De volta à idade média (II)!
Hoje ouvi duas notícias no telejornal local que me deixaram perplexos e a pensar em que sentido é que a sociedade internacional actual está a (des)evoluir. Ora aqui estão elas:
1. Há 5 anos atrás sucumbiram 71 pessoas num trágico acidente aéreo sobre Überlingen na Alemanha, a maior parte criancas e adolescentes, quando dois aviões colidiram no céu no dia 2 de Julho de 2002. Rapidamente se descobriu que foi devido a um erro dos controladores aéreos do aeroporto de Zurique, que por motivos de manutencão, estavam reduzidos a apenas um controlador activo naquela mesma noite. Segundo testemunhos na altura do acidente, o controlador aéreo caiu imediatamente em depressão e abandonou o emprego. O controlador, o dinamarquês Peter Nielsen, foi depois assassinado à facáda em sua casa em frente à sua família pelo marido e pai de três das vítimas no acidente, o arquitecto russo Vitalij Kalojev, dois anos depois do acidente. Kalojev foi sentenciado a oito anos de cadeia, mas foi liberto em Novembro de 2007, depois de 5 anos e meio da sua sentanca, por bom comportamento. Aquando da sua chegada ao aeroporto de Moscovo, Kalojev foi homenageado e recebido como herói por uma multidão, empunhando cartazes onde se lia "Tu és um verdadeiro homem, Nalojev!", devido à sua facanha de vinganca. Hoje foi conhecido na imprensa internacional, que Nalojev aceitou o emprego como vice-ministro da construccão civil na república russa da Norte-Ossétia, no Caucaso, isto depois de uma chuva de várias centenas de ofertas de emprego na região.
Comentário: Que a família do tal Nalojev tenha morrido no acidente aéreo é uma tragédia, nisso estamos todos de acordo! Que o homem se tenha descontrolado e morto o controlador aéreo, que tanto se sabe, agiu de boa fé na noite do acidente, é ainda outra tragédia. Acto de desvairo e irracionalidade, mas compreensível. Agora que uma multidão inteira o veja como herói, isto sim, é uma barbaridade à moda da idade média!!!
2. Hoje o novo papa Benedicto XVI presidiu uma liturgia onde foram baptizadas 13 criancas. Quanto a isto, nada de novo. Aquilo que foi diferente nesta missa foi o facto de o papa ter readoptado a tradicão anterior ao Concílio Vaticano II iniciado na década de '60, isto é, parte da missa foi dada em latim e com o sacerdote virado para o altar, em vez de estar virado para a multidão, como é costume corrente actual.
Comentário: os argumentos que defendem o uso do latim são, quanto a mim, tremendamente frágeis. As cópias preservadas do Antigo Testamento estão escritas em diferentes dialectos do Hebreu antigo e o Novo Testamento está escrito originalmente em grego ou aramaico, segundo a opinião (dividida) dos especialistas. A adopcão do latim como língua oficial da religião cristã católica romana prende-se mais com razões histórico-políticas do que em qualquer razão sustentada pela própria Bíblia. O uso do latim suportava-se pela necessidade do uso de uma língua universal e unificadora por altura do auge do Império Romano, mas desde da dissolucão deste, que o uso do latim serviu mais como entrave para a compreensão da Bíblia por parte do povo do que o da dispersão e compreensão da palavra divina. O próprio costume simbólico de dar a missa virado para a multidão tem (tinha?) como funcão o de comunicar a palavra de Deus e abrir uma linha de diálogo entre a divindade e os Seus seguidores. Com o virar do pastor em direccão ao Altíssimo, vira-se as costas ao homem e o papel dos crentes passa a ser, simbolicamente, o de meros adoradores e submissos em relacão ao divino. Mais uma vez, à moda da Idade Média!!!
;-)
Paulo