos.

O ponto principal que pretendo atingir é a de que não é nenhuma catástrofe que o estilo de vida ocidental se transforme. Não é nenhum direito essencial muitas das comodidades que gozamos hoje em dia. Não percebo a lógica das pessoas que refutam as minhas ideias ecológicas: muitas vezes respondem com "mas isso iria desacelarar a economia" (não é o teu caso, Ricardo, mas muitos outros). Mas que raios me importa a economia quando os meus filhos ou netos comecarem a contrair cancro com 15 anos de idade?

Abraco e obrigado pelos comentários!
:-)
Paulo.

Anónimo disse...

E quantas pessoas morrem por causa do "preço" do petróleo. Nunca vi a Greenpeace no Iraque a criticar a poluição devida à extracção do crude. O problema é que barato é quase sempre oposto de "limpo", e o preço implica riscos. Acho que a dependência do petróleo deve ser diminuída, e os "moralismos" de "temos de mudar o comportamento" demoram mais tempo a fazer efeito que as reservas de petróleo demoram a acabar. Não sou a favor de um nuclear desmedido mas se a ciência existe vamos usá-la em nosso favor. Claro que há sempre a opção de construir centrais em África e dp comprar a energia (e desta maneira o povo Português já não critica)...

viking disse...

Olá anónimo,

Não estou totalmente a par das actividades diárias da Greenpeace, mas não creio que estejam muito contentes com a dependência e o uso do petróleo. Olha que o pessoal da Greenpeace ainda é (muito) mais fanático do que eu, por isso...

Se leres o meu comentário anterior, talvez fiques com um melhor entendimento daquilo que chamas como "moralismos". Os meus "moralismos" hoje em dia parecem como uma pura discussão intelectual, mas daqui a 30 anos é uma questão de vida ou morte, para ti, para mim e para toda a gente. Sei que estou a soar como fatalista, mas os ciclones nos EUA no ultimo verão parecem querer dizer alguma coisa em relacão às alteracões climáticas provocadas pela libertacão dos gases de efeito de estufa. Existem sociedades em que o equilíbrio ecológico já atingiu o limite e cujo o acesso a recursos se encontra limitado, com claros efeitos na sociedade. Ninguém reclama muito pela restricão de 1 crianca por família imposta na China, com pena de aborto forcado ou esterilizacão aos não-cumpredores. Querem chegar a este ponto aqui na Europa ou no mundo ocidental (não me refiro obviamente ao controlo populacional, mas se calhar a uma proibicão ou restricão forcada do uso de automóveis ou aviões, por exemplo)?

Tenho notado um desenvolvimento da atitude consumista tanto em Portugal como na Noruega (aqui ainda é mais brutal) nos últimos anos. Ir passear ao Vasco da Gama no domingo tornou-se actividade normal em Lisboa. Consumir tornou-se sinónimo de felicidade. É quase considerada uma violacão das liberdades e direitos pessoais para muitos eu pregar que se calhar é sensato haverem limites no que se refere a consumo e utilizacão de recursos. Acho piada que já escrevi sobre casamentos homossexuais, nacionalismo, e outros temas polémicos, mas aquele que mais suscita os comentários mais passionais são os posts que se debrucam com uma das evidências mais óbvias: de que o planeta não tem recursos inesgotáveis.

Parece que tudo o que aponto nos meus posts é inofensivo. A contribuicão de poluicão da aviacão comercial é inofensiva, os riscos de um acidente nuclear é insignificante, etc. Os riscos de acidente são mínimos, concordo. Mas Chernobyl prova de que existem. E de que se acontecer, a factura a pagar é muito alta.

Inevitavelmente, os precos do petroleo e do gas natural estão a subir tão depressa (e a tendência piorará) que até os economistas mais ferrenhos comecam a aperceber-se de que se calhar é melhor encontrar outras alternativas. Neste ponto, a economia de mercado prevaleceu...

:-)
Paulo

Anónimo disse...

Este tema iria dar "pano para mangas". Estamos a debater 2 questões: a moral (em que eu tb te apoio, agora só falta transmitir os políticos :)), e a energética (porque mesmo que se gaste menos vai sempre existir o algum). Em relação à primeira acho que fiz um pouco de advogado do diabo qd o que queria dizer era que concordava contigo mas iria ser complicado (senão impossível) seguir esse rumo nos próximos (muitos) anos, principalmente porque esse consumo está associado ao bem-estar que conquistámos nas últimas décadas (viagens, comércio, avanços na medicina, etc). Em relação ao ponto 2, acho que com avanço cientifico, as centrais poderão ser uma boa opção energética no futuro.

Em relação a riscos é complicado comparar, nesse campo já entra o sentimento medo e isso provoca uma "cegueira" racional, toda a gente tem mais medo do cancro do que de um acidente de carro (é mais fácil ir bêbado pra casa a conduzir, do que aproximar de uma caixa com um símbolo radioactivo). O medo de morrer é o grande impulsionador cientifico e económico (e se for lentamente e dolorosamente ainda ajuda mais).

É uma questão complicado, que se deveria ter à mesa de café e não aqui. De qualquer maneira aqui fica a tentativa.

Bruno (o outro anónimo era eu)

ps:. Em relação a cuba já lá estive e nunca vi um país tão poluído...

Em relação a este tema ser debatido e não outros, prende-se apenas pela questão de importãncia (não dou grande importancia aos homossexuais :) ).

Porta-te bem, já agora, fui a um congresso na holanda e estava lá montes de gente da Noruega (do grupo do Krokan, conheces?).

viking disse...

Olá!

Krokan? Sabes de que cidade era ele? E de que campo científico, exactamente (chop que ando desligado das bioquímicas e afins ultimamente)?

Anónimo disse...

DNA repair, Trondheim, Norwegian Univ. of Science and Tech.

RC disse...

Rapaz,

jamais menosprezei as tuas preocupações nos meus comentários! Aliás, parece-me que não percebeste o que queria dizer, mas a culpa deve ser da forma como escrevo, já que o tempo é pouco para elaborar o que escrevo comcabeça tronco e membros!!!

Quanto às tuas respostas:

- avanços tecnológicos: pareces-me estar a atirar areia para os olhos! Então eu digo que avanços tecnológicos foram feitos que irão quase de certeza prevenir acidentes como os que enumeraste e tu respondes-me com os mesmos acidentes!!!

- detritos para a LUa, estava a brincar! Já ouvi falar nisso e seria a solução ideal, mas não é fazível no curto/médio/longo prazo!!! Por isso brinquei com a coisa...;)

- quando falei do peso que a EUropa tem no mundo, estava-me a referir no caso de uma regueração do consumo energético! Mudança de hábitos que tu defendes! Não acho que se nós EUropeus mudarmos os nossos hábitos isto vá ter um grande impacto no mundo, já que o número de grandes (reforço, enormes) países que estão em desenvolvimento acelerado (China, Índia, Vietnam, Filipinas, Malásia, o próprio Brasil) é enorme e as necessidades energéticas destes países são bastante superiores ao que uma mudança nos nossos hábitos de consumo iria provocar! Isto não significa que não defenda uma mudança nos nossos hábitos! Sim, ando de carro, mas apenas o faço no Inverno e por questões de saúde! Faço reciclagem, sem nunca ter sido estimulado para isso, como o são os miudos de hoje em dia (e já a fazia em Portugal quando vivia sozinho, só em casa dos pais é que nunca foi possível!!!). Ando de bicicleta e a pé sempre que posso. Procuro sempre comprar produtos "amigos" do ambiente, mesmo que sejam mais caros! Gosto de ter as luzes apagadas e quando estão acesas procuro que sejam apenas as estritamente necessárias! As janelas só estão abertas o tempo estritamente necessário para evitar gastos energéticos com o aquecimento (que até está incluido na renda, por isso, maiores gastos energéticos, não significam aumento na factura!). Entre outras pequenas coisas.

- hábitos pessoais, já falei atrás, mas quando fiz a pergunta, estava só a picar-te! E não respondeste àpergunta sobre o tipo de lâmpada(s) que usas!;)


Em relação ao teu 2o comentário, vou pegar neste parágrafo:


"Parece que tudo o que aponto nos meus posts é inofensivo. A contribuicão de poluicão da aviacão comercial é inofensiva, os riscos de um acidente nuclear é insignificante, etc. Os riscos de acidente são mínimos, concordo. Mas Chernobyl prova de que existem. E de que se acontecer, a factura a pagar é muito alta."

Quando critico o que dizes, faço-o apenas e só porque não apresentas soluções que sejam concretizáveis no curto prazo! Não basta ser-se contra ou mudar os nossos hábitos! Temos que pensar num contexto mundial!!! Imagina-te num país pobre que subitamente enfrenta um boom económico que te permite ter uma vida melhor e pensar em constituir uma familia e adquirir um nivel de vida que te permite viajar e conhecer o mundo! Imagina-te Chines e que o mundo agora te procurava privar da electricidade necessária para que mantivesses este nivel de vida sem oferecer alternativas viáveis! Devemos alertar para o problema, mas também temos que ser racionais! Vivemos numa Europa, onde na maioria dos países o nível de vida é bom. Mesmo em Portugal, com meio milhão de desempregados, a maioria da população vive bem! Não podemos agora querer privar os outros disso! E continuo a dizer entre incentivar um Chinês ou um Indiano a obter energia a partir de petróleo ou do nuclear eu voto no nuclear, sem sombra de duvidas! E aqui é que disse que estavas a ser incongruente ao estares a ser contra o nuclear (ou para ser mais exacto, contra a fissão nuclear, certo? Ou também és contra a fusão?)! Ou de onde achas que viria a energia para fazer mover os comboios se agora todos começássemos a usar o comboio| Mas é uma conversa que poderemos ter com mais calma quando nos encontrarmos que isto assim parece sempre que nunca se diz tudo!

Abraço,

RC

viking disse...

Olás pessoal,

Acho que sei quem é esse Krokan. O tipo não tem um par de artigos grandes (science ou nature ou coisa do genero). A universidade que referistes é a minha (NTNU). Acho que o tipo trabalhou no mesmo corredor que eu um par de anos atrás.

Em resposta ao Ricardo, felizmente ou não, não há respostas a curto prazo. A mudanca tem de ser gradual. Aquilo que prego é referente à mudanca de hábitos do dia-a-dia. Em Portugal à 20 anos atrás uma família tinha no máximo um carro porque não havia dinheiro ou possibilidade para mais. Uma família tinha uma TV em casa, se é que a tinha. Hoje em dia parece que virou moda toda a gente na casa ter um carro e haverem quase mais aparelhos de TV que pessoas em casa. Muitos teenagers têm hoje em dia várias centenas de pecas de roupa nos guarda-fatos. Tudo isto não são produtos essenciais, para além de muitos outros. Um norueguês por aqui falou-me do "prazer de comprar". De onde é que veio este prazer? Não é um hábito adquirido? Voltando atrás ao post das viagens de avião, não me parece que um fim-de-semana em Milão para ir às compras ou comprar macãs de Espanha sejam essenciais. No entanto é para aí que se caminha. Um indiano não precisa de ir fazer um fim-de-semana de recreacão a Tóquio e comprar pêras da Austrália para ter qualidade de vida, para progredir na vida. Aquilo que queria dizer é que a quantidade de luxos multiplicou-se e democratizou-se no ocidente. Fins-de-semana em Manchester e Londres para ver jogos de futebol tornaram-se bastante habituais aqui na Noruega. E os custos ecológicos? Quem os paga?

O melhor exemplo que usei até agora é o das bicicletas em Pequim. Até à uns anos atrás, a bicicleta era o meio de transporte primordial em Pequim. Agora, com a expensão da economia (e para bem da economia), o governo chinês quer ver-se livre das bicicletas e instaurar o automóvel como forma de transporte primordial em Pequim. Tudo isto é a bem da economia - é uma forma de impulsionar a compra e a producão de automóveis. Infelizmente, dou-lhe 10 ou 15 anos até que percebam a asneirada que fizeram, quando comecarem a ter problemas de tráfico descomunais e os problemas de poluicão na cidade tornarem-se insuportáveis (ver referência http://en.wikipedia.org/wiki/Great_Smog_of_1952 como exemplo de problemas semelhantes no ocidente). A industria das bicicletas também dá provavelmente muito emprego a muita gente, mas não é certamente tão lucrativa e provavelmente não é tão facilmente controlável por grandes monopólios (qualquer Chang pode construir a sua!). Mas um automóvel é! (é preciso grande investimento de capital e conhecimento técnico para construir um automóvel). Tal como já referi noutros exemplos, não precisamos de ter árvores de Natal com 10000 lâmpadas só porque é bonito. Em relacão aos gastos de electricidade, com o desenvolvimento da computacão, porque não investir no desenvolvimento de edifícios inteligentes, com capacidade de auto-gestão de energia (tipo luzes que acendem e apagam consoante existem pessoas na sala e construcão de forma a manter controlo homeostático de temperatura, entre muitas outras ideias). O metro de Moscovo não tem aquecimento central, foi desenhado para manter a temperatura utilizando o calor humano dos frequentadores como fonte de energia (nunca lá estive, foi um professor de física do primeiro ano que me saiu com esta).

O que eu preciso é de escrever um post sobre economia de mercado e globalizacão e consequências futuras no ambiente global. No fundo é essa a grande questão. O sistema económico global presente baseia-se na ideia de crescimento económico eterno. Um país com uma taxa de crescimento económico de 0 % é classificado como uma país em estado de recessão económica. Ora para haver crescimento económico eterno, é necessário input de produtos e matérias-primas eternamente. Considerando que a quantidade de materiais e matérias-primas no planeta é limitado, um dia a bolha rebenta. E aí, ou se modifica o sistema económico global ou então caminha-se para uma ruptura da sociedade. Sinceramente, acredito mais na primeira opcão, mas para isso é preciso haver meia dúzia de profetas da desgraca (como eu, se calhar!) para puxar o equilíbrio nesse sentido.

Mas o melhor é guardar este tema para uma conversa de café quando aí for a Estocolmo (provavelmente de comboio, eheh!).

;-)
Paulo.