Um dos problemas que mais ouco falar entre emigrantes/imigrantes portugueses (e não só) além fronteiras é o problema da integracão nos países nos quais presentemente vivem. Costumo encontrar atitudes variadas por parte destes, dos quais se destacam talvez três grandes grupos:
- aqueles que vêm o país em que residem como apenas uma solucão temporária, e talvez por isso mantêm uma atitude distanciada e de "turista" em relacão à sociedade em que se encontram; alguns aprendem a lingua apenas por mera curiosidade, mas a maioria não o faz; continuam a ler a imprensa nacional do país de origem e o círculo social com que se relacionam é maioritariamente outros estrangeiros na mesma situacão, embora não necessariamente compatriotas;
- aqueles que vêm a sua situacão como algo permanente, os verdadeiros emigrantes/imigrantes que vêm a presente situacão como uma solucão a longo prazo, mas mantendo no entanto a sua identidade nacional e reforcando-o, por vezes a um ponto extremo e até ridículo em certos casos; quando se visita a casa de um individuo de este grupo sente-se que se encontra numa embaixada do pais de origem os jornais e a TV são a do país de origem, a bandeira e outros simbolos nacionais encontram-se permanentemente presentes no cenário e estes individuos sentem grande orgulho nos feitos e cultura do seu país de origem. Geralmente cultivam (fortes) relacões sociais com os compatriotas na mesma situacão. A atitude em relacão ao país de acolhimento é mais intima do que a do grupo anterior, mas a distincão entre o "nós" (compatriotas) e "eles" (locais) é demarcada e o fosso existe. Geralmente acabam por se casar com outros compatriotas ou estrangeiros na mesma situacão. Por vezes aprendem a língua, por vezes a custo e por razões práticas, mas não há grande interesse em explorar a cultura local ao mesmo nível da nacão de origem. Geralmente mantém estes indivíduos uma actualizacão da realidade nacional do país de origem contínua.
- o terceiro grupo é um grupo peculiar: são aqueles que adoptaram o país de acolhimento como a sua nova nacionalidade e que cortaram, em diferentes graus de intensidade, os lacos com o pais materno. Estes aprendem a lingua local relativamente rápido, adoptam os costumes locais, estabelecem lacos sociais com os locais e identificam-se com membros deste novo grupo. Geralmente casam-se com os locais e os filhos aprendem a lingua local como lingua materna. Embora a assimilacão seja rápida e profunda, vivem o resto na vida num limbo de "nem-carne-nem-peixe" cultural com um pé no passado e outro no presente. Uma visita ao lar destes não revelaria ascendencia estrangeira, com um ou outro ocasional traco do pais de origem, quer em livros, revistas, filmes ou uma bandeira algures num canto da casa.
Não é a primeira vez que escrevo sobre este assunto, o tema não é novidade. Mas aquilo que é talvez novo neste posto é a abordagem deste tema do ponto de vista da solidão. Dos três grupos acima referenciados, aquele que considero mais sujeito ao perigo da solidão é o segundo. Os membros do primeiro grupo podem-se sentir temporariamente solitários, mas encaram a sua situacão como temporária e consolam-se com a ideia de voltar ao país de origem um dia no futuro. O terceiro grupo pode passar por um periodo de adaptacão de um ou dois anos em que lhes é dificil encontrar amigos, mas inevitavelmente acaba-se por se integrar na sociedade local. Em relacão ao segundo, é mais dificil. Os locais são estranhos e distantes porque não compreendem as nossas necessidades e os nossos pontos de vista, os compatriotas são poucos e estão geralmente ocupados com o seu trabalho e as suas famílias. Muitas noites se passam na reflexão do "o que é que eu estou a fazer aqui? para onde vai a minha vida? vale a pena?" e frequentemente se passam uns serões na companhia de um livro ou ao telefone com a família.
Os factores que considero de maior peso para a integracão são os linguísticos e os de interesses comuns. Abrem-de muitas portas com o dominio da lingua. E se uma pessoa é fan de cinema, por exemplo, compensa juntar-se ao clube local de cinema, por exemplo, e encontrar pessoas que se interessam vivamente pelos nossos pontos de vista em relacão ao tema em comum, independentemente da nossa nacionalidade de origem.
;-)
Paulo.