quarta-feira, abril 26, 2006

Chernobyl - 20 anos depois.


Hoje faz-se 20 anos desde o maior acidente nuclear da história da utilizacão pacífica da energia nuclear. Aconteceu à 1:23 (hora local) de 26 de Abril de 1986, no ano horribilis da tecnologia científica (o desastre da Challenger aconteceu a 28 de Janeiro do mesmo ano). O reactor número 4 da central de Chernobyl explodiu após uma série de testes de capacidade levada a cabo pelos técnicos da central, levando à fusão do cerne nuclear no reactor. Com a explosão do reactor, grandes quantidades de material radioactivo foram libertadas para a atmosfera e estas partículas espalharam-se sobre a União Soviética (principalmente Ucrânia, Bielo-Rússia e Rússia), Europa de Leste e Europa Ocidental, Escandinávia e as ilhas Britânicas. O acidente levou ao evacuamento e/ou transferência de 336 mil pessoas dentro das repúblicas soviéticas. 56 mortes foram atribuídas directamente ao desastre (47 trabalhadores no acidente, mais 9 criancas vítimas de cancro na tiróide, devido à acumulacão de iodo radiactivo). No entanto, esudos da IAEA (International Atomic Energy Agency) e da WHO (World Health Organization) apontam para um total de entre 4000 a 9000 fatalidades associadas à exposicão a níveis elevados de radiacão nos anos que se seguiram ao acidente. A organizacão ecologista internacional Greenpeace eleva este número até aos 93 mil. Hoje em dia encontram-se vilas e cidades inteiras nas imediacões de Chernobyl quase completamente desertas como consequência do acidente. De acordo com a IAEA, a quantidade de radiacão libertada durante o desastre de Chernobyl corresponde a 400 vezes a libertada na explosão de Hiroshima em 1945 [1].



A lista de acidentes associados à utilizacão de energia nuclear, quer militar ou civil, é extensa (muito extensa! Por favor, vejam as referências 1, 2 e 3), salientando-se os exemplos mais conhecidos como os de Chernobyl (1986), Three Miles Island(1979) e o acidente de Goiânia (1987). Desde o acidente de Three Miles Island que os EUA congelaram os seus planos de construcão de centrais nucleares até ao presente, embora esta atitude governamental se encontre actualmente sob revisão devido à política energética da administracão actual.

Com este post gostaria de suscitar reflexão sobre o preco que pagamos pela producão de energia eléctrica atravès do uso de energia nuclear. É certo que este tipo de energia é quase "limpa" quando comparada com as emissões de gases poluentes provenientes de outras fontes de energia dependentes da queima de combustíveis fósseis. E que é quase inesgotável. Mas os custo de apenas um único acidente são exorbitantes. Durante as operacões de rescaldo e limpeza após o acidente de Chernobyl, foram utilizados cerca de 300 a 600 mil "voluntários" (tornaram-se oficialmente conhecidos como "liquidators") numa área de 30 km circundante à zona do desastre, de forma a restringir a libertacão de substâncias radioactivas para o ambiente. Algumas centenas destes trabalhadores combateram o fogo imediatamente após a explosão, contando-se uma taxa de mortalidade entre estes de 50 % na primeira década após o acidente. Daqui pergunto-me: dado o sistema político vigente na Ucrânia naquele período da história, foi possível arranjar "voluntários" essenciais para o controlo e restricão do acidente; se o acidente acontecesse hoje em dia numa pacata vila no centro de Franca ou Alemanha, interrogo-me profundamente quantas pessoas encontrariamos dispostas a conscientemente oferecer a sua vida na pira nuclear resultante, de forma a salvar a vida de todos nós, os outros. Ou ainda, imagine-se zonas densamente populadas na Europa central obrigadas a evacuar populacões inteiras recolocadas devido a um acidente nuclear (imagine-se nacões como o Luxemburgo, Bélgica ou Holanda obrigadas a evacuar devido a um acidente). O problema da utilizacão da energia nuclear é de que não deixa margem para erros. Em caso de acidente, as áreas e as populacões afectadas assumem dimensões supra-nacionais.

Tendo isto em consideracão, estou orgulhoso dos exemplos como Portugal e a Noruega que optaram pela abstinência da utilizacão de energia nuclear para fins não-científicos. É pena que muitos outros países, tanto no mundo ocidental como na esfera de países em vias de desenvolvimento, não sigam este exemplo.

P.S.: Já sei que vou ser criticado pela minha opcão anti-nuclear, so bring it on! Uma vez mais, tal como no caso do post referente à aviacão comercial, para mim a solucão prende-se na reducão do consumo e na alteracão dos estilos de vida, mas sintam-se à vontade para escrever comentários...

terça-feira, abril 25, 2006

Liberdades

Nao podia certamente deixar passar este dia em claro!
Ha 32 anos comecava a desenhar-se o que hoje temos em Portugal!
E se para uns foi a concretizacao de um sonho, para outros era o fim.
Hoje, alguns sonhos tornaram-se num pesadelo. Eh claro que que a revolucao nao foi perfeita e o que foi feito pela revolucao, e nome da revolucao, resultou muitas ezes em "aentados" ah propria revolucao.
Por muitas vezes dei por mim a culpar a revolucao pelos males do nosso pais! Nao que considere que a revolucao foi um erro, isso nunca seria capaz de dizer em momento algum, mas porque a revolucao deu cobertura a muita coisa e serviu de desculpa a muitas mais.
Mas se o 25 de Abril de 1974 foi o principio de um sonho, acho que 32 anos depois esta na altura de acordar. Por muito bela que seja a Bela adormecida em sono profundo, ha que acordar e fazer outra revolucao. Nao digo que devemos esquecer o que aconteceu, mas esta na alura de guardar as memorias no sitio certo e partir para uma nova vida!
Eh bonito, o Fado, mas esta na altura de cantar mais alegre, limpar as lagrimas e sorrir, deixar os sonhos e viver a realidade.
Sim, a realidade do nosso pais eh dura, mas pelo menos temos hoje a liberdade de o dizer alto e em bom som, hoje tenho o direito de escrever estas palavras sem medo que eu ou os meus familiares sejam presos e torturados.
E estando na altura de acordar, ninguem melhor que nos para o fazer. Porque nos nao nascemos o sonho, as vivemos o sonho, e ganhamos o vicio de desculpar os fracassos com o sonho!
Acordemos e comecemos a revolucao hoje mesmo!

Quente e frio

Pois nao querem la ver que o meu portatil decidiu meter baixa por problemas na canalizacao e agora nao tenho acentos, nem cedilhas???
E como se tudo isto nao bastasse, quando pensava que depois da tempestade vinha a bonanca... Qual Katrina surgido do Atlantico... Pimbra!!!!!!!!!!!! Mais trabalho ainda.
Mas nao estou aqui hoje para me lamentar da minha vida de estudante/cientista=escravo! Hoje falo-vos de algo que me tem surpreendido nos ultimos tempos e que me deixa com uma pontinha de medo.
Com o tempo a correr tao depressa, e tendo saido de Portugal, terra Mae, ha ja quase um ano, chega a altura de comecar a pensar num regresso merecido para umas ferias.
Depois de um Inverno que os canadianos consideraram muito "simpatico" (apesar de ainda nao ter percebido qual a simpatia de umas valentes semanas com temperaturas a rondar os -20, vento e mais de 30 cm de neve por todo o lado). Mas como ia eu dizendo, depois de findo o Inverno, as coisas aqueceram, o sol despontou forte e quente e as nuvens aparecem uma vez por semana para dizerem que ainda estao vivas.
Conversava com pessoas conhecidas, matava saudades, e ah pergunta do costume (Como eh que esta o tempo?) eu respondia com um satisfeito: Esta quente!
Mas nao querem ver que o meu termometro variou por completo??? Depois de ter ido ah rua fumar um cigarrito em mangas de camisa arregacadas e ter esturrado... Volto ao lab, abro o site da univ... E nao eh que estao apenas 6 graus la fora???
Ora imaginem la como vai ser voltar a Portugal em pleno Verao, 40 graus ah sombra???
E se gordura nao eh coisa que abunda no meu corpito (barriga de cerveja nao conta) rapidamente ficarei frango de churrasco quando chegar a casa!
Alguem tem experiencia no assunto? Aceitam-se sugestoes para sobreviver!

Abraco
Virgilio

segunda-feira, abril 24, 2006

Vida longa vs Vida curta!!!

Desde há séculos que os seres humanos buscam a fonte da vida eterna ou algo que lhes permita prolongar a presença neste planeta! Desde a teoria da conservação do calor corporal de Aristóteles, ao Taoísmo que apela à abstençao do consumo de carne e álcool e a regueração nos comportamentos sexuais, passando pelos extractos especiais de testículos de cães (o que será a especialidade destes!) até ao veneno produzido no intestino grosso a partir da degradação dos alimentos (trabalho publicado pelo Nobel Metchnikov em 1908), muitas teorias e tentativas de prolongar a vida foram e continuam a ser procuradas pelas mais variadas pessoas! Uma das mais famosas buscas pela vida eterna foi a empresa levada acabo pelo Espanhol Ponce de Léon, em busca da árvore (ou da fonte, segundo outros eruditos na matéria) da vida eterna.

Tais tentativas revelaram-se até agora infrutíferas! No entanto tem-se observado um aumento da esperança média de vida, fruto da melhoria das condições de higiéne e, principalmente, dos avanços da medicina!

Fruto de alguns artigos que li nas últimas National Geographic e de um curso sobre cancro a que estou a assistir, puz-me a pensar: "Será que quero ter uma viada longa!?" E daí a este post foi um pequeno passo!

A resposta, por muito que possa espantar o mais comum dos mortais, e até a mim próprio, é não! Olhando para a qualidade de vida das pessoas com 70 ou mais anos, é possível constactar que esta é tudo menos boa! Salvo raras excepções, porque há sempre uma excepção à regra, a grande maioria tem que tomar medicamentos todos os dias, muitos já contrairam cancros (sendo a tendencia para que isto aumente nas próximas gerações), acidentes vasculares também parecem estar ao virar da esquina, já para não falar nas doenças neurodegenerativas e nas dificuldade de locomoção que para além de dificultarem a vida dessas pessoas, também têm um impacto nos filhos ou outros responsáveis por essas pessoas!

Então, que idade gostaria de atingir!? Trata-se de uma pergunta complicada e deveras subjectiva! Mas uma análise rápida à questão levou-me a atingir estas 3 premissas. Antes de mais, sou apologista da teoria de que não compete aos pais enterrar os filhos. Depois não quero ser um fardo para ninguém, portanto ser capaz de ter uma vida mais ou menos normal seria um segundo factor. Terceiro e talvez último, ainda conseguir tirar algum prazer da vida, o que em muitos casos que conheço não acontece!

O que fazer então caso atinja uma idade em que tudo isto se passe? Não faço a mínima ideia! Cada coisa a seu tempo! Agora há que aproveitar a juventude, que a vida são 2 dias...

Cumprimentos,

RC

quarta-feira, abril 19, 2006

Cemitério de namoradas.

Todos os nomes são falsos e os detalhes alterados, de forma a proteger as identidades. As emocões descritas, infelizmente, são reais.

Kristine acabou a relacão comigo porque achava que as nossas personalidades eram incompatíveis. Signe via as nossas diferencas de fundo cultural como um obstáculo intrasponível, para além de se ter mudado para Oslo três semanas depois de termos comecado a sair juntos. Mari mudou-se para a Irlanda depois de cinco meses juntos comigo. Entretanto arranjou um par de sucessores. Jane não queria uma relacão séria. Kaia vivia na Alemanha, e nunca mais a vi. Alex voltou para a Polónia e vive feliz numa relacão estável que tem durado à mais de três anos agora. Helen considerava a distância entre a sua cidade-natal na Dinamarca e o meu local de trabalho em Trondheim como um fardo económico. Inger nunca me respondia aos telefonemas, e quando o fazia era extremamente evasiva. Hilde confessou a sua paixão por mim na última semana antes de voltar para a Alemanha, e embora fosse uma atraccão sobejamente recíproca, falhou por tardar. Kristi rejeitou-me por vivermos no mesmo apartamento - pelo menos essa foi a desculpa oficial. Frederika continua a telefonar-me regularmente, e continua tão simpática como sempre. Entretanto pensa em casar com o seu namorado austríaco, e vivem felizes juntos em Cascais. Birte decidiu acabar o curso de medicina no Brasil e nunca mais me telefonou. Creio que ainda está recentida pela maneira como terminei com ela. Eirin arranjou emprego como observadora internacional na fronteira afegã. Nunca descobri se as minhas suspeitas sobre a maneira como ela me olhava enquanto falávamos escondiam algo mais para além de interesse intelectual. Tine- era Tine ou Stine? - nunca mais telefonou depois daquela noite. Tove era demasiado alta. Turhild j´tinha namorado. Åsa dormia com todos e Vanja só dormia com Jesus. Johanne escreveu-me muitas e longas cartas, mas nunca se atreveu a encontrar-me, mesmo depois das minhas cinco visitas a Gotemburgo para encontrá-la....


Etc, etc, etc, etc...

Quando é que esta história acaba?

Acorda um homem um dia com a ressaca de ter 28 anos e continuar solteiro, solteirissimo, solteirão. Entretanto casaram-se, ou estão a caminho de o fazer, todos os colegas de escola, de curso, de emprego, com algumas raras excepcões. O Manuel, que prefere a sua guitarra aos prazeres ilícitos com o sexo oposto. Ou o João, cujas visitas assíduas ao bordel local satisfazem as necessidades. Ou a Andreia, que muitos não têm a certeza de ser homem ou mulher depois do primeiro encontro. E eu. Naturalmente. Sem saber muito bem porquê, embaracado de me incluir neste grupo.

As noites e os fins-de-semana preenchem-se com idas ao cinema, livros, muitos livros, teatro, internet, e, inevitavelmente, trabalho. E viagens. Sempre sozinho. Uma pessoa habitua-se a ter os seus próprios pensamentos como companhia.

Sexo é algo que se vê na televisão e cuja vida nos premeia muito ocasionalmente, frequentemente associado com alcoól, raramente duas vezes seguidas com a mesma pessoa. Amor está na mesma categoria semântica que conceitos como vida extraterrestre, Sporting campeão europeu e fusão nuclear a frio. Saudade é um luxo precioso, cuja expressão pública confunde-se com stalking. Desilusão é mau perder, tristeza um mal privado. Intimidade, tanto física como emocional, um sonho e uma utopia irrealizável.

Calculo que um terco da minha vida adulta foi perdida em melancolia e tristeza associada a solidão ou desgostos de amor. Com evidentes consequências na vida profissional, para além do desgaste psíquico na vida privada.

Acontece-me frequentemente remeter-me a passeios por paisagens imaginárias, cenários desenterrados da memória, de mãos dadas com os fantasmas que o olvido tomou, em diálogos longos e profundos com os espectros do meu passado. No meu cemitério de namoradas, lajes de côres, cheiros e experiências que não voltarão jamais.

Uma última e única arma resta-me no meu arsenal, para além do cinismo e da indiferenca. Sorrir. Sorrir é a última esperanca e o último consolo. Uma vez perdida a capacidade de sorrir, então já não sobra nada.

:-)

terça-feira, abril 18, 2006

Briosa!

Hoje fui ver um jogo de hoquei no gelo!
Tivemos direito a camisolas da equipa da casa (Edmonton Oilers) que já estavam apurados para os playoffs, mas resolvi retomar uma velha tradição que tanto prazer me dava. É claro que o meu cachecol da Briosa me acompanhou até terras geladas, não por uma questão de frio, mas porque achei que um dia poderia dar jeito à minha/nossa Briosa enquanto ouvisse o relato. Mas como a nossa Briosa até nem se está a portar mal, hoje resolvi levá-lo comigo e ver se as minhas superstições ainda funcionam.
E lá vou eu de cachecol na mão a entrar na arena (como habitualmente) e lá me sento no meu lugar e coloco o cachecol à volta do pescoço (como habitualmente), e ao primeiro apito do jogo enrolo o cachecol à volta do pescoço e sofro o jogo inteiro (como habitualmente).
E não querem ver que os gajos ganharam mesmo?
Sinto falta dos domingos de bola no velhino Calhabé, no Sergio Conceição ou no novo Cidade de Coimbra, rodeado de amigos com as suas superstições, de berrar mais de noventa minutos e de sair de lá com menos uns pesos na minha cabeça. Por muito que falem do ambiente dos jogos de hoquei por aqui, e por muito fanáticos que sejam, nada chega aos calcanhares dos jogos da briosa mesmo ao lado da mancha negra...
Um abraço que agora é tempo de trabalhar!
Virgilio Cadete

segunda-feira, abril 17, 2006

Páscoa na Suécia com sabores portugueses!

Foi a segunda Páscoa que passei na Suécia e pela segunda vez a malta portuguesa reuniu-se num longo almoço!

A Páscoa nunca foi uma altura do ano pela qual desesperasse! Era altura de visitar familia que só se lembra de nós nestas alturas. e que nos recebia com aqueles sorrisos hipócritas e os comentários da praxe! Talvez por isso evito sempre ir a casa nesta altura. Prefiro ficar a trabalhar ou a descansar e ir na altura da queima que me diz muito mais, apesar de cada vez haver menos pessoas com disponibilidade para me fazerem companhia numa noitada a recordar os velhos tempos! As únicas boas recordações da Páscoa eram os doces, as comidas, os cheiros e, claro, as curtas férias!

Pois tanto no ano que passou como neste fim de semana que agora termina, a malta "Tuga" pos mãos à obra e foi capaz de preparar repastos de fazer inveja a muito boa gente. Este ano lá estava o bacalhau e o cabrito que durante anos fizeram parte dos meus almoços de Páscoa. Lá estavam as discussões mais ou menos acaloradas sobre a vida. Lá estava o belo do néctar dos deuses a amolecer-nos. Lá se deu um passeio aproveitando as tréguas que a meteorologia nos deu nesse Domingo de Páscoa, tentando "assentar" a comida para mais tarde se voltar para terminar o que se tinha começado!

É curioso, como num país estrangeiro, com hábitos culinários tão diferentes dos nossos, seja possível encontrarmos todos os ingredientes necessários à preparação destas iguarias!

A todos os que tornam possíveis estes dias o meu muito obrigado!

Cumprimentos,

RC

domingo, abril 16, 2006

Portugal 2-0 Argentina


Ao fim de um ano no Rio de Janeiro fui pela primeira vez ao Corcovado com uma amiga minha que veio visitar-me... Cleia Almeida (a Sónia do último filme do João Canijo: Noite Escura) e encontrámos uns gajos (um Francês e outro Argentino) : naturalmente o futebol surge sempre como mote de uma conversa em que Luís Figo serve de mola impulsionadora à discussão desse mesmo tema... quando se fala de Portugal. Inevitável.

Pois é... quando se fala de Portugal... a principal referência é Figo... mas o que eu não entendi é como é que o Argentino pode dizer que não gosta ( pessimo... pessimo ) do Cristiano Ronaldo e do Deco (!?)...

A respeito deste último o f.d.p. do Argentino disse que não sabe em que posição é que Deco joga (!!!!!!!!)... a posição do Deco no Barcelona chama-se: todo o jogo passa por ele... disse-lhe eu. Sendo o Deco um dos melhores jogadores do mundo nos últimos três anos e a jogar num dos melhores clube do mundo... é estranho um Argentino não saber em que posição joga Deco (inclusive ao lado do novo Maradona: Messi)... quando o f.d.p. do Argentino me falou do Messi eu retorqui: pessimo... pessimo... e o gajo ficou maluco!!!!

Enfim... ao conversarmos sobre outros assuntos comecei a verificar que a cultura geral do f.d.p. do Argentino não era a melhor possível: inconsciência política, desorientação geográfica e desconhecimento das suas origens: como é que um Argentino pode perguntar porque é que na América do Sul só se fala português ou castelhano??? Mas o pior mesmo foi quando eu lhe disse que há 500 anos atrás o mundo praticamente estava dividido em 2 no que diz respeito à expanção marítima acordada entre Portugal e Castela (Espanha): Tratado de Tordesilhas!!!!!

Reacção do f.d. p. do Argentino: Sério!?...

Dá para perceber agora porque não sabia ele em que posição Deco joga no Barcelona...

Despedi-me dele com um desejo e uma fala: Portugal no Mundial depois da fase de grupos vai jogar com o grupo C (Argentina,Holanda, Costa Marfim e Sérvia Montenegro)... e eu espero que jogue com a Argentina e que Portugal ganhe 2-0 golos de Deco e Cristiano Ronaldo...

Vai ser complicado... eu sei... mas não impossível.... mas é só para o f.d.p. do Argentino aprender.
F.d.p. são todos aqueles que dizem mal do Deco e Cristiano Ronaldo...

Vasco Lopes
Rio de Janeiro

quarta-feira, abril 12, 2006

V for Vendetta



Os irmãos Wachowski hão-de ser sempre recordados pelo seu trabalho revolucionário na criacão do universo apresentado na triologia da "Matriz". Pela primeira vez na história do cinema foi-nos apresentada uma versão inspirada no ambiente sci-fi da BD de uma forma totalmente satisfatória até para o mais exigente apreciador de literatura de fantasia. A "Matriz" é uma mescla de épico futurista, visão tecnológica, romance de accão e ensaio de filosofia num só, soberbamente empacotada com os mais avancados efeitos visuais do virar do século XXI. Daí a minha curiosidade em relacão ao seu trabalho seguinte, nomeadamente, "V for Vendetta" ("V de Vinganca" na [feliz] traducão portuguesa).

Mais uma vez partiu-se do imaginário BD. O filme é uma adaptacão da novela gráfica homónima de Alan Moore e David Lloyd (desenhador) publicada originalmente pela editora Quality Comics na Grã-Bretanha entre 1982 e 1988. Na altura em que foi publicada, a história servia o leitor com um ataque directo às políticas conservadoras do governo de Margaret Thatcher. Ao ver o filme, fica-se com a (forte) impressão de que o foco de crítica nesta versão é orientado claramente na direccão da regente administracão norte-americana: a tal ponto que levou a que Moore expressasse o desejo da retirada do seu nome no genérico final. As conotacões e opiniões políticas expressas no filme apresentam um debate entre o neo-conservatorismo versus liberalismo na sociedade norte-americana. Na obra original o autor pretendia que o leitor reflectisse sobre a oposicão entre um estado fascista totalitário e uma sociedade anárquica, e sobre a validade do uso de quaisqueres meios para atingir um fim. A figura do herói era moralmente ambígua e cabia ao leitor julgá-lo: determinar se V era são ou insano, herói ou vilão. V é, sem sombra de dúvida, um terrorista. Na versão cinematográfica, a narrativa acaba por forcar esse julgamento numa direccão favorável a V.

É curioso saber que os irmãos Wachowski escreveram uma primeira versão do script durante a década de ´90, ainda antes de se debrucarem sobre o projecto da "Matriz". Face aos desenvolvimentos mais recentes da histórial, o tema deste filme tornou-se tremendamente actual. O governo fascista representado no filme persegue, encarcera e tortura os imigrantes, os muculmanos e os homossexuais. O tema da liberdade de expressão e da independência dos canais de informacão é exposto através da relacão entre o canal principal BTN e o estado (algumas vozes teceram aqui um paralelo com a relacão entre a Fox News e o governo americano). O uso dos sacos negros na deslocacão de prisioneiros políticos lembra as imagens da base de Guantanamo. O uso de sistemas de vigilância de vídeo para o incremento da seguranca pública atinge um ponto hilariante neste filme quando pensarmos que Londres é a cidade com a maior concentracão destes sistemas no mundo. Tudo isto "for your own protection", segundo os letreiros espalhados pelo país. O maior vilão deste filme acaba por ser, não os dirigentes ou o partido que se senta no poder, mas sim a própria populacão que os colocou lá por forca do medo e do conformismo - mensagem política omnipresente, à la Michael Moore. Eu colocaria este filme na mesma categoria que os recentes "Syriana" e "Good Night and Good Luck", embora se trate de uma ficcão colhida da cultura pop.

A própria escolha dos actores tem um toque de ironia. John Hurt (Chanceler Sutler) interpretou o oprimido Winston Smith na adaptacão de "1984" de Michael Radford; e Natalie Portman (Evey) é americana de ascendência israelita que rapa o cabelo numa cena que evoca os campos de concentracão nazis (Evey personifica uma heroína quase totalmente passiva; ela é os olhos da narracão neste filme). Hugo Weaving (V) empresta a sua presenca física e a sua voz para ditar longos monólogos teatrais quasi-shakespereanos, deixando uma certa impressão de que assistimos a uma versão politizada do "Fantasma da Ópera" de Gaston Leroux. Talvez seja ainda cedo para tecer pontes entre os diversos filmes produtos da imaginacão Wachowskiana, mas entre "V" e "Matriz" encontramos vários pontos em comum: um herói sobre-humano e trágico que oferece a sua vida pelo bem da humanidade (V/Neo); uma heroína secundária com um papel menor mas determinante, com tracos andróginos (Evey/Trinity) e com uma ligacão emocional com o herói que se vai fortalecendo ao longo da história; um cenário futurístico e tecnológico resultado de um acontecimento passado global semi-apocalíptico; uma sociedade reprimida e carente de liberdade individual; a massa anónima da humanidade que anseia por ser libertada, um anseio primeiramente inconsciente e que se vai tornando mais e mais evidenciado com o desenrolar da narrativa. Curiosamente, quase apetece incluir a saga de Star Wars neste grupo - terá sido uma fonte de inspiracão?

Em conclusão, não recomendo este filme para aqueles que pretendem regalar-se com um filme de accão recheado de avancados efeitos especiais e cenas de luta detalhadamente coreografadas. O ritmo do filme é quase teatral. O filme é rico em referências cruzadas, desde Shakespeare a Dumas, e requer uma certa dose de conhecimento contextual histórico/político de forma a se compreender as muitas insinuacões que se escondem no enredo. É um filme intelectualmente rico, embora por vezes moralmente confuso. "V for Vendetta" é uma espécie de versão moderna de "1984" de Orwell apresentada pelo duo de nerds mais enigmático dos últimos anos.

E, independentemente do enredo e à falta de outras desculpas para ir ao cinema, Natalie Portman é a cabeca rapada mais atraente desde Sinnead O´Connor ... ;-)


terça-feira, abril 11, 2006

Impossivel escrever

As minhas desculpas a todos mas foi mesmo impossivel colocar um texto para hoje e durante o dia de hoje sera ainda mais complicado. Se possivel, no final do dia de hoje por aqui (amanha para voces) tentarei escrever.
Mais uma vez as minhas desculpas a todos!
Abracos,
Virgilio

segunda-feira, abril 10, 2006

Quem me dera...

Quem nunca disse, "Quem me dera voltar atrás" ou "soubesse eu o que sei hoje"!?

Este fim de semana, numa das minhas incursões a esse expoente máximo do capitalismo, de seu nome ikea, dei por mim a olhar para os putos! Não, não foi com intenções pedófilas! Foi com inveja!!!

Mas inveja de quê, perguntam vocês!?

Já por várias vezes, quando de visita a sítios como o MacDonalds, onde existem aqueles parques para os miúdos brincarem, tinha sentido inveja dos miúdos! No meu tempo de criança não havia daqueles escorregas, tuneis, brincadeiras! E o pior de tudo é que aquilo é transparente e mesmo não se querendo tem que se olhar!

Mas este fim de semana, o cérebro começou a fervilhar! Imaginem que em vez de andar a brincar às escondidas nos pinhais, como eu e os amigos de infância faziamos, e chegar a casa preto da areia beirã, que a malta se metia no ikea a jogar às escondidas. Mas há melhor sitio! As portas dos armários das cozinhas, os guarda-vestidos, as camas, bem...tanto sítio onde um miudo se pode esconder, tornando o jogo super emotivo!

Depois, já mais calmo, no aconchego do lar, rodeado por mobília de marca ikea, lá meti o dedo na consciência e percebi que não trocava por nada deste mundo os jogos às escondidas nos pinhais, o jogar à bola na terra preta, seca e poeirenta do sol de Agosto, os mergulhos nas valas, o andar a cavalo, o ajudar os avós nas terras, o andar aos ninhos (se bem que hoje seja contra...), o construir de cabanas, o construir de plataformas no cimo das árvores, o jogar às cartas nas plataformas a 20 m do chão!

De facto não trocava isso por nada, mas que gostava de ser criança por um dia num ikea gostava.

Cumprimentos nostálgicos de quem vê o tempo a andar a 100 à hora!

RC

domingo, abril 09, 2006

Sociedade de Consumo


“Nós não compramos simplesmente um cartão de crédito, compramos a forma de vida que está implícita nele”.

Mediante essa premissa pode-se concluir que o imaginário da Sociedade Contemporânea está sensivelmente relacionado ao Consumo e a mecanismos de produção, associação e construção de imagens, mas sinceramente, será possível viver sem estar preso a uma imagem!?…
Creio que não…
Todos os locais que percorremos estão açambarcados de imagens… na paragem do autocarro, no metro, nos prédios, nos restaurantes, na rua, a tv em casa,… enfim… acordamos e vivemos em função dessas imagens… não podemos fechar os olhos. Mas isto é violento… porra. Não é uma violência física, mas sim violência intra-psíquica individual ou mesmo violência social quando a realidade traumática é negada pela Sociedade [a partir do contexto grupal comunitário e de suas instituições]. A falta do reconhecimento desse traumatismo real produz uma violência social enlouquecedora que já virou mercadoria nessa ‘civilização do mal-estar’. Mas enfim… a crítica constante a esse sistema [no qual estamos todos inseridos] propõe uma destruição dessa mesma Sociedade de Consumo, mas creio que neste momento é uma luta que não vale a pena……………….
A falta de perspectiva que define o homem pós-moderno numa economia globalizada, o stress, a construção de imagens, as ideias subversivas da desvalorização da vida humana, o desiquilíbrio mental levam à lógica de consumo. Inevitável e irreversivelmete…
Lá construíram outro shopping…
- Pai, mãe… leva-me ao Fórum Coimbra!
Vasco Lopes
Rio de Janeiro

sábado, abril 08, 2006

Quem não chora, não come?

vou contar-vos um episódio para contextualizar um pouco o assunto que hoje vos trago.
Quando eu era um teenager inconsciente, bateu-me a porta um pedinte! Dizia que tinha fome e não tinha emprego nem dinheiro... Logo lhe foi oferecida a fruta que tínhamos em casa para ajudar uma pessoa obviamente necessitada.
Até emprego lhe foi oferecido: '8h da manha esteja aqui'! Mas quando soube que era para trabalhar na construção civil, logo disse que não era a sua área... (quer fazer carreira como pedinte, pensei eu...) Obviamente, dinheiro foi coisa que não lhe demos!
Lembrei-me disto hoje, quando ia no Metro, para levantar o meu BI na famigerada Loja do Cidadão. Chateia-me ir no Metro, (pouco) descansado da vida e ter de sentir pena do gajo que vai a tocar acordeão e que anda com um menino, dos seus 8 anos, a pedir esmolas aos passageiros do comboio. Provavelmente se lhe oferecesse emprego dir-me-ia que não está interessado em trabalhar. Deve ganhar-se bem a tocar umas gaitadas no Metro. Por isso recuso-me a dar uma esmola aos pedintes, a menos que me esteja a incomodar o peso das moedas!
Pode parecer um pouco insensível da minha parte, mas se por um lado há pessoas a quem a vida simplesmente não sorriu e que nunca tiveram possibilidades para conseguir melhor vida, por outro lado há muito homenzinho por aí, com bom corpo para trabalhar, e que preferem dedicar-se à vida de mendigo.
Revolta-me que depois vá ao Supermercado e veja ciganas a ameaçar os seguranças que "quando saíres daqui vais ver o que te espera lá fora" simplesmente porque o homem fazia o seu trabalho - garantir que toda a gente se comportava de forma civilizada e mais ou menos ordeira. Provavelmente foi a esmola do agente da Securitas que pagou o pacote de arroz que a mulher levava na mão e que certamente seria o jantar para ela e para a criança que levava no braço.
Que Mundo este.

terça-feira, abril 04, 2006

Grounded!

Lembro-me que, há dois anos atrás, um dos meus supervisores preparava uma viagem a Praga com o objectivo de participar numa conferência a decorrer nessa cidade. Como meio de transporte, decidiu-se a tomar um comboio. Interroguei-o então sobre a possibilidade utilizar avião, como alternativa mais rápida e mais barata. A resposta que ele me deu alertou-me para um problema sobre o qual nunca antes tinha empregado a devida atencão: o impacto ecológico da aviacão moderna e a expansão comercial do seu uso.

Durante muitas décadas, a aviacão destinava-se a uso exclusivamente militar ou científico. Mais tarde, desenvolveu-se a aviacão comercial e no princípio esta era restringida aos bolsos mais abastados da sociedade. Mas com os desenvolvimentos tecnológicos e económicos das últimas décadas, voar tornou-se bastante acessível para a classe média ocidental. Especialmente nos últimos anos, com o aparecimento e desenvolvimento das viagens de baixo custo por parte de empresas como a Ryan Air, por exemplo, tornou-se uma pechincha viajar para qualquer parte do continente a precos impensados uns anos atrás. Aos precos que se praticam hoje em dia, pode-se dizer que é mais barato ir para o outro canto da Europa, quando planeada a viagem com antecedência, do que uma curta deslocacão de automóvel dentro do seu próprio país.

Mas alguma vez pensaram na quantidade de combustível que um 747 consome por cada deslocagem? Ou no impacto ambiental dos gases de estufa libertados por um jacto na alta atmosfera?

Não é minha intencão neste post expôr dados de quanto é que um avião comercial consome em combustível e que quantidades de poluentes este liberta. Mas asseguro-vos que é industrial. Não tenho tempo agora para confirmar factos na net, mas ouco uma voz no fundo da minha memória a gritar um número: que uma viagem de avião de Londres a Nova York liberta o equivalente em poluentes à mesma distância percorrida de automóvel quarenta vezes (por passageiro!)!. [Ver os seguintes links: 1, 2, 3, 4, 5]

Os últimos invernos escandinavos têm sido extraordinariamente quentes. Amigos em Svalbard (ilha norueguesa situada a 78 graus de latitude norte) queixam-se dos problemas climáticos nos pólos. A populacão de ursos polares encontra-se ameacada com o derretimento das calotes polares. Os efeitos climáticos em latitudes mais baixas também já comecam a notar-se de uma forma mais acentuada: basta recordar as catástrofes naturais que se viveram este ano no sul dos EUA com ciclones tropicais a tornarem-se cada vez mais frequentes. A temperatura global do planeta está a aumentar e com a explosão económica de novos mercados, como a China, apenas aumentará a emissão de maior quantidade de gases poluentes atmosféricos. Para piorar, há o desprezo por parte dos EUA, o maior contribuinte na emissão de gases com efeitos de estufa, do protocolo de Kyoto.

Para além do impacto ambiental, existe também o problema do combustível. Afinal de contas, o querosene é um derivado do petróleo, que, como todos sabem, é uma fonte de energia não-renovável. Recentemente li uma reportagem dada pelo primeiro-ministro sueco Göran Persson sobre a sua política ambiental corrente. Um dos maiores focos políticos do governo sueco actual é o planeamento da substituicão do uso do petróleo como matéria-prima vital na economia sueca. Segundo Persson, depois de várias reuniões com os responsáveis das maiores empresas suecas e especialistas de vários campos tecnológicos, a aviacão, utilizando a tecnologia actual, pode dar-se como extinta após o esgotamento das reservas petrolíferas a nível planetário. Não existe alternativa tecnológica ao uso do petróleo como combustível na aviacão moderna.

A nível pessoal, viajar é um dos meus maiores prazeres. E dadas as exigências impostas pelo dever profissional, convém viajar depressa e barato. Mas quando tomo em consideracão os custos ambientais, se calhar é melhor planear melhor as minhas viagens e escolher outros meios de transporte. Às vezes é preciso fazer pequenos sacrifícios pessoais para se obter uma sociedade melhor e mais saudável. E é a partir destes pequenos esforcos individuais e da consciêncializacão global destes factos que se pode reverter um cenário global futuro catastrófico.

Os do costume

Velhos hábitos são dificeis de perder! E muitas vezes pela manhã lá vou eu ao Macs (loja de conveniencia aberta 24/7) e a frase que mais disse nos ultimos dias foi:
- Can I get a pack of Dunhil please?
E lá pagava os 10 dólares e qualquer coisa.
Mas como por aqui sabem todos ao mesmo (sim, para os fumadores que me compreendem, o tabaco é todo feito no Canadá e sabe todo ao mesmo, só muda a marca e o tamanho) e arranjo a mesma quantidade por um preço mais barato, na sexta resolvi mudar:
- Can I get a pack of Canadian Classics, king size?
E de repente fiquei surpreendido:
- No Dunhil today?
Não é que eu seja mesmo cliente habitual, não é que seja mais simpático que noutros sítios onde regularmente vou, mas este comentário fez com que hoje lá voltasse pela manhã e tivesse uma vontade enorme de dizer:
- Por favor, o habitual! Como tantas vezes dizia em Coimbra ou na Pampilhosa, nos locais habituais, aos empregados habituais.
Parece que aos poucos começo a sentir esta cidade como minha também, e por vezes dou por mim a falar português com as pessoas habituais que fazem uma cara estranha pois não percebem o que digo.
E apesar de me sentir cada vez mais à vontade por aqui, sinto-me cada vez mais português, orgulhosamente português!
Abraço donde a neve já parece uma miragem!
Virgilio

segunda-feira, abril 03, 2006

Rábula de uma lei!

Era uma vez um país no qual os seus governantes, como têm muito tempo livre, resolviam perder tempo a aprovar leis sem que depois realizassem as necessárias diligências para que constatar se estas estariam ou não a ser aprovadas!

Surge esta estória a propósito de lei que proibiu a venda de tabaco a menores de 16 anos. Poderá o leitor pensar que é óbvio que seja proibido vender tabaco a menores, por todos os malefícios que este provoca, mas o que é certo é que, fruto de pressões internacionais (leia-se directivas comunitárias), foi necessário proibir o que já devia ser proibido há muitos anos! Mas a estória é bem mais complexa! A discussão desta lei começou na anterior legislatura, dirigida então por um consumidor regular de fumo passivo em locais de diversão nocturnos. Falou-se que iriamos seguir os (bons) exemplos nórdicos e proibir o fumo em locais público. No final, já com um novo governo, proibiu-se apenas o fumo no local de trabalho e a proibição da sua venda a menores de 16! Pelo meio, quando ainda se discutia a aplicação da lei a todos os recintos públicos, ainda surgiu um ministro da saúde a dizer que não se iria aumentar a fiscalização, contando com o bom senso de todos para que a lei fosse cumprida! Como não foi aprovada esta proibição, não foi preciso recorrer ao bom senso de todos...

Mas o que aconteceu de facto!? O Zé Manel (nome fictício de um dos muitos trabalhadores da noite) sente-se desrespeitado pois o governo não o considerou trabalhador. Enquanto inalava o fumo do seu cigarro com sabor a mentol, o Zé explicou que o governo ao proibir o fumo no trabalho, não o proibiu no local onde ele trabalha! Queixa-se o Zé Manel que devido ao fumo não consegue ver bem as miudas aos saltos na pista de dança, já que o bar dista uns quantos metros desta! "Imaginem se tivéssemos daquelas coisas que deitam fumo com cheiro a baunilha! Aí nem os decotes ao balcão eu conseguia ver!" "Mas então eu não sou considerado trabalhador para que o fumo não seja proibido no meu local de trabalho!?"

Mas passando áqueles a quem a lei foi de facto dirigida, escutámos a opinião de um grupo de amigos que desgustavam um mesmo cigarro, que ia rodando de mão em mão lá no jardim do bairro! Com voz de quem ainda não habituou os pulmões ao fumo, todos dizem que não sabiam da lei, mas que normalmente nem se dirigem a uma loja para comprar tabaco! Diz o Packo, ali à entrada do café há uma máquina. Põe-se o dinheiro e o maço sai!

Pois foi, aprovou-se uma lei que proibe a venda de tabaco a menores de 16, mas não se retiraram as máquinas de moedas que estão acessíveis um pouco por todo lado. Ou não se retirando as máquinas de moedas, poderiam imitar outros países civilizados e obrigar o cliente a ir ao balcão comprar a ficha para a máquina, ficando forçado, em caso de dúvida do vendedor, a mostrar a identificação para comprovar a idade!

A Nocas, 14 anos, não está nada preocupada com a lei. Primeiro, no local onde costuma comprar o tabaco nunca lhe pediram identificação. Depois, se tal acontecesse, podia sempre pedir a alguém mais velho para lho comprar. "Os portugueses são um povo muito solidário, refere para reforçar a ideia!"

E assim vai este país. Seja debaixo do fumo de uma beata mal apagada ou do fumo dos incêndios, o povo parece que já não consegue viver sem o fumo, sendo ou não fumador! E entretanto continuam-se a aprovar leis apenas para se mostrar que se está activo!

Cumprimentos de um local onde até para comprar álcool já tive que mostrar ID,

RC

domingo, abril 02, 2006

O desejo do Outro




Em Fight Club, David Fincher (1999) as referências a Freud são inúmeras mas a diretriz principal seguida pelo filme é a dualidade do ser humano, entre as forças do inconsciente e a razão. A própria descrição de Tyler (alter ego) feita pelo narrador (protagonista) reforça essa afiguração dual do Outro. Tyler é responsável pela montagem de filmes a serem exibidos nos cinemas. No entanto, ele não faz o seu trabalho de forma convencional: entre uma cena e outra de um filme infantil, ele coloca fotogramas de órgãos genitais masculinos. Essa é uma clara metáfora sobre o subconsciente e seu papel nos sonhos. "Enquanto todos dormem, ele trabalha", (sonhos diurnos de Mascarello e Freud), diz o personagem de Norton, voice over.

Assim, o cinema seria comparável ao sonho e Tyler, ao subconsciente. Na teoria psicanalítica freudiana, o sonho seria o meio encontrado para o subconsciente se expressar. Além disso, o sexo (bem presente em várias sequências) e suas representações são o pilar fundamental de todas as neuroses e problemas psiquiátricos do ser humano. Tyler representa uma válvula de escape (fantasma) para o personagem sem nome interpretado por Norton. O relacionamento entre eles vai se estreitando, principalmente após o apartamento de Norton ir pelos ares. Na obra de Freud (O poeta e os sonhos diurnos , 1908) há um exemplo-chave que vai analisar o jogo infantil como analogia do fantasma, o famoso jogo do carrinho: a criança pequena tem um carrinho atado a um fio e atira-o fora do berço e volta a recolhê-lo. Um jogo repetitivo: quando atira o carrinho diz fort (fora) e quando o recolhe da (aqui).

A criança manifesta um verdadeiro regozijo perante este jogo a respeito do qual Freud vai dizer que a criança nao joga sozinha e que à partida se joga com o Outro materno. Este jogo está em reacção com a ausência da mãe, é com esta ausência com a qual a criança joga, joga com um Outro domesticado até ao ponto que se pode identificar com o carrinho mesmo. É neste conflito que o protagonista do filme em análise se encontra. Ele evoca um Outro Eu porque sentirá, necessariamente, a falta do anjo tutelar e maternal de figura feminina (Marla Singer). Devido aos actos-falhados não resolvidos ele terá de se auto-figurar numa afiguração idealizada na sua realidade (psíquica) e criar outra imagem (fantasma) de forma a satisfazer as suas necessidades e resolver os seus complexos. Acontece que, depois de tanto brincar com o seu amigo imaginário (fort-da) vezes consecutivas, ele próprio se emaranhou na fantasmagoria criada por si e criou mesmo outra pessoa (dualidade personificativa).
O protagonista joga com a ausência de um vulto feminino ( a mãe não aparece, mas aparece Bob com seios gigantescos e Marla, com quem somente o seu alter ego consegue relaccionar-se sexualmente), assim como a criança joga com a ausência da mãe, ausência que se faz presente do seu desejo; quando nao está, não se pode perguntar a que se deve essa ausência, mas sim qual é o seu desejo (?). Na angústia suscitada pelo enigma do desejo (evocação) do Outro materno a criança produz essa maquinação do Fort-Da.

Trata-se de domesticar esse desejo do Outro que suscita angústia e obter a partir desse fundo de angústia um prazer através da sua maquinação lúdica. O que ilustra este jogo é generalizado ao fantasma: o fantasma é uma máquina que se põe em jogo quando se manifesta o desejo do Outro (imagens subliminares em Fight Club - evocação), uma máquina destinada a proteger-se da angústia e coordenando o gozo ao prazer.


O fantasma desencadeia-se, portanto, quando encontramos uma falta do Outro, uma falta de significante que responda qual é o seu desejo (?). Perante este enigma do desejo do Outro a resposta é o fantasma. Ora, é sob esta conjuntura teórica que Fight Club, David Fincher (1999) se vai debruçar. É pelo desejo do outro (na sua realidade psíquica) que o protagonista vai evocar um alter ego que se manifesta em forma de imagens subliminares no inicio do filme: antes de Tyler Durden (o Outro) surgir em cena, a sua evocação é feita através do dispositivo técnico de 4 fotogramas isolados inseridos no decorrer do filme, tendo como intencionalidade expressiva o desejo pelo Outro. É isso que vemos.
Estas imagens inseridas no filme vão produzir mediação e rematerializar um mundo desaparecido, não só porque os fantasmas entram no mundo dos vivos através do aparelhos mediáticos ( no próprio filme -ficção dentro da ficção- Tyler Durden é projeccionista “ o circulozinho à direita quer dizer que se vai mudar de bobine” e ele coloca um fotograma pornográfico na mudança de bobines em filmes infantis e “o público não se apercebe”), mas principalmente porque são essas imagens subliminares (memórias/evocações) que nos transtornam no filme. Apesar desse efeito traduzir bem o que vive o personagem principal que está o tempo todo como que preso num sonho, dizendo o tempo todo que não sabe o que é real; isso tudo, o tempo todo, as imagens incomodam o leitor e deixa a leitura ser desconfortável. Não que isso seja uma desvantagem. É claro que não.
Vasco Lopes, Rio de janerio