Chernobyl - 20 anos depois.
Hoje faz-se 20 anos desde o maior acidente nuclear da história da utilizacão pacífica da energia nuclear. Aconteceu à 1:23 (hora local) de 26 de Abril de 1986, no ano horribilis da tecnologia científica (o desastre da Challenger aconteceu a 28 de Janeiro do mesmo ano). O reactor número 4 da central de Chernobyl explodiu após uma série de testes de capacidade levada a cabo pelos técnicos da central, levando à fusão do cerne nuclear no reactor. Com a explosão do reactor, grandes quantidades de material radioactivo foram libertadas para a atmosfera e estas partículas espalharam-se sobre a União Soviética (principalmente Ucrânia, Bielo-Rússia e Rússia), Europa de Leste e Europa Ocidental, Escandinávia e as ilhas Britânicas. O acidente levou ao evacuamento e/ou transferência de 336 mil pessoas dentro das repúblicas soviéticas. 56 mortes foram atribuídas directamente ao desastre (47 trabalhadores no acidente, mais 9 criancas vítimas de cancro na tiróide, devido à acumulacão de iodo radiactivo). No entanto, esudos da IAEA (International Atomic Energy Agency) e da WHO (World Health Organization) apontam para um total de entre 4000 a 9000 fatalidades associadas à exposicão a níveis elevados de radiacão nos anos que se seguiram ao acidente. A organizacão ecologista internacional Greenpeace eleva este número até aos 93 mil. Hoje em dia encontram-se vilas e cidades inteiras nas imediacões de Chernobyl quase completamente desertas como consequência do acidente. De acordo com a IAEA, a quantidade de radiacão libertada durante o desastre de Chernobyl corresponde a 400 vezes a libertada na explosão de Hiroshima em 1945 [1].
A lista de acidentes associados à utilizacão de energia nuclear, quer militar ou civil, é extensa (muito extensa! Por favor, vejam as referências 1, 2 e 3), salientando-se os exemplos mais conhecidos como os de Chernobyl (1986), Three Miles Island(1979) e o acidente de Goiânia (1987). Desde o acidente de Three Miles Island que os EUA congelaram os seus planos de construcão de centrais nucleares até ao presente, embora esta atitude governamental se encontre actualmente sob revisão devido à política energética da administracão actual.
Com este post gostaria de suscitar reflexão sobre o preco que pagamos pela producão de energia eléctrica atravès do uso de energia nuclear. É certo que este tipo de energia é quase "limpa" quando comparada com as emissões de gases poluentes provenientes de outras fontes de energia dependentes da queima de combustíveis fósseis. E que é quase inesgotável. Mas os custo de apenas um único acidente são exorbitantes. Durante as operacões de rescaldo e limpeza após o acidente de Chernobyl, foram utilizados cerca de 300 a 600 mil "voluntários" (tornaram-se oficialmente conhecidos como "liquidators") numa área de 30 km circundante à zona do desastre, de forma a restringir a libertacão de substâncias radioactivas para o ambiente. Algumas centenas destes trabalhadores combateram o fogo imediatamente após a explosão, contando-se uma taxa de mortalidade entre estes de 50 % na primeira década após o acidente. Daqui pergunto-me: dado o sistema político vigente na Ucrânia naquele período da história, foi possível arranjar "voluntários" essenciais para o controlo e restricão do acidente; se o acidente acontecesse hoje em dia numa pacata vila no centro de Franca ou Alemanha, interrogo-me profundamente quantas pessoas encontrariamos dispostas a conscientemente oferecer a sua vida na pira nuclear resultante, de forma a salvar a vida de todos nós, os outros. Ou ainda, imagine-se zonas densamente populadas na Europa central obrigadas a evacuar populacões inteiras recolocadas devido a um acidente nuclear (imagine-se nacões como o Luxemburgo, Bélgica ou Holanda obrigadas a evacuar devido a um acidente). O problema da utilizacão da energia nuclear é de que não deixa margem para erros. Em caso de acidente, as áreas e as populacões afectadas assumem dimensões supra-nacionais.
Tendo isto em consideracão, estou orgulhoso dos exemplos como Portugal e a Noruega que optaram pela abstinência da utilizacão de energia nuclear para fins não-científicos. É pena que muitos outros países, tanto no mundo ocidental como na esfera de países em vias de desenvolvimento, não sigam este exemplo.
P.S.: Já sei que vou ser criticado pela minha opcão anti-nuclear, so bring it on! Uma vez mais, tal como no caso do post referente à aviacão comercial, para mim a solucão prende-se na reducão do consumo e na alteracão dos estilos de vida, mas sintam-se à vontade para escrever comentários...