segunda-feira, novembro 26, 2007

Até amanhã...

Nesta vida de deslocado há uma situação com a qual cedo aprendemos a ter que lidar. A despedida, o adeus, o até breve... Quase todos os dias novas pessoas nos são dadas a conhecer. Destas, há aquelas com quem imediatamente, mesmo antes de dizermos o nome, sentimos uma empatia inexplicável. Depois há aqueles que vamos conhecendo e sem darmos por ela, cria-se uma relação profunda de amizade. Depois há a maioria, talvez 90% ou mais, que não passam de amigos de circunstância, pessoas que quis o destino que os caminhos se aproximassem mas não se cruzassem.

O que custa mais é quando chega a hora de dizer adeus. Seja uma amizade de 2 anos ou de 2 semanas, tenta-se sempre passar o máximo tempo possível juntos, beber uns copos, mandar umas piadas, rir, pois são as imagens dos últimos momentos juntos que vamos guardar nos tempos que se seguirão à partida.

Foram-se no último mês dois destes amigos. A rota deles, infelizmente seguiu outro caminho e a despedida teve que acontecer. Foram 2 anos num caso e 2 semanas no outro de um pouco de tudo. Rimos, conversámos, falámos, dançámos, discutimos, viajámos, passeámos...Mas no final, fica aquele olhar, o cumprimento, aquele sentimento de que nos vamos encontrar outra vez e que a esfera pessoal ficou naquele instante mais pobre, não por se ter perdido uma amizade, apenas porque ela já ali não está ao virar da esquina!

Por isso, a todos os amigos que estão longe deixo um "Até Amanhã..."

Conheci nestes já 4 anos de vida fora de portas dezenas de pessoas.

domingo, novembro 25, 2007

História de T.

T. é provavelmente a mulher fisicamente mais forte que alguma vez conheci. T. tem 1,72 e pesa 67 kg, apesar de já ter pesado 76 kg aquando do topo da sua carreira de esquiadora de slalom super-G, à uns anos atrás. T. nasceu em Narvik, a cidade que deu a conhecer ao mundo a primeira derrota do exército de super-homens da Wehrmacht. T. foi campeã nacional de esqui slalom super-G duas vezes. T. é uma sorridente norueguesa de 25 anos, de macãs do rosto salientes e fortes, corpo enrijecido e hiperactiva por natureza. T. dorme hoje à noite nos meus bracos, enquanto o vento sopra forte lá fora e a neve cobre o mundo de brancura, uma vez mais. T. é forte, mas vulnerável, aqui e agora, um corpo inerte e quente, macio, inconsciente, distante. T. muda-se para Oslo daqui a uns meses, mas este pormenor é-me ainda desconhecido.

Quando a encontrei sobre a ponte nova da cidade, T. acolheu-me literalmente de bracos abertos, mas isso foi no inicio da noite, pouco mais que uma hora após a meia-noite de sábado. Uma garrafa de vodka ucraniano e duas cervejas depois, estamos os dois de bracos dados a caminho de sua casa, um velho edifício de dois andares de madeira, caiado de amarelo. T. é-me ainda estranha por esta altura da noite, mas é persuasiva e sedutora, num convite prenunciado à porta do tal casarão amarelo. T. não quer dormir sozinha, T. está farta da vida de solteira, das bebedeiras, do enfado e da homogeneidade da vida nocturna, da solidão e do entediamento.

Umas horas depois, pela madrugada tardia do outono, acordo com o som da TV, emissão desportiva de domingo, estafeta de esqui nórdico primeiro e Taca do Mundo de Slalom no Canadá. T. conta-me acerca da sua carreira como esquiadora de alta competicão, das sessões infindáveis de treino, das poucas lesões e das quedas acima dos 120 km/hora, dos acordares no hospital horas depois. T. conta-me dos sonhos de fugir daqui, da nova vida que a espera em Oslo daqui a pouco. T. pergunta-me se a quero ver uma vez mais antes da fuga para o sul.

T. e eu vamos juntos à mercearia local comprar leite e tomamos o pequeno-almoco na casa de uma amiga comum. Quando saio porta fora a meio da tarde de domingo, caminho em direccão a casa bem consciente de que vou ter saudades de T., provavelmente muitas, que vou passar umas noites de telemóvel na mão, na esperanca de uma mensagem oportuna. À espera de uma mensagem que nunca receberei. Quando saio pela porta fora da casa da amiga, e quando T. uma vez mais me rodeia com os seus bracos musculados, estou bem consciente de que esta é a ultima vez que vejo T., uma mulher forte mas sensível, cheia de sonhos e de esperancas de uma vida diferente, dum enredo no qual não faco parte do cenário.

Sobra a brancura virginal da neve recèm caída, imprimem-se os meus passos enquanto caminho, num momento, apenas, interrompidos, até que o nevoeiro e eu nos tormemos um só, uma vez mais, até que novos flocos de neve apaguem a minha passagem por esta paisagem...

quarta-feira, novembro 21, 2007

Michael Moore e o Reino Utópico da Noruega!

Este vídeo no You Tube retirado da versão em DVD do filme "Sicko" de Michael Moore tem criado muitas gargalhadas no meu local de trabalho aqui em Trondheim.

Retrato de Michael Moore da Noruega aqui.

segunda-feira, novembro 12, 2007

Paul Potts

Já tinha visto este vídeo há uns meses, e na altura fiquei simplesmente sem palavras. Hoje voltei a vê-lo e...tremi por dentro.

Uma voz fantástica associada ao facto de uma pessoa simples ter cumprido um sonho, só nos pode dar que pensar que a concretização dos nossos sonhos pessoais só depende de nós próprios!

Cumprimentos

sexta-feira, novembro 09, 2007

Cedo cai a neve...



Cedo vai a neve sobre as colinas que se estendem imponentes defronte da minha janela. E o sol brilha, esporadicamente, timidamente, entre as nuvens que o permitem, entre espacos. Já à quatro longas semanas que o sol não brilhava sobre o fjorde de Trondheim, e comeca-se a notar efeitos nos espíritos e no humor dos locais. Dois dos meus colegas de trabalho (ambos provenientes originalmente de latitudes mais mediterrânicas) estão sob baixa médica e sob o efeito de antidepressivos. Uma terceira vítima das intempéries sazonais descreve o outono setentrional norueguês como "as if I was PMS for the whole three months of autumn" (PMS = pre-menstrual syndrome, Síndroma pré-Menstrual).

Curiosamente, com a chegada do expoente do Inverno, a neve, animam-se os espíritos e as pessoas parecem estar mais felizes. Com a brancura e o silêncio que acompanham a caída da neve, abate-se sob a cidade um clima de animosidade, um suspiro de alívio colectivo que atinge todos e cada um de nós de um modo muito pessoal. Para mim, e para muitos de nós, é a chegada da época de ski e outros desportos de inverno, e o prazer de longas caminhadas de ski de fundo nas montanhas e vales da Noruega, quer sozinho quer acompanhado. Definitivamente, o país resplandece fortemente aquando dos picos das estacões opostas, no Verão e no Inverno. A Primavera, e especialmente o Outono, atingem Trøndelag como os primos mais desfavorecidos entre as estacões do ano. A neve que cobre toda a nacão nos meados de Dezembro acrescentam definitivamente um toque de magia à existência nórdica. E eu, por agora, calco as minhas botas de montanha e preparo-me para uma curta caminhada pela neve sozinho na tarde que se avizinha.

:-)
Paulo